Fortalecimento da moeda chinesa é inevitável, e evitará uma ‘guerra comercial’.
É preciso dar a Charles Schumer o crédito por sua persistência. O senador de Nova York introduziu a primeira lei que tinha como alvo a moeda chinesa em 2003, e tem sido o principal defensor no Congresso norte-americano da ideia de que a China mantém os valores de sua moeda, o yuan, em baixa, de maneira artificial, dando aos seus exportadores uma vantagem injusta na competição contra produtos norte-americanos. No dia 3, uma lei copatrocinada por Schumer, que permitiria a taxação sobre produtos de países que manipulassem suas modas, teve seu pedido de votação aprovado no Senado. Se for aprovada, a lei enfrentará uma forte resistência na Câmara, já que o líder republicano, John Boehner, se referiu à lei como “perigosa”. A Casa Branca ainda não se manifestou sobre o projeto.
No dia 4, os ministros chineses das relações exteriores e do comércio, e o Banco Central do país criticaram a lei, alertando para o perigo de que ela cause uma guerra comercial e prejudique a economia global. Schumer respondeu no Senado, afirmando que a posição chinesa era um blefe, e que uma guerra comercial traria mais prejuízos à China do que aos Estados Unidos.
“Eles podem adotar algumas sanções em represália, mas não criarão uma guerra comercial”. Schumer usou o mesmo argumento durante uma visita à China, em 2005. Mas nesse meio tempo, alguns números mudaram. O mais importante deles é a taxa de desemprego, que era de 6,1 em março de 2005, e chegou a 9,1 em agosto de 2011. Essas dificuldades econômicas nos Estados Unidos aumentarão a pressão política para que a China seja punida.
Mas outros números também mudaram. Desde março de 2005, o yuan teve uma valorização de 30%. A China reconhece que precisa permitir que o valor de sua moeda aumente, para encorajar o consumo interno, controlar a inflação e sair da dependência das exportações para criar o crescimento econômico. Mesmo com a valorização do yuan, o abismo comercial entre os Estados Unidos e a China cresceu de US$ 202 bilhões em 2005 para US$ 273 bilhões no ano passado. Ao mesmo tempo, a balança comercial chinesa mudou, e, em 2011, o país se tornou um importador. Muitos países, em especial aqueles que exportam a energia e as matérias primas que a China precisa, se beneficiam de sua expansão contínua.
O cenário de dificuldade econômica nos Estados Unidos, combinado à atmosfera política intensificada da campanha presidencial, garantirá que a lei comercial de Schumer ganhe mais atenção do que receberia nos anos anteriores. Ao mesmo tempo, dada a oposição de Boehner e a relutância de Obama em apoiar a medida, é provável que ela seja rejeitada novamente. Mas ainda que a lei não seja aprovada, uma moeda chinesa mais forte é inevitável. O quanto essa moeda ajudará a economia norte-americana permanece um mistério.
Tradução: Opinião e Notícia.
* Austin Ramzy é correspondente da Time em Pequim.
** Publicado originalmente pela Time e retirado do site Opinião e Notícia.