“A transição para uma economia sustentável já começou, e o EIMA 8 deve ser um acelerador deste processo”, afirma diretor da Fundação Ecodes.
Victor Viñuales é diretor da Fundação Ecodes (Ecología y Desarrollo), uma organização sem fins lucrativos que atua na Espanha, Nicarágua e no Peru. Viñuales, que também é sócio do Carbon Disclosure Project (CDP) e autor do informe do CDP na Espanha, concedeu uma entrevista para a equipe do Encontro Ibero-Americano sobre Desenvolvimento Sustentável (EIMA 8).
O EIMA 8 será realizado em São Paulo, cidade que concentra grande parte das empresas e indústrias do Brasil e da América do Sul. Neste espaço de diálogo estarão presentes representantes de diversos países ibero-americanos em busca de novas oportunidades, cooperação política e econômica. Quais são as suas expectativas com relação à sua participação no evento?
Viñuales: Em um mundo sufocado pela coexistência de várias crises sobrepostas (ambiental, social e econômica-financeira) é preciso ter esperança de que a mudança para uma economia verde e inclusiva é necessária e possível. Minha expectativa é que o EIMA 8 seja uma oportunidade de geração dessa esperança para a mudança e para tecer alianças multissetoriais para essa construção. A transição para uma economia sustentável já começou, e o EIMA 8 deve ser um acelerador deste processo.
Como avalia o impacto das estratégias de sustentabilidade no mundo empresarial? Na transição para uma “economia verde”, como é possível proporcionar mecanismos que gerem benefícios para as empresas? Quais serão os maiores desafios daqui em diante para o mercado e para os consumidores?
Viñuales: Pela situação do planeta, pelo declive inexorável do petróleo, as empresas que querem ter um futuro econômico a médio e longo prazos devem, ao mesmo tempo, criar valor para elas mesmas e para a sociedade. Se não tomarem essa atitude, mais cedo ou mais tarde serão extintas. As empresas ancoradas na filosofia e nos conceitos do Século 19, pensando só no próprio benefício, serão “espécies em extinção”, deixadas de lado pela lei e, sobretudo, abandonadas pelos consumidores. As empresas “egoístas” têm muito passado e pouco futuro.
De que maneira as políticas de maior participação do Estado e os acordos internacionais de cooperação poderão contribuir para o desenvolvimento sustentável.
Viñuales: Temos um déficit de liderança política global. Temos muitos chefes de Estado e de governo pensando no seu curto mandato eleitoral e não no médio e longo prazos do planeta e das nossas sociedades. Temos muitos líderes pensando nos interesses particulares dos seus países e poucos pensando nos interesses globais do mundo. Por essa cidadania global devemos dar um empurrão nestes líderes fazendo com que eles saiam deste egoísmo e para que estejam à altura do nosso tempo, liderando a mudança para um mundo sustentável, controlando e regulando os mercados, governando e não sendo governados. O potencial de mudança dos acordos internacionais é muito grande, mas não se desenvolverá se a cidadania não se comprometer a impulsioná-lo. A conferência de Copenhagen foi muito instrutiva neste sentido.
Qual é sua opinião sobre o momento econômico do Brasil? Quais setores da nossa economia estão mais aptos a oferecer boas oportunidades para investimentos sustentáveis?
Viñuales: Não conheço a fundo a economia brasileira, mas tenho a convicção de que o Brasil, por muitas e convergentes razões, deve ser um ator econômico e político na primeira linha da governança global. Por outro lado, Brasil, como todos os países, deve organizar a transição para uma economia de baixo carbono. Neste desafio existem muitos setores envolvidos: transporte, energia, habitação…
Em sua opinião, o que falta para colocar em prática a ética da cidadania na produção econômica e nos mecanismos de cooperação internacional?
Viñuales: Os problemas da tripla crise que vivemos são grandes demais para deixar só nas mãos dos governos e das empresas. A força que ainda não exibiu o seu poder é a da cidadania. A cidadania mobilizada pode fazer com que os governos atuem e a cidadania consumidora e investidora é o principal fator da mudança do mundo empresarial. O problema é que os cidadãos do mundo ignoram seu poder, acham que são fracos e não atuam com ambição transformadora. Mas esse “tigre” dormido está acordando, obrigado pela gravidade da crise e vai provocar mudanças profundas no modo de fazer política e no modo de produção e consumo. Portanto, em minha opinião, o necessário e urgente é que a cidadania por fim descubra seu enorme poder… E que o utilize.