Nações Unidas, 16/11/2011 – “Devemos construir sociedades que compreendam que a violência contra as mulheres e meninas é algo errado e que não é parte de uma cultura ou de um modo de vida”, disse à IPS a diretora global da campanha da Organização das Nações Unidas (ONU) contra esse flagelo, Aldijana Sisic. Neste cargo desde agosto de 2010, Aldijana já exerceu o cargo de especialista em comunicações e mobilização de recursos da ONU, e foi diretora da campanha “Chega de violência contra as mulheres”, da Anistia Internacional. Aldijana conversou com a IPS em Nova York sobre a campanha “Una-se para acabar com a violência contra as mulheres”.
IPS: Quais os principais objetivos da campanha?
ALDIJANA SISIC: Esta campanha, lançada em 2008 pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, é um esforço de muitos anos, que busca prevenir e eliminar a violência contra mulheres e meninas em todo o mundo. “Una-se” chama governos, sociedade civil, organizações de mulheres, jovens, setor privado, mídia e todo o sistema da ONU para unir forças para abordar esta pandemia mundial. Os objetivos gerais são criar consciência pública e aumentar a vontade política e os recursos para prevenir e responder a este flagelo. A campanha trabalha também para contribuir com mudanças positivas na área de legislações e planos de ação nacionais, coleta e análise de dados nacionais, uso de violência sexual em conflitos e mobilização social. Finalmente, até 2015, a campanha espera arrecadar uma contribuição anual de US$ 100 milhões para o Fundo Fiduciário das Nações Unidas para Eliminar a Violência Contra as Mulheres.
IPS: Você disse que milhares de mulheres são assassinadas em nome da “honra”. Isto significa que em alguns países a violência contra as mulheres é considerada justificável e natural?
AS: A violência contra mulheres e meninas é grave, frequentemente oculta e generalizada. Adota muitas formas distintas e não faz diferença por condição étnica, raça ou religião. Isto é resultado direto da desigualdade e da impunidade, do poder, do preconceito e da apatia. A violência contra mulheres e meninas pode ser universal, mas nunca se justifica, nem é natural ou inevitável. E, sem dúvida, pode ser erradicada.
IPS: Que tipo de ação pode ser adotada nos âmbitos local e internacional para acabar com a violência contra as mulheres?
AS: Devemos continuar promovendo a ação e a responsabilidade em todos os planos. Contudo, para que haja uma mudança real nas vidas de mulheres e meninas, isto tem de ocorrer nos âmbitos municipal, estadual e federal. Para criar um futuro sem violência, devemos construir sociedades que compreendam que a violência contra mulheres e meninas é algo ruim, e que não é parte de uma cultura ou de um modo de vida. Com profissionais e líderes em nossas próprias comunidades, escolas e locais de trabalho, todos temos oportunidades de usar nossa influência e responsabilidade para dar às novas gerações exemplos que possam apreender e seguir.
IPS: Acredita que ações e campanhas como a “Una-se” podem conseguir uma mudança real no plano local, também em matéria de leis e comportamentos de longo prazo?
AS: Totalmente. Campanhas com a do secretário-geral nos dão uma ferramenta poderosa para desafiar em todo o mundo aqueles que afirmam que a cultura, a religião ou as leis nacionais justificam a restrição dos direitos humanos das mulheres. Elas proporcionam aos governos parâmetros e padrões que podem implantar sob a forma de leis e políticas. Também fornecem uma ferramenta para que os governos sejam responsáveis e para medir seu desempenho, não apenas com base em seus próprios padrões nacionais e recursos locais, como também segundo regras comuns internacionalmente aceitas. Além disso, proporcionam à sociedade um modelo diferente e aos ativistas um poderoso contexto para lobby. E, sobretudo, dão esperança às mulheres, vítimas e sobreviventes em todo o mundo. Envolverde/IPS