Washington, 7/3/2012 – Enquanto o exército da Síria intensifica os ataques contra redutos da oposição, como a cidade de Homs, entre outros, os Estados Unidos e seus aliados não chegam a um acordo sobre o caminho a seguir para acabar com o conflito. Washington criticou duramente o regime de Bashar al-Assad pelo desproporcional uso da violência contra a oposição, mas os dirigentes políticos deste país não se põem de acordo sobre quais medidas tomar além das sanções existentes e de coordenar a assistência humanitária. A organização de direitos humanos Human Rights Watch estima que morreram mais de 700 pessoas em Homs no último mês.
Muitos dirigentes reclamam de forma explícita uma intervenção militar estrangeira de forças norte-americanas ou, pelo menos, o fornecimento de armas ao Exército Livre da Síria, integrado por combatentes que mudaram a essência da oposição, de manifestações não violentas a contra-ataques e ataques pontuais.
No dia 5, o ex-candidato presidencial pelo opositor Partido Republicano, John McCain, foi o primeiro senador dos Estados Unidos a reclamar ataques aéreos contra as forças do presidente Al-Assad. “O objetivo final dos ataques aéreos deve ser criar e defender zonas seguras na Síria, especialmente no norte, onde as forças da oposição possam se organizar e planejar suas atividades políticas e militares contra Al-Assad”, afirmou no Senado.
Em uma reunião do Congresso no dia 2, o diretor e fundador da controvertida empresa de segurança privada Blackwater, James Smith, apresentou um plano para criar uma zona semelhante à estabelecida na cidade líbia de Bengasi no nordeste da Síria, a partir da qual seria atacado o governo sírio. Também propôs que as agências militares e de inteligência dos Estados Unidos coordenassem, com a oposição e a descontente população curda, a criação de zonas seguras a partir das quais as forças militares internacionais e as agências humanitárias possam operar.
Junto com uma significativa quantidade de neoconservadores, Smith pediu uma intervenção na Síria como forma de “confrontar o Irã e o libanês Hezbolá (Partido de Deus) de forma indireta”, e, assim, pôr fim ao papel de Damasco no chamado “eixo de resistência”. Outras figuras políticas que apoiaram as ações militares na Líbia mas que até agora se mostraram reticentes a uma intervenção na Síria reconsideram sua posição.
Em uma coluna escrita por Anne-Marie Slaughter, em 1º de março no The Washington Post, a ex-diretora de planejamento do Departamento de Estado defende uma “intervenção militar estrangeira” como a “melhor esperança de reduzir uma longa e sangrenta guerra civil desestabilizadora”. Slaughter, próxima da secretária de Estado, Hillary Clinton, também defendeu a criação de zonas “sem mortos” e “corredores humanitários”, garantidos pelas forças locais, mas com armas fornecidas pela comunidade internacional e aviões não tripulados.
No entanto, é pouco provável que esses planos reúnam o apoio necessário para que Washington garanta que sua participação não exacerbe muitos problemas que afetam a revolta Síria e o aumento de grupos islâmicos radicais. No Comitê de Relações Exteriores do Senado, o secretário de Estado-adjunto para Assuntos do Oriente Próximo, Jeffrey Feltman, defendeu, no dia 1º, o “plano claro e confiável” do Conselho Nacional Sírio, apoiado pelos “líderes árabes”, mas também reconheceu que a oposição continua viciada por “divisões competitivas”, incluído o elemento islâmico.
Esse temor colocou muitas autoridades de Washington em uma posição incômoda ao terem que apoiar organizações da oposição como o Conselho Nacional Sírio e o Exército Livre da Síria, ao mesmo tempo que se preocupa com a viabilidade da era pós-Assad. Muitos analistas se apressaram em responder às reclamações de uma intervenção militar do Ocidente dando a Líbia como exemplo, onde a disponibilidade de armas e as divisões entre os líderes opositores parecem ter contribuído para aumentar a violência após a guerra civil. Tambem acrescentam que isso contribuiu para a incapacidade do novo governo para controlar a grande quantidade de homens armados que participaram do conflito.
Em um painel patrocinado pela Fundação Century em Nova York, no final de fevereiro, Michael Hanna alertou que “lançar armas neste conflito sem organização, somente o tornará mais sangrento e, claramente, o prolongará”. As figuras a favor de um papel mais direto da comunidade internacional no conflito da Síria trabalham para aumentar a coordenação e a liderança entre os diversos integrantes da oposição, que segue dividida, e não só entre as diferentes organizações, mas dentro de cada uma.
Hanna descreveu o Exército Livre da Síria como “apelido de insurgência local” que ainda carece de ordem e controle. O Conselho Nacional Sírio também sofreu graves divisões depois que uma grande quantidade de figuras destacadas anunciou sua renúncia por falta de progressos e por insuficiente coordenação com os manifestantes a pé. A reunião “Amigos da Síria”, realizada na Tunísia em 24 de fevereiro, foi um exemplo das várias contradições que cercam o conflito da Síria.
Representantes de 70 países e de organizações internacionais se reuniram para discutir formas de coordenar esforços para acabar com o regime de Al-Assad, mas não chegaram a um consenso significativo sobre temas específicos, a não ser a contínua aplicação de sanções econômicas e diplomáticas. Parece existir um consenso generalizado sobre a necessidade de coordenar a ajuda humanitária para o crescente número de refugiados e as inumeráveis quantidades de pessoas sem alimento e sem calefação suficiente, mas conseguir uma participação maior parecer ser um assunto altamente divisor.
O chanceler saudita, Saud al-Faisal, saiu uma fúria da reunião, revoltado pela falta de disposição dos participantes em tomarem medidas mais duras. Sua proposta foi armar diretamente a oposição. China e Rússia não participaram do encontro, e muitos dirigentes se mostraram reticentes em reconhecer que é provável que Moscou desempenhe um papel mais significativo na resolução do conflito, apesar de sua aparente intransigência.
“A única forma de resolver isto é por meio dos russos”, opinou o embaixador turco, Morton Abramowitz, em seu discurso na Fundação Century. Talvez Vladimir Putin esteja mais disposto a se comprometer após as eleições de domingo, quando o primeiro-ministro russo ganhou seu retorno à Presidência do país. Um informe, divulgado no dia 5 pelo Grupo Internacional de Crise, alertava para o quanto é essencial a cooperação russa para uma boa transição.
“Se Moscou se convencer de que a situação atual maximiza o risco de produzir essa situação que diz tanto temer, que é o caos”, então se poderia criar um contexto em que “o regime sírio se veja confrontado com a opção de concordar em negociar de boa fé ou ficar quase totalmente isolado e perder um aliado fundamental”, diz o documento. Feltman, que acaba de regressar de uma viagem à Rússia para tentar resolver as diferenças com Moscou sobre o conflito, informou que “se mantêm os contatos com Moscou em todos os níveis”. Contudo, será uma tarefa titânica encontrar pontos de contato com a Rússia, devido ao grau de compromisso posto pelo Kremlin ao defender Al-Assad. Envolverde/IPS