Nova York, Estados Unidos, 1/11/2011 – Como forma de destacar a contribuição do sistema solidário de organização à economia mundial, a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou ontem o Ano Internacional das Cooperativas, que será celebrado em 2012 e envolve 800 milhões de entidades em mais de cem países. Uma cooperativa é “uma associação voluntária autônoma de pessoas que se unem para cobrir suas necessidades e aspirações econômicas, sociais e culturais comuns mediante uma empresa gerenciada de forma conjunta e organizada de maneira democrática”, segundo definição da ONU.
As cooperativas podem desempenhar um papel importante ao contribuir para que sejam alcançados os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio em 2015, afirmam numerosos
especialistas. O “Ano Internacional das Cooperativas 2012: Empresas Cooperativas Constroem um
Mundo Melhor”, designado pela ONU, com a colaboração do Comitê para a Promoção e o Progresso das Cooperativas (Copac), se propõe gerar consciência sobre o trabalho dessas organizações, fortalecer sua influência na sociedade e incentivar debates nos 193 Estados-membros das Nações Unidas.
O tema será celebrado com conferências, seminários, painéis, publicações e filmes. A participação dos países-membros da ONU é essencial, pois um dos objetivos é impulsionar os governos a criar políticas e leis que incentivem a formação e o crescimento de cooperativas. Alguns países criaram comitês nacionais para coordenar encontros locais e reunir associações em vários níveis, desde cooperativas, passando por mídias e desenvolvimento, até organizações não governamentais.
A IPS conversou com Felice Llamas, coordenadora do ano internacional das Cooperativas, do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU, sobre o papel dessas organizações no desenvolvimento.
IPS: Por que é importante ter um Ano Internacional das Cooperativas?
FELICE LLAMAS: A ONU recorre a essa estratégia para chamar a atenção sobre assuntos significativos e para incentivar a ação sobre questões de importância mundial. Neste caso se destaca a contribuição das cooperativas ao crescimento econômico. Com essa designação, a ONU busca ajudar a conscientizar sobre essa situação e promover o crescimento desse tipo de empresas como um modelo inquestionável para impulsionar o desenvolvimento.
IPS: Quais são as características ou os princípios que definem as cooperativas?
FL: As cooperativas são empresas que pertencem aos seus membros e organizações de ajuda mútua, que desempenham um papel importante melhorando as condições socioeconômicas de seus
integrantes e de suas comunidades. Alguns dos princípios e valores que as caracterizam são autofinanc
iamento, igualdade e responsabilidade social, um enfoque participativo e democrático e a preocupação pela comunidade. Mediante seu interesse pelo bem comum, contribuem para a integração e a coesão social, bem como para o bem-estar da sociedade em geral.
IPS: Qual a contribuição das cooperativas para se ter um mundo melhor?
FL: Para começar, criam, melhoram e protegem a renda e o emprego de seus integrantes e contribuem para reduzir a pobreza. Também apoiam e promovem o setor das pequenas e médias empresas. O enfoque participativo e democrático das cooperativas contribui para o poder das mulheres, dos jovens, das pessoas deficientes, idosas e indígenas, além de promover a inclusão e a co
esão social. Tudo isso ajuda a criar um ambiente melhor. O mundo deve enfrentar sistemas
financeiros instáveis, a insegurança alimentar em alta e o crescimento desigual, bem como uma rápida mudança climática e a degradação ambiental. Nesse contexto, as cooperativas oferecem um modelo de organização empresarial capaz de lidar com os desafios atuais.
IPS: Acredita que as cooperativas podem ajudar a atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio antes de 2015?
FL: Conhecemos cooperativas que ajudam a reduzir a pobreza e a gerar emprego. Nelas trabalham mais de cem milhões de pessoas no mundo. As 300 maiores associações têm faturamento total de US$ 1,1 bilhão. Em muitas partes do mundo as cooperativas de trabalhadores e agrícolas, por exemplo, melhoram a vida de seus integrantes. Estas últimas desempenham um importante papel
na produção e distribuição de alimentos, o que apoia a segurança alimentar. Além disso, fortalecem as economias local e regional. Como são empresas que pertencem aos seus integrantes, uma parte importante de sua renda permanece no âmbito local, o que ajuda outras organizações, bem como a
arrecadação de impostos. Também se deve destacar que muitas cooperativas destinam uma quantia importante de sua renda a projetos comunitários como escolas e centros de saúde. Os ODM são metas mundiais, mas ao operarem no âmbito local as cooperativas contribuem para seu
cumprimento.
As Nações Unidas promovem as cooperativas há anos e reconhecem a contribuição de sua agenda ao desenvolvimento. Na Cúpula Social, de 1995 em Copenhague, foi subestimada a contribuição de seu enfoque centrado nas pessoas ao desenvolvimento econômico. As Diretrizes de 2001 da ONU e a recomendação 193 da Organização Internacional do Trabalho, de 2002, sobre a promoção de cooperativas serviu para criar um ambiente propício para sua formação. Esses mecanismos contribuem para que os governos ofereçam um clima adequado para que possam competir com outro tipo de empresa. A celebração do Ano Internacional das Cooperativas em 2012 lhes dará visibilidade e destacará sua contribuição social. A ONU busca dar-lhes maior apoio para facilitar e melhorar a colaboração regional e internacional desse tipo de empresa. Além disso, esperamos que o fato promova um diálogo efetivo entre governos, o movimento cooperativo, a academia e outros atores que identifiquem estratégias e prioridades para criar um plano de ação para depois de 2012. Envolverde/IPS