Vivemos em tempos de intensas mudanças. Até hoje, nossa sociedade privilegiou fundamentalmente fatores econômicos para se desenvolver, modelo que já se mostrou insustentável. É imperioso o equilíbrio dos fatores econômicos, ambientais e sociais. Só a partir deste equilíbrio é que garantiremos que o desenvolvimento até aqui conquistado seja “sustentado” para as gerações futuras – isto é uma questão de sobrevivência.
Esse novo modelo é fruto do somatório de forças do Estado, de empresas privadas, e da sociedade civil organizada, modelo este que prima pela complementariedade. Todos os setores são igualmente responsáveis por construir este novo paradigma, cada um com suas responsabilidades específicas. A concretização deste modelo não pode ser tratada como uma ação pontual de apenas um setor e só funcionará se for construída e vivenciada em redes que comunguem valores e comportamentos.
Nesse contexto, surge a Responsabilidade Social Empresarial (RSE), compreendida como iniciativa interdisciplinar e multidimensional. Associada a uma abordagem sistêmica – direta ou indiretamente ligada ao negócio – e focada na relação com os stakeholders, pressupõe o comprometimento dos empresários em adotar um comportamento ético e justo, que se reflita em suas decisões, na relação com seus pares, contribuindo para o desenvolvimento econômico e, simultaneamente, a qualidade de vida de seus colaboradores, familiares, comunidade local e sociedade como um todo.
No contexto brasileiro, destacamos os desafios vitais para as organizações:
1 – Fazer a lição de casa. Pagar salários dignos e oferecer condições dignas de trabalho. Garantir o atendimento às legislações, em especial às trabalhistas e fiscais, o bem-estar dos colaboradores, assumindo uma atitude ética e justa com todos;
2 – Assumir uma postura dialogal, fortalecendo relações interdependentes que privilegiem a autonomia, o empoderamento e a cooperação de todos os atores sociais;
3 – Assumir a RSE como atitude que permeia todos os processos e áreas da empresa e transcende as fronteiras da organização;
4 – Avaliar sistematicamente e continuamente o desempenho econômico, social e ambiental da empresa, de modo a realimentar com esses inputs o posicionamento da organização;
5 – Incluir na rotina da organização a diferença entre realização de ações assistencialistas (filantropia) e a prática efetiva de RSE;
6 – Assumir a RSE como questão de sobrevivência, como interesse estratégico das empresas, e que este é o melhor, e talvez o único, bom fundamento para que as empresas a promovam;
7 – Estabelecer a efetividade das ações implementadas sob o escopo da RSE, a partir de pactos com as redes e pares do negócio, influenciando-os e recebendo deles os inputs necessários à gestão da RSE;
8 – Os desafios são transformar o discurso, tão em voga, em rotinas e processos do dia a dia, em valores, e em orientação estratégica da organização.
Responsabilidade Social é uma oportunidade para estes novos tempos. Uma via de complementaridade de atores sociais em rede – onde todos ganham: empresas, indivíduos, Estado e sociedade – para a construção coletiva do bem comum e promoção de uma sociedade sustentável.
RSE trata da qualidade das relações empresariais e de suas relações com a sociedade e o meio ambiente. É isto que aqui propomos. Uma relação ética, transparente, justa e democrática.
* Fábio Muller é coordenador executivo do Cieds e Fabiane Turisco é sócia do escritório Martinelli Advocacia Empresarial.
** Publicado originalmente no site Mercado Ético.