Harare, Zimbábue, 25/7/2013 – Moses Chiengerere é um dos centenas de milhares de produtores de milho de pequena escala que abastecem o Zimbábue com este grão. “Cerca de 24 sacas (duas toneladas) vão para o estatal Conselho para a Comercialização de Cereais, que me permite obter dinheiro na hora”, explicou. “Os preços são baixos, mas quem vende para o Conselho recebe tratamento preferencial em caso de seca”, contou Chiengerere à IPS, atribuindo o êxito da sua colheita ao uso de esterco de vaca como fertilizante.
Sobre os agricultores de áreas pequenas, que antes contribuíam anualmente com pouco menos da metade dos 1,8 milhão de toneladas de grão para a reserva nacional do Conselho, agora recai a responsabilidade de abastecê-lo quase completamente. Isto porque os agricultores comerciais do Zimbábue, a maioria deles beneficiária do controvertido e violento programa de reforma agrária de 2000, produzem bem abaixo das expectativas, apesar de ocuparem terras mais produtivas.
No contexto desse programa, mais de 300 mil pessoas ocuparam pela força terras que antes possuíam e estavam em mãos de aproximadamente quatro mil agricultores brancos. Também receberam títulos de propriedade sobre essas áreas. Entretanto, um informe divulgado em julho pela Agência Nacional de Estatística do Zimbábue, intitulado Pesquisa Nacional de Pobreza, Renda, Consumo e Gasto, em 2011 os agricultores comerciais contribuíram com apenas 15,6% para a reserva nacional. Em 1994, os agricultores comerciais, que trabalhavam terrenos entre seis e 20 hectares, haviam contribuído com 2,1 milhões de toneladas de milho para a reserva nacional.
Embora não existam dados oficiais sobre a quantidade de pequenos produtores de milho no país, a União de Agricultores do Zimbábue estima que seis milhões de pequenos proprietários cultivam em seis hectares, ou menos. Além do milho, também produzem sorgo e uma espécie de milho miúdo. Os especialistas apresentam várias razões para o aumento da contribuição dos pequenos agricultores para as reservas de grãos do país.
Para o especialista agrícola e diretor-executivo do Instituto Africano de Estudos Agrários, Sam Moyo, é consequência direta da comercialização da produção de grãos por parte de pequenos produtores que antes só se dedicavam a cultivos de subsistência. Isto fez com que agricultores comerciais se concentrassem em outros cultivos de melhor retorno, explicou à IPS.
“Com novas políticas que incentivam a tecnologia, os serviços de extensão, novas sementes e novos fertilizantes para os pequenos agricultores, sua produção começou a crescer”, afirmou Moyo. “Como também comem o que cultivam, têm um grande incentivo para plantar. Agora competem muito bem com os produtores comerciais”, acrescentou, lembrando que os pequenos agricultores ocupam entre 65% e 70% das terras agrícolas do país.
Ted Mandizha, da província de Mashonaland Ocidental, é um dos que planta milho para consumo de sua família (1,5 tonelada, segundo disse à IPS) e depois vende o excedente (duas toneladas) ao Conselho. Apesar de a temporada de chuvas ser cada vez mais curta, Mandizha pode produzir um cultivo abundante. Ele acredita que o uso de sementes criadas para safras curtas é uma vantagem.
“É o caso de usar variedade de semente de temporada curta e também resistente a secas. Tudo isso contribui para melhor rendimento em tempos de mudança climática”, disse Mandizha, que planta há mais de 20 anos. Semear no começo da temporada também faz diferença, afirmou. “Um dos truques para garantir melhor rendimento é plantar antes. É o que faço, pois, quando chegam as chuvas, o cultivo já está avançado, e às vezes uso a umidade subterrânea para maturar. É diferente dos dias em que tínhamos temporadas prolongadas de chuva”, observou o produtor.
Embora pequenos agricultores como Mandizha recebam apoio e subsídios, Moyo destacou que as políticas do governo não apoiam os produtores comerciais nem os ajudam a se adaptarem às mutantes tendências agrícolas. Moyo deu o exemplo de Zâmbia, onde 50 quilos de fertilizante que normalmente custariam US$ 40 são vendidos ao preço subsidiado de US$ 10. No Zimbábue, o mesmo volume de fertilizante é vendido no mercado entre US$ 35 e US$ 50. Moyo afirmou que estes altos preços inviabilizam a produção de grãos, daí os agricultores comerciais passarem para outros cultivos, como tabaco e hortaliças.
O diretor da União de Agricultores do Zimbábue, Paul Zakaria, disse à IPS que a brecha entre a produção comercial e a comunitária se deve à incapacidade dos produtores comerciais de produzirem em grande escala sem recursos adequados. “Para irrigar, é preciso uma bomba que funcione, eletricidade, seja a diesel ou hidrelétrica, e tem que ter capacidade financeira para fazer isso. Todos sabemos que a maioria das pessoas que se reassentaram em propriedades comerciais não tem esses recursos”, ressaltou. Envolverde/IPS