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Vítimas da mudança climática exigem ações urgentes

Em partes de Bangladesh convertidas en zonas áridas, as mulheres têm que caminhar longas distâncias em busca de água potável para a família. Foto: Sujan Map/IPS

Daca, Bangladesh, 24/11/2011 – A bengali Mosammet Monwara é obrigada a caminhar mais de três quilômetros por dia em busca de água potável, que carrega em um pesado cântaro de barro, para sua família de cinco pessoas. A acompanham várias mulheres da aldeia de Sharmongolia, no distrito de Rajshahi, em Bangladesh. Monwara, de 37 anos, e suas vizinhas percorrem longas distâncias para encontrar água potável há mais de uma década, porque secaram os poços que costumavam utilizar. “Racionamos a água potável. Nos banhamos uma vez por semana e limpamos a cozinha o mínimo, tudo para economizar”, disse Monwara à concorrida audiência reunida no clube de imprensa em Daca, para uma das sessões dos tribunais climáticos, realizada em outubro.

Várias mulheres de outras regiões do país contaram experiências semelhantes no tribunal organizado pela organização não governamental Bangladesh Unnayan Parishad, pelo People’s Forum on the Millennium Development Goals (Fórum Popular sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio) e o Chamado Mundial de Ação contra a Pobreza.

“Perdi minha casa na beira do Rio Tista quatro vezes nos últimos cinco anos por causa da erosão”, contou Rubina Akhtar, da aldeia de Char Mornia, na subdivisão de Gangachara no distrito de Rangpur. “Durante a última temporada das monções, quando estávamos nos instalando em um novo lugar, longe do dique, a erosão levou tudo, inclusive nossa embarcação de pesca”, acrescentou. “Agora, vivemos ao ar livre perto de uma fazenda de gado”, disse Akhtar, de 25 anos. “Comemos quando alguém é generoso”, disse a mulher, com quatro filhos pequenos. Seu marido era pescador e ganhava o equivalente a US$ 5 por semana, mas começou a mendigar após perder o barco e os pertences familiares.

Dipali Mandal vive na aldeia Jatindranagar, no distrito de Satkhira, vizinho da maior floresta de mangues do mundo, Sundarbans. “Meu marido ganhava bem com cultivos de época. Éramos uma família feliz com renda entre US$ 400 e US$ 500 por temporada” de quatro meses, contou esta mulher de 42 anos. “Mas os solos salinos nos deixaram sem um centavo”, lamentou. “Os agricultores como meu marido já não podem trabalhar a terra por causa da salinidade do solo. Antes não era assim. De fato, no inverno cultivavam verduras para vender nas grandes cidades, como Daca, Khulna e Rajshahi, para aumentar a renda”, contou Mandal.

Bobita Begum, da aldeia Hatgacha, no distrito de Sirajganj, sofreu uma experiência angustiante. “Por 11 vezes perdi meus pertences. A primeira vez vivia com meus pais. Quando casei e mudei com meu marido pensei estar a salvo da erosão”, contou Begum, de 26 anos. “No ano passado, perdi meu filho durante uma repentina erosão do rio ocorrida à noite. Não houve escapatória”, acrescentou.

A topografia deltaica de Bangladesh, com prolongadas secas no noroeste e frequentes erosões e transbordamentos de rios, está em um ponto no qual não pode abrigar seus 135 milhões de habitantes. A densidade populacional é de 1.100 pessoas por quilômetro quadrado. Projeções do Grupo Intergovernamental de Especialistas em Mudança Climática (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU), dizem que 17% do país poderá ficar submerso até 2050, com vários milhões de pessoas obrigadas a abandonar a zona costeira. Os milhares de quilômetros de Barind, no norte do país, antes plantação de árvores frutíferas com diversidade de cultivos, agora são terras estéreis.

“Houve uma época, os empresários de Daca nos pagavam a produção de arroz adiantada. Fornecíamos toneladas de grãos de boa qualidade para muitas cidades”, contou Kwaza Nizamuddin, que emigrou para a capital há 15 anos em busca de um emprego alternativo. Estudos da Corporação de Desenvolvimento Agrícola de Bangladesh revelam que 400 mil bombas de água para irrigação, a maioria no noroeste do país, secaram pela diminuição da água subterrânea.

As intensas inundações e a erosão fluvial, as prolongadas secas, as chuvas incessantes e os níveis de salinidade extremos obrigaram milhões de pessoas a emigrar em busca de uma vida melhor. Os mais prejudicados são os agricultores e pescadores. Mais de 200 rios que cortam o país sofreram graves processos de sedimentação e formaram vastas extensões de terras estéreis. As pessoas que constroem suas casas, a maioria de bambu, perde tudo quando as regiões que foram leitos fluviais inundam.

“É hora de agir. Já esperamos muito. As vítimas necessitam de proteção, emprego e apoio. São ignorados muitos assuntos importantes”, disse à IPS o ativista Abdul Awal, um dos organizadores do tribunal. As mulheres têm uma longa lista de reclamações sobre proteção em casos de inundações, erosão do rio e ciclones, acesso a água potável, reflorestamento, reparo de estradas, abrigos para quando há desastres, créditos sem juros, centros de saúde e educativos em áreas de difícil acesso e compromisso político para o desenvolvimento.

Qazi Kholiquzzaman Ahmad, integrante do IPCC e presidente-fundador da organização Bangladesh Unnayan Parishad, disse à IPS que as nações industrializadas “são responsáveis pela mudança climática. Além de compensação econômica, pedimos a elas tecnologia e apoio para construir capacidades e reduzir nossa vulnerabilidade. Nossa proposta contempla reduzir as emissões de dióxido de carbono em 40% até 2020 e 95% até 2050”, acrescentou.

Bangladesh já tem um plano de ação para reduzir a vulnerabilidade diante de desastres naturais, mas é preciso intervenção internacional, alertou Kholiquzzaman, que presidiu como convidado o tribunal climático de Daca. “O governo destinou US$ 90 milhões ao ano, nos próximos três, para minimizar os efeitos do aquecimento global no país, o que demonstra compromisso público e seriedade”, ressaltou. O júri, integrado por um ex-presidente de um tribunal de justiça, conhecidos ativistas de direitos humanos e voluntários de organizações da sociedade civil, pediu a criação de um tribunal internacional para que haja justiça para as vítimas da mudança climática. Envolverde/IPS