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Violência dispara pedidos de investigação

Doha, Catar 11/10/2011 – O Conselho Supremo das Forças Armadas do Egito cobrou uma investigação imediata dos mortais confrontos do dia 9 à noite, no Cairo, que deixaram pelo menos 26 mortos e mais de 300 feridos, principalmente cristãos coptos. O Conselho “encarregou o governo de formar rapidamente um comitê investigador que determine o que aconteceu e tome medidas legais contra aqueles cuja participação ficar demonstrada, seja diretamente ou por incitação”, informou a televisão estatal.

Em uma reunião de emergência realizada ontem, o conselho militar também reiterou que “continua carregando a responsabilidade nacional de proteger o povo depois da revolução de 25 de janeiro, até entregar o poder a uma autoridade civil eleita”. Também culpou pelos enfrentamentos “os esforços de alguns para destruir os pilares do Estado e semear o caos”, e disse que tomará “as medidas necessárias para restabelecer a segurança”.

Sherine Tadros, da rede de televisão Al Jazeera, disse que o fato de o conselho militar cobrar uma investigação é uma boa notícia para os egípcios, “que sentem que aos militares não interessa averiguar quem está por trás dos acontecimentos do dia 9”. Esses confrontos foram os fatos mais violentos do país desde a revolução que derrubou o presidente Hosni Mubarak (1981-2011).

A violência começou depois que cristãos coptos, protestando contra a destruição de uma igreja na província de Aswan, foram alvo de ataques. Ontem aconteceram os funerais de muitas das vítimas. Também durante o dia, várias centenas de cristãos indignados apedrejaram policiais nos arredores do Cairo, embora o primeiro-ministro interino, Essam Sharaf, tenha pedido calma.

“Em lugar de avançar para a criação de um Estado moderno de princípios democráticos, voltamos a buscar segurança e estabilidade, nos preocupando se há mãos ocultas, tanto internas como estrangeiras, tentando obstruir a vontade dos egípcios de estabelecer uma democracia”, disse Sharaf na televisão pública. Dezenas de pessoas foram detidas no confronto. Os “instigadores do caos” foram presos, informou a agência de notícias Mena. A Igreja copta do Egito declarou três dias de luto, pedindo aos fiéis que rezem pela paz no país e façam jejum.

Alguns atribuíram as mortes ao uso excessivo da força por parte do exército. Hossam Bahgat, da Iniciativa Egípcia pelos Direitos Pessoais, disse à Al Jazeera que os enfrentamentos do dia 9 à noite não têm precedentes “Não há nada como o que vimos ontem, porque foi o exército”, afirmou. “Pela primeira vez, os cristãos não são atacados por extremistas muçulmanos ou pelas forças de segurança policial, mas pelo exército. Não entendemos a razão de esta força recorrer a semelhantes medidas”, acrescentou Bahgat. “É preciso que seja feita uma investigação independente sobre os ataques. E não pelo exército”, ressaltou.

Segundo Tadros, da Al Jazeera, a Igreja Copta também divulgou um comunicado declarando que os coptos não dispararam um único tiro e que não foram os instigadores dos incidentes. “Isso é, na realidade, uma referência à contínua cobertura da televisão estatal, que durante toda a noite, e também pela manhã, ‘tentou’ dizer ao público que os cristãos estavam por trás da violência e que disparavam contra os soldados”, explicou.

“De fato, a televisão estatal falava sobre os soldados que morreram como ‘mártires’ e de manifestantes que foram assassinados como ‘civis’. Assim, passou uma mensagem muito forte, e teme-se que essa maneira de informar por parte da TV pública avive as tensões sectárias”, alertou Tadros.

Os cristãos, que são cerca de 10% dos aproximadamente 80 milhões de habitantes do Egito, saíram às ruas depois de acusarem os radicais muçulmanos de demolirem parcialmente a igreja na semana passada. Também pediram a destituição do governador da província por não proteger o prédio. Os coptos afirmam que marchavam pacificamente quando um grupo os atacou e a polícia militar interveio, usando uma força desnecessária, segundo os ativistas. Envolverde/IPS