Buenos Aires, Argentina, 6/7/2012 – Os investimentos estrangeiros diretos devem estar dirigidos especialmente ao desenvolvimento sustentável dos países receptores, afirmou a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) ao apresentar, ontem, seu informe anual. “É uma mudança de visão. Defende-se uma nova geração de políticas de investimento que não se preocupem apenas por atraí-lo, mas também em maximizar os efeitos esperados”, disse à IPS o economista argentino Fernando Porta.
Este acadêmico do Centro Redes de Pesquisa para o Desenvolvimento interpretou dessa forma a novidade principal da mensagem incluída no relatório da Unctad sobre investimentos apresentado em Buenos Aires e outras capitais do mundo. O Informe sobre os Investimentos no Mundo 2012 tem como subtítulo Para uma nova geração de políticas de investimento. A pedido dos países, há uma reavaliação sobre a atração de capital e as necessidades do desenvolvimento.
“Os acordos de proteção de investimentos começam a contemplar em maior medida o interesse dos Estados-parte”, observou Porta. “A ideia é manter o clima favorável ao investimento, mas dentro de uma agenda de desenvolvimento explícita”, acrescentou. No contexto desta ideia, o Informe lança um novo indicador que pretende vincular o investimento estrangeiro direto com seus efeitos no desenvolvimento. “Antes, os indicadores eram basicamente quantitativos. Isto é uma tentativa de melhorar”, ressaltou.
O documento indica que em 2011 o investimento estrangeiro direto no mundo cresceu 16%, em relação a 2010, mas prevê uma paralisação para este ano, devido à incerteza pela crise financeira internacional, e uma leve recuperação a seguir. Os países em desenvolvimento e as chamadas economias de transição atraíram 51% dos fluxos de capitais, embora com disparidades. Nos países industrializados também houve um desempenho muito heterogêneo na captação.
Cresceram os investimentos na China e na Índia, mas caíram na Ásia ocidental e no Oriente Médio. Na África, o maior volume foi captado pela região subsaariana, especialmente Nigéria e África do Sul, e retrocederam os países do norte. Quanto à América Latina, os investimentos estrangeiros aumentaram, em média, 16% no ano passado, mas o desequilíbrio é importante, já que a América do Sul registrou aumento de 34% e a América Central de apenas 4%, enquanto o restante foi para o Caribe insular. Onde mais cresceram em relação ao período anterior foi no Brasil e na Colômbia.
Segundo o estudo, este aumento de investimentos na América do Sul se deve principalmente à expansão de seus mercados de consumo, às taxas de crescimento econômico relativamente altas e à sua riqueza em matéria de recursos naturais. Também houve um crescimento moderado em Argentina, Chile e Peru, enquanto no México houve uma queda.
Para Porta, a maior atividade está relacionada com o reinvestimento dos ganhos para o aproveitamento de mercados internos. “No Brasil e na Argentina há um relativo fomento dos investimentos industriais e barreiras comerciais que permitem fazer reservas de mercado e, então, as empresas tendem a saltar esses obstáculos ampliando a capacidade local de produção”, acrescentou.
O Informe destaca que na região há uma retirada de fluxos dos Estados Unidos e da União Europeia e um avanço por parte da Ásia, tanto de países emergentes quanto do Japão, e também, cada vez mais, de outros Estados da região, com Brasil, México e Colômbia. Em quase todos os casos predominam os projetos de aumento da capacidade produtiva e, em menor medida, os fluxos que vão para as aquisições e fusões, embora no caso do Chile estas últimas predominem.
Nos países industrializados, os investimentos cresceram para Estados Unidos e Canadá, na Europa em menor medida, com forte debilidade em países em crise como Espanha, Portugal e Grécia, e caíram no Japão. O Informe também destaca a elevada liquidez das empresas transnacionais (estima-se superior a US$ 5 trilhões) e destaca a potencialidade que têm para financiar o desenvolvimento em momentos de crise.
Outro elemento da internacionalização está nos fundos soberanos, de US$ 125 bilhões. Esses fundos dos Estados Unidos, que há três ou quatro anos não existiam como potencial de investimento, hoje são 6% ou 7% do total, explicou Porta. A análise observa maior tendência à aplicação de restrições. “A liberalização e a promoção dos investimentos seguem sendo objetivos principais, mas numerosos países sentem a necessidade de reajustar as políticas de portas abertas”, afirma.
A esse respeito, o economista destaca que os acordos bilaterais de investimento perderam impulso e em seu lugar crescem os que têm alcance regional. Também indicou que em 2011 houve 46 novos conflitos relativos a tratados bilaterais. Alguns desses casos questionam políticas públicas nacionais cruciais, que levaram os Estados a expressarem um descontentamento crescente com relação às formas de resolução de conflitos entre Estados e investidores e sugerem reformas, alerta o Informe. Envolverde/IPS