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Bons ventos para o Nordeste

Voltalia, Chesf e Encalso inauguram, em Serra do Mel/RN, o Complexo Eólico Vamcruz, com 93 MW de capacidade instalada e potencial para produzir em torno de 450 GWh por ano, eletricidade capaz de abastecer mais de 200 mil famílias.

Por Juliana Guarexick, da Envolverde 

Vamcruz é o terceiro empreendimento eólico da Voltalia a entrar em operação no Rio Grande do Norte. Foto: Voltalia
Vamcruz é o terceiro empreendimento eólico da Voltalia a entrar em operação no Rio Grande do Norte. Foto: Voltalia

Um município dividido em vilas comunitárias, onde o sertão e o litoral se encontram. A excêntrica Serra do Mel – RN, que conquistou sua independência econômica a partir da produção do caju, tem hoje em sua paisagem, modernas e gigantescas torres eólicas de 120 metros de altura.

O Complexo Eólico Vamcruz, é um exemplo de que os bons ventos do Nordeste podem atrair investimentos em energia limpa para região. Apostando nesse potencial competitivo, a companhia francesa, Voltalia, no Brasil há 10 anos, comemora a concretização de seu terceiro empreendimento eólico, no estado do Rio Grande do Norte.

A cerimônia de inauguração foi realizada na última quarta-feira (29), em Serra do Mel. Estiveram presentes, o Prefeito de Serra do Mel, Fabio Bezerra de Oliveira; o Country Manager da Voltalia Brasil, Robert Klein; o Diretor Presidente da Chesf, José Carlos de Miranda Farias; e Roberto Miller, representante do Grupo Encalso Damha. O projeto foi realizado em parceria entre as três empresas.

Placa de Inauguração2
Foto: Voltalia

Klein considerou o momento delicado vivido pelo Brasil, mas foi otimista em sua fala: “O país vive tempos turbulentos, de incertezas e de bastante preocupação. Mas é justamente nesses momentos que fica ainda mais importante festejar e orgulhar-se da vitória”, ressalta.

O Complexo Eólico Vamcruz é composto pelos parques Caiçara I, Caiçara II, Junco I e Junco II, e tem capacidade instalada de 93 MW, com potencial para gerar aproximadamente 450 GWh por ano e ainda reduzir, anualmente, a emissão de CO² em aproximadamente 160.535 toneladas. 

Além dos Complexos de Areia Branca, São Miguel do Gostoso e Vamcruz, que somam 291 MW em operação, a Voltalia prossegue na expansão de geração de energia eólica no Rio Grande do Norte. A empresa está construindo o Complexo Serra Pará, vizinho à Vamcruz, com capacidade instalada de 99 MW e operação prevista para iniciar no final deste ano.

Na sequência, a Voltalia irá construir o Parque Vila Acre I, também localizado no município de Serra do Mel, com capacidade instalada de 27 MW. Este próximo empreendimento tornou-se possível a partir do último leilão de que a empresa participou, em novembro de 2015.

Robert Klein: "“Alguém fez o mundo muito bem e colocou os ventos em uma área que ainda precisa ser desenvolvida". Foto: Voltalia
Robert Klein: ““Alguém fez o mundo muito bem e colocou os ventos em uma área que ainda precisa ser desenvolvida”. Foto: Voltalia

Negócio e desenvolvimento local

Presente na França, Brasil, Grécia, Guiana Francesa e Marrocos, a Voltalia aprendeu que a lição para o sucesso se faz primeiro dentro de casa. “Não é somente gerar energia limpa e sustentável. Obviamente senão tiver lucro para os acionistas não há negócio, mas também é preciso trazer benefícios para a população local”, comenta Klein.

Nas regiões onde atua, a Voltalia mantém relevantes projetos socioambientais. Um exemplo é o “Água e Renda”, nas Vilas Pará e Amazonas (região de Serra do Mel), que permite o acesso à água potável para as comunidades locais. Isso acontece graças a um processo de dessalinização da água salobra existente na região.

O tratamento dos efluentes promove, ainda, a criação de tilápias, além do cultivo de palma e erva-sal para alimentação animal (ovinos e galinhas). O processo é necessário para o tratamento dos rejeitos gerados na dessalinização e contribui para a preservação do meio ambiente. Os produtos são comercializados pelos próprios moradores e o projeto se sustenta com o ciclo gerado pelo consumo da água potável. Estima-se que o projeto já beneficia 139 famílias desde maio de 2015.

Instituições reconhecidas por sua qualidade técnica em âmbito nacional – como Sebrae, Senar e Emparn – foram contratadas para realizar as capacitações necessárias e tornar operacional o sistema do projeto “Água e Renda”, com o envolvimento direto dos moradores locais, de modo a garantir o seu sucesso.

Outros projetos socioambientais de destaque conduzidos pela Voltalia envolvem a “Academia do Idoso”, em que os idosos da região de Serra do Mel têm acesso a equipamentos que possibilitam movimentos, sem que haja sobrecarga em suas articulações; “Bem na Escola, Bom no Esporte”, projeto esportivo que utiliza o tênis como motivador para melhorar o desempenho das crianças na escola e também no convívio familiar; “Quintais Produtivos”, visa o reaproveitamento de águas cinzas provenientes de pias, chuveiros e máquinas de lavar e que, após o processo de filtragem, possibilita a produção de alimentos, irrigação de hortas e a manutenção de uma cerca viva com árvores ou arbustos.

Klein diz que ter sua empresa operando em Serra do Mel foi uma questão de sorte. “Alguém fez o mundo muito bem e colocou os ventos em uma área que ainda precisa ser desenvolvida. E eu acho que a eólica hoje tem um papel fundamental no desenvolvimento do Nordeste”, explica.

Pôr do Sol no Complexo de Vamcruz, em Serra do Mel. Foto: Voltalia
Pôr do Sol no Complexo de Vamcruz, em Serra do Mel. Foto: Voltalia

Futuro incerto

O Brasil está vivendo um momento de recessão econômica e por consequência a queda da demanda de energia. Especificamente para eólica o quadro é de incertezas. O último leilão realizado pelo governo federal, em abril, não teve oferta para esta fonte. O leilão de reserva, previsto para 29 de julho, foi adiado sem data definida para execução.

A pausa nos leilões de energia pode afetar todo o setor eólico. “O que preocupa é que tem uma cadeia de fornecedores, investimentos, desenvolvedores que se criou no Brasil, com muitos projetos esperando. Se não há potência contratada esse ano, pode haver dificuldade em se manter a indústria eólica. Diante essa dúvida estamos um pouco preocupados”, alerta Klein.

O presidente da Chesf, José Carlos de Miranda, também reconheceu que há incertezas quando ao crescimento do país nos próximos anos, mas entende que o Governo Federal tem tomados todas as medidas necessárias para reverter esse quadro. “De fato passamos por um momento de final de crise, e falo final porque sou otimista, pois toda crise passa e essa também vai passar. O crescimento de energia elétrica no Brasil há de continuar. Temos uma população jovem, que vai casar, e demandar energia”.

Embora venha enfrentando grandes desafios, a geração eólica no Brasil – que corresponde a 7% da matriz energética brasileira – tem potencial para continuar crescendo. O levantamento “Energia Eólica no Brasil e Mundo”, do Ministério de Minas e Energia, aponta que o país foi o quarto colocado no ranking mundial de expansão de potência eólica em 2014.

A estimativa do governo é de que a capacidade instalada dessa fonte no país chegue a algo em torno de 24 mil MW. Desse total, 21 mil MW deverão ser gerados no Nordeste, o que vai representar 45% do total produzido na região. Que venham outros leilões por aí, e com eles ventos positivos para o Brasil. (#Envolverde)