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Economia limpa para salvar o maior mangue do Caribe

O grupo infantil El Bosque interpreta um canto em favor da Ciénaga de Zapata, que Cuba espera ver declarado Patrimônio Natural da Humanidade. Foto: Jorge Luis Baños/IPS
O grupo infantil El Bosque interpreta um canto em favor da Ciénaga de Zapata, que Cuba espera ver declarado Patrimônio Natural da Humanidade. Foto: Jorge Luis Baños/IPS

 

Ciénaga de Zapata, Cuba, 26/11/2013 – As 18 comunidades de Ciénaga de Zapata, em Cuba, maior mangue do Caribe insular, viviam manchadas de carvão e sobreviviam da abundante caça e pesca. Mas isso já não é possível em tempos de mudança climática. Há alguns anos era impensável que homens e mulheres dessa Reserva da Biosfera, no ocidente de Cuba, deixassem de explorar a floresta para elaborar carvão vegetal, extrair madeiras preciosas ou caçar crocodilos e veados.

“Antes éramos predadores de flora e fauna”, contou à IPS um de seus moradores, Mario Roque, de Batey Caletón, cerca de 200 quilômetros a sudeste de Havana. “Fui até pescador ilegal. Mas aprendi a melhorar minha economia afetando menos a natureza”, acrescentou. Espontaneamente, empreendedores desse território pantanoso, como Roque, exploram iniciativas limpas de ecoturismo, criação de animais e pequenas hortas, pouco comum nesse lugar de caçadores, pescadores e coletores.

Mayito, como é chamado por todos, dedica quatro quartos de sua casa para hospedar turistas, desde que em 2010 o governo comunista cubano ampliou as atividades privadas permitidas. Como ele, uma grande quantidade de moradores de Playa Girón, Playa Larga, Caletón e outros lugares costeiros do mangue colocaram cartazes de “aluga-se quarto” em suas casas.

Apenas 9.300 pessoas habitam os 4.322 quilômetros quadrados de Ciénaga de Zapara, o município mais despovoado do país. Suas riquezas estão nas extensas florestas, nos pântanos que cobrem 1.670 quilômetros quadrados e em mais de 165 espécies migratórias e autóctones, com o crocodilo cubano (Crocodylus rhombifer). Em 2000, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) declarou o mangue, que ocupa toda a península de Zapata e suas áreas vizinhas, como Reserva da Biosfera.

Um ano mais tarde a Convenção sobre Mangues, conhecida como Convenção Ramsar, o incluiu em sua lista daqueles com valor internacional. “O turista que vem aqui ama a natureza e se sente à vontade quando vê que também a amamos”, observou Roque, que serve aos seus hóspedes peixe-leão (Pterois antennata), uma espécie invasora que prejudica o ecossistema marinho da península. “A cada dia tenho que ir mais fundo para encontrar um”, contou com orgulho.

A hospedaria se abastece de ovos de galinha, coelhos, condimentos, plantas medicinais e vegetais que produz em sua horta ecológica. No terraço há um aquecedor solar de água, fabricado com garrafas plásticas e latas recicladas. “Economizo 500 pesos (US$ 20) mensais desde que o instalei”, comemorou Roque. Sem pretender sê-lo e quase sem saber, ele incorporou ao seu negócio medidas de adaptação ao aquecimento global. Esse fenômeno pode elevar em 85 centímetros o nível do mar até 2050 na área, afetando entre 60% e 80% do território do mangue, segundo o geógrafo Ángel Alfonso.

Os mangues cobrem 9,3% da superfície cubana e são áreas tanto vulneráveis quanto cruciais para mitigar e enfrentar as previsões de elevação das temperaturas, intrusão marinha e eventos superextremos, explicou Alfonso à IPS. “Resguardam a vida terra adentro”, destacou, porque filtram e purificam as águas contaminadas e são barreiras costeiras para as ondas, os furacões e a salinização da água doce. Deles dependem cerca de 25% da produtividade dos ecossistemas cubanos e mais de 40% dos serviços ambientais.

A Ciénaga de Zapata, na província de Matanzas, tem pontos fracos para enfrentar seu futuro, embora seja o mangue melhor conservado das ilhas caribenhas, apontou Alfonso. Suas bacias de águas superficiais e subterrâneas salinizaram, suas paisagens se fragmentaram e persistem os desequilíbrios no funcionamento ecológico. Tampouco foi eliminado totalmente o desmatamento, a caça e a pesca ilegais de espécies protegidas, como o crocodilo cubano, em risco de extinção, e nem os fornos de carvão vegetal em lugares proibidos e com base em madeiras proibidas. “Quando se margeia a costa de barco, se vê caçadores de crocodilos e os fornos de carvão na floresta”, afirmou à IPS um biólogo que pediu para não ser identificado.

Leyaní Caballero, da delegação no mangue do Ministério de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente, explicou que “há leis e regulamentações que protegem esses recursos, mas nem sempre são cumpridas. Algumas pessoas as violam por desconhecimento ou por ser a maneira que conhecem para satisfazer suas necessidades”. Caballero acrescentou que “falta criar mecanismos de manejo, para que os moradores da reserva se beneficiem da floresta sem intenção de lucro, e tampouco existe um plano de desenvolvimento integral sustentável, em correspondência com as estratégias gerais do país”.

Esses e outros problemas vieram à tona nos painéis do projeto Transformação para o Desenvolvimento Local em Pequenos Grupos Comunitários da Ciénaga de Zapata, dedicado a capacitar líderes locais. Em 2012, capacitou 20, e 27 neste ano, os quais, em sua maioria, já tinham empreendimentos amigáveis com a natureza. “Procuramos guiar um pouco as pessoas para um melhor desenvolvimento”, disse à IPS um desses líderes, Antonio Gutiérrez, que combina o trabalho de carpintaria com a criação e venda de aves, como a cacatua.

Esse operário participa do projeto para levar mais gente a essa atividade econômica, “que conscientiza sobre o cuidado com as aves”. Uma vez por mês se reúnem artesãs, criadores de animais para consumo familiar, promotores de ecoturismo, produtores agroecológicos e de plantas ornamentais, unidos por desejos de melhoria para eles e suas comunidades, e juntos diagnosticam os problemas e aprendem sobre temas como liderança e mercado para buscar soluções ao seu alcance.

“Não temos que esperar que tragam toda a comida de outros territórios”, disse Aliuska Labrada, uma trabalhadora doméstica que completa a dieta de sua família com mandioca, abóbora, goiaba, manga e outros alimentos cultivados no solo pedregoso e salino de sua horta, em Cayo Ramona. Em um país onde há 5.688 cooperativas, um dos maiores resultados do projeto até agora foi ajudar a criar o primeiro projeto coletivo agrícola do município, disse Caballero. A iniciativa foi apoiada pela delegação ambiental local, com apoio da Fundação Nicolás Guillén e da organização não governamental suíça Zunzun.

Para melhorar a proteção do mangue, o governo cubano o inscreveu, em 2003, para ser reconhecido pela Unesco como Patrimônio Natural da Humanidade. Envolverde/IPS