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Ver a árvore e também a floresta

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Na temporada de semeadura de 2009, a CCT plantou 225 árvores no estabelecimento agrícola de Marc Antony Gómez, em Tierras Morenas, Costa Rica.
Nações Unidas, 6/6/2011 – A Comunidade de Árvores para Carbono da Costa Rica (CCT) oferece, a qualquer pessoa no mundo que tenha interesse de patrocinar, o cultivo responsável de árvores para combater o desmatamento e, por extensão, a mudança climática. O desmatamento dizima 5,2 milhões de hectares por ano e os governos não chegam a um novo acordo para deter as emissões de carbono que alteram o clima. Assim, em meio à desesperança, os integrantes dessa organização decidiram não esperar que a indústria, ou os governos, cuidem do problema, que teria de ser tratado pelos cidadãos comuns.

“Nosso modelo se baseia em redes de coleta de sementes em comunidades apoiadas por pessoas de todas as idades e nacionalidades, homens e mulheres”, disse à IPS Jennifer Leigh Smith, fundadora e diretora da organização. “Habitualmente, a produção das árvores é distribuída entre as famílias das comunidades onde trabalhamos”, disse. Além de ajudar a sequestrar dióxido de carbono, promover a biodiversidade e impedir a erosão do solo, Jennifer disse que estes projetos potencializam o desenvolvimento socioeconômico local.

“A CCT trabalha com as comunidades para conscientizar sobre o reflorestamento, mediante o trabalho prático, bem pago e socialmente responsável”, explicou Jennifer. “As comunidades se emocionam ao coletar as sementes e compreendem de uma maneira renovada o quanto é importante preservar a floresta que resta para as futuras sementes”, acrescentou. “Vemos que as pessoas aprendem que é melhor plantar a árvore e cuidar dela do que ir à floresta e cortar as árvores antigas, o que é um problema comum na Costa Rica, já que recai sobre os pobres a manutenção de reservas florestais mesmo quando não podem comprar sapatos para seus filhos”, ressaltou a ativista.

A Organização das Nações Unidas designou 2011 Ano Internacional das Florestas e 2012 Ano Internacional das Cooperativas. Ontem, foi Dia Mundial do Meio Ambiente. Claramente há um vínculo que reflete um renovado impulso às iniciativas locais de desenvolvimento sustentável, particularmente vinculadas às florestas. “A CCT está usando a iniciativa para divulgar a mensagem e nos ajudar a conseguir publicidade”, disse Jennifer.

Fundada em 2000, a CCT já plantou mais de 385 mil árvores na Costa Rica, principalmente para reflorestar terras agrícolas. Participa de projetos privados comunitários ou corporativos. Patrocinar uma árvore custa US$ 25, o que cobre o custo de plantar e transportar. A organização também trabalha em associação como o Ano Internacional das Florestas, em uma iniciativa chamada “Pacto pela Vida”, que promove seu trabalho entre os patrocinadores internacionais e as comunidades locais.

Jennifer destacou que, além de mitigar a mudança climática, o reflorestamento ajuda a repor os aquíferos subterrâneos e a impedir deslizamentos de terra quando ocorrem chuvas torrenciais. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), cerca de 1,6 bilhão de pessoas no mundo dependem das florestas para obter seu sustento. “Criar fluxos alternativos de renda é vital para preservar o que resta das selvas tropicais, além de plantar novas séries de mesclas de espécies nativas para o futuro”, disse a ativista.

Desde 1972, todo 5 de junho é comemorado o Dia Mundial do Meio Ambiente, criado pelo Pnuma para conscientizar sobre os numerosos desafios que a humanidade enfrentava e ainda enfrenta. Segundo o porta-voz do Pnuma, Nick Nuttall, os desafios identificados na Cúpula da Terra, realizada em 1992 no Rio de Janeiro (mudança climática, água e florestas, entre outros), continuam sendo uma importante preocupação.

“A cada ano, o Dia Mundial do Meio Ambiente parece crescer”, disse à IPS, destacando a urgência de os governos e cidadãos serem mais conscientes e agirem para proteger seu entorno natural. O Pnuma também se concentra em tornar verdes acontecimentos internacionais como a Copa do Mundo da Alemanha de futebol, em 2006, e a do ano passado, na África do Sul, afirmou.

O diretor-executivo do Pnuma, Achim Steiner, viajou ao Brasil para debater as condições em que acontecerá a Copa Mundial de Futebol e as Olimpíadas. O objetivo desta agência da ONU “não é apenas um acontecimento esportivo fantástico, mas também que seja amigável com o meio ambiente”, disse Nuttall. E, embora este tipo de evento excepcional “não consiga mudar o mundo da noite para o dia, é parte de uma conscientização cada vez maior entre a população, as comunidades, o empresariado e os governos”, concluiu.

Enquanto isso, uma coalizão internacional de acadêmicos lançou na Organização das Nações Unidas uma campanha mundial para conseguir uma Declaração Universal dos Direitos da Mãe Terra. Maude Barlow, presidente do não governamental Conselho de Canadenses, disse à IPS que os direitos da natureza se baseiam na noção de que o mundo natural é um sistema plenamente operacional, uma comunidade que tem suas próprias leis. Portanto, é necessário que os humanos criem leis que sejam compatíveis com as da natureza.

Isto significa promover o desenvolvimento humano e comunitário de maneira a proteger a natureza e promover a sustentabilidade, disse Barlow, ex-assessora para temas de água da Organização das Nações Unidas. “O que aconteceria se criássemos leis para dar à Terra e às outras espécies o direito de existirem?”, perguntou. “Se acreditamos que os direitos são inerentes e que existem em virtude de nossa criação, então pertencem a toda natureza, não apenas aos seres humanos”, destacou. Envolverde/IPS