Sociedade

Educação Sanitária: estratégia de acesso ao saneamento básico à preservação dos rios

Por Kátia Mello* – 

O acesso à água é uma demanda da população. Não é difícil ver moradores em programas de TV, com cartazes nas mãos, baldes vazios reclamando da falta de água na torneira de casa. E por que o acesso a sistemas de esgotamentos ainda não tem o mesmo apelo? Quando pensamos em um projeto de cidade mais sustentável, devemos lembrar da manutenção da qualidade dos rios e das águas no seu ciclo completo para ir além da demanda individual.

A destinação irregular dos esgotos ainda é a principal causa de poluição em rios e córregos, por isso a universalização do serviço de água e esgoto passa pela transformação da saúde dos rios e das pessoas. A educação sanitária tem o poder de criar um clamor pelo saneamento pleno, como existe pela água, de modo que estas demandas mobilizem governos e governantes em ampliar as coberturas de sistemas de saneamento.

Falar sobre esse eixo do trabalho técnico-social tem impacto direto no aumento da consciência sobre o direito e sobre o impacto ambiental das práticas do dia a dia.

O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável Nº 6 visa garantir o direito à água potável e saneamento básico. Diante dele, o tema da educação sanitária parece secundário, uma vez que quase 100 milhões de brasileiros (45%) ainda não têm acesso à coleta de esgoto, segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – SNIS 2020. Mas a educação sanitária ambiental também é uma ferramenta de mobilização social e ajuda na conscientização do papel de cada agente social para a garantia do saneamento, desde o poder público, como prefeituras e secretarias, passando pelas concessionárias de saneamento até o papel de comunidades e indivíduos para o uso correto desses sistemas.

Na ausência de uma rede de esgoto planejada, para parte das pessoas afastar o esgoto parece ser o suficiente, mas não é. Isso porque, a longo prazo, o esgoto não tratado que é jogado no solo e nos rios, acarretando também na poluição de todo o ambiente, chegando até aos lençóis freáticos. Em 2020, o percentual de esgoto não tratado no país representava 5,3 milhões de piscinas olímpicas despejadas na natureza, segundo dados do Ranking de Saneamento Básico do Instituto Trata Brasil 2020. Isso significa que 49,2% do esgoto do país é descartado na natureza sem ser tratado.

Engana-se quem pensa que a educação sanitária é necessária apenas para comunidades pobres e em situação de vulnerabilidade social. Pelo contrário, educação sanitária e ambiental é para toda a população.

Se por um lado, o acesso ao saneamento adequado é uma emergência, por outro, a fiscalização e mudança de hábitos é uma urgência. A conscientização sobre banhos demorados e o questionamento a respeito da destinação irregular de esgotos de prédios de luxo também fazem parte da educação sanitária. A mensagem principal é a conexão entre hábitos automáticos do dia a dia com o impacto que causam na natureza.

A atuação de uma frente educacional costuma ser parte do trabalho técnico social que vem sendo incluída em projetos e contratos de obra de reassentamento, pós-ocupação, gestão social de habitação e re-urbanização.

As estratégias aliadas às obras são sempre com o objetivo de mobilizar pessoas, explicando a importância dessas alterações no território. A comunicação é o trabalho principal da educação sanitária, promovendo reuniões e buscando inovar com estratégias diversas para efetivamente envolver a comunidade, como palestras, mostras de filmes com temática ambiental, reuniões antes de encontros religiosos ou outros eventos rotineiros, além de demonstração do impacto ambiental por meio de maquetes, visitas educativas e até escritórios itinerantes.

Já na esfera da oferta desse serviço, o desafio é convencer a destinação de mais verba para a potencialização dos resultados, que significam um investimento indireto na sustentabilidade das obras e proporcionam economia de recursos com manutenção. Sem contar com todo o trabalho de sensibilização para que a obra seja bem vinda aos olhos do público.

Para os sistemas de distribuição de água potável e coleta de esgotos, considera-se também a implantação da tecnologia condominial, com vistas a reduzir os investimentos, universalizar o atendimento, minimizar os impactos urbanos em áreas consolidadas e controlar e diminuir as perdas no sistema de abastecimento d’água, adaptando-se a toda e qualquer urbanização, habitação e/ou conformação topográfica.

É importante aplicar metodologias que contemplem a participação da comunidade e educação sanitária e ambiental, como a metodologia de Sistema Condominial usada pela Diagonal e Condominium, no caso da implantação do sistema de esgoto e distribuição de água potável.

Vemos na prática como essa é hoje uma das principais ferramentas de mobilização social para a preservação dos rios em grandes centros urbanos. A educação sanitária e ambiental existe, então, para que as pessoas façam bom uso do sistema, cuidem da destinação do lixo e sejam ativas nas boas práticas para o consumo de água.

* Kátia Mello é engenheira civil e sanitária, em 1990 co-fundou a Diagonal com Álvaro Jucá e hoje é a Responsável Técnica da empresa. Já passou por diversos cargos de diretoria e gerência no governo de Pernambuco e na prefeitura de Recife e, à frente da Diagonal, desenvolveu propostas inovadoras que contribuíram para a empresa se tornar referência em gestão social integrada, gestão territorial e sustentabilidade no Brasil.

 

#Envolverde