Harare, Zimbábue, 29/8/2013 – Talvez tenha sido fácil para o presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, derrotar a oposição nas eleições de 31 de julho, mas superar a crise econômica é outra história. No dia em que fez o juramento por seu sétimo mandato consecutivo, a bolsa caiu 11%, maior queda em um dia desde 2009. Agora, aumentam os temores de que as políticas da governante União Nacional Africana do Zimbábue-Frente Patriótica (Zanu-PF) afugentem ainda mais os investidores estrangeiros.
“As atuais políticas da Zanu-PF estão em conflito com as necessidades dos investidores, e neste momento o Zimbábue é o destino menos atraente do mundo para fazer investimentos”, disse à IPS John Robertson, diretor da consultoria Robertson Economic Information Services,. “Qualquer proposta de recuperação econômica dependerá da rapidez com que se melhore o poder aquisitivo da população, que, por sua vez, dependerá de uma recuperação do emprego”, pontuou.
A Lei de Indigenização do Zimbábue, de 2007, obriga as companhias de estrangeiros a cederem 51% de suas ações ao país. Porém, economistas alertam que essa política está afugentando os capitais externos. “Os investidores estrangeiros são obrigados a entrar com 100% do capital, assumir 100% do risco, fornecer 100% de tecnologia e, em troca, se conformarem com 49% do patrimônio, além de pagar os impostos”, apontou à IPS o economista independente Kingston Nyakurukwa.
As políticas de Mugabe afetam em particular a agricultura. O setor empregava entre 60% e 70% da população economicamente ativa antes da reforma agrária de 2000, que incluiu expropriações de terras de brancos para reparti-las entre a maioria negra. A agricultura também representava entre 15% e 19% do produto interno bruto antes da reforma. “O presidente Mugabe incentivou ocupações de terras comerciais produtivas, o que foi um golpe para a produção agrícola. E, quando o setor tem um mau desempenho, o resto da economia sofre”, indicou à IPS a economista independente Agrippa Ndlovu.
O Zimbábue agora é um importador de produtos agrícolas. “As exportações industriais e agrícolas caíram drasticamente entre 2000 e 2008 devido a decisões políticas infelizes, particularmente as expropriações de terras comerciais, seguidas por uma série de questionadas leis entre 2002 e 2008”, afirmou à IPS o economista Tony Lewis. O Zimbábue não tem reservas de grãos desde o despejo dos fazendeiros brancos há mais de uma década, apesar das promessas de Mugabe de que o país alcançaria a autossuficiência alimentar em 2010.
A economia do país diminuiu drasticamente desde 2000, o que propagou a pobreza e gerou desemprego de 80%. Este país exporta metais preciosos, como ouro, platina e ferro-liga, bem como algodão, têxteis e tabaco, mas para um número limitado de compradores devido às sanções comerciais impostas pelo Ocidente contra o governo de Mugabe. Ao apresentar, no dia 19 de julho, seu informe sobre a política fiscal da primeira metade de 2013, o ministro das Finanças, Tendai Biti, admitiu que a previsão de crescimento de 5,6% para este ano não seria alcançada. A estimativa caiu para 3,4%.
Os investimentos neste país cresceram depois da formação de um governo de coalizão em 2008. A chegada de capitais estrangeiros diretos aumentou cerca de US$ 50 milhões naquele ano para US$ 400 milhões em 2011. De todo modo, persistem as incertezas. “Realmente, não estou seguro sobre o que fazer, porque o presidente Mugabe poderia continuar com sua campanha de indigenização das companhias estrangeiras. Na verdade, estou muito preocupado por suas políticas econômicas”, disse à IPS o empresário indiano Jamah Fakuh, de 53 anos, dedicado à importação de vidro.
Com essa campanha, “a Zanu-PF” procura transferir a maior parte dos lucros de qualquer operação empresarial para a população negra do Zimbábue, sem nenhuma compensação financeira e favorecendo os leais a Mugabe”, disse à IPS o economista Admire Dziva. Por sua vez, Godfrey Kanyenze, diretor do independente Instituto de Pesquisa sobre Trabalho e Desenvolvimento Econômico do Zimbábue, afirmou que Mugabe tem grandes desafios pela frente. “Há uma crise de expectativas. Fez promessas ao povo e agora é hora de cumpri-las. A pobreza é endêmica”, afirmou à IPS.
A hiperinflação fez com que a moeda local, o dólar zimbabuense, praticamente perdesse todo valor em 2008. Mas a economia se estabilizou em 2009, depois que se começou a usar o dólar dos Estados Unidos e da formação de um governo de coalizão entre a Zanu-PF e dois ramos do opositor Movimento para a Mudança Democrática. A economia do país cresceu 9% em 2010 e 2011, e 5% em 2012. Entretanto, “o crescimento econômico pode acabar se não houver uma solução política que legitime o governo”, advertiu à IPS o economista Christopher Mugaga. Envolverde/IPS