por Juliana Zellauy, especial para a Envolverde –
Como consultora tenho tido a oportunidade de acompanhar de perto empresas de diferentes setores, tamanhos e linhas de atuação em sustentabilidade, no caminho para o engajamento de seus stakeholders. No entanto, percebo que a maioria se depara com questões-chave comuns que as impede de construir um engajamento efetivo. Assim, gostaria de compartilhar hoje com você alguns insights para elucidar um pouco o processo de engajamento e como realizá-lo na sua melhor forma.
Considerando o primeiro grau de maturidade empresarial neste tema, a questão inicial que as organizações enfrentam é: por que realizar o engajamento com os meus stakeholders? O que a minha empresa pode obter de benefícios com esta prática?
Bem, o engajamento com as partes interessadas propicia o desenvolvimento de inovações e de novas abordagens operacionais, a identificação de questões emergentes e “pontos cegos” com capacidade de influenciar o desempenho organizacional, uma maior compreensão das perspectivas da sociedade em geral sobre as suas questões de sustentabilidade, o auxílio na busca do conciliamento de questões críticas, o fortalecimento da credibilidade e reafirmação do seu papel como parceiro em soluções e gerador de valor, o acesso às expertises e assessoria externa, a promoção do aprendizado organizacional, a melhoria das relações com a comunidade e o fortalecimento de uma imagem pública positiva, além da prevenção de conflitos e a manutenção da licença para operar, expandir e inovar. Para tanto, o diálogo com fornecedores, clientes, governo, órgãos reguladores, acionistas, investidores, colaboradores, sindicatos, associações empresariais, comunidades, imprensa, startups, negócios sociais, ONG´s e até mesmo concorrentes, pode e deve ser realizado como uma via de mão dupla: trazendo insumos de grande riqueza para a organização e provocando respostas que atendam as questões levantadas.
A partir do momento que as empresas tem de forma clara a importância de realizar o engajamento, o desafio torna-se como realizá-lo de forma efetiva. Neste sentido, como pedra fundamental, para que ele ocorra, é necessário que seja realizado um verdadeiro Relacionamento com seus públicos de interesse. Parece óbvio, não é? Mas a questão para as empresas é que grande parte delas ainda identifica o ato de engajar com ações pontuais, como uma pesquisa de satisfação aqui, um encontro com fornecedores ali, uma reunião com investidores anual, iniciativas esporádicas que não mantém um relacionamento duradouro com as suas partes interessadas, nem auxiliam na detecção ou solução de questões críticas ao negócio. Além disso, estas ações, muitas vezes são apenas reativas à determinadas situações, como a realização de uma pesquisa de opinião após detectar o aumento no número de reclamações dos clientes. No entanto, um relacionamento pressupõe convivência, troca, regularidade, mas também pro-atividade, ou seja, não responder apenas quando uma situação adversa aparece ou como reação às demandas das partes interessadas conforme surgem, mas provocar e manter o diálogo fluindo, trabalhando lado a lado com seus stakeholders como verdadeiros parceiros que contribuem diretamente para a perenidade do seu negócio.
Assim, mais do que ações pontuais, de maneira resumida, para promover um verdadeiro engajamento de suas partes interessadas, é preciso fomentar o que eu chamo de 4 R´s do Engajamento que, além do Relacionamento de longo prazo como pedra fundamental, engloba: o Respeito mútuo entre as partes para uma convivência saudável e frutífera, sem o qual o relacionamento não se mantém (respeito ao seu fornecedor, ao governo, à imprensa, às organizações não-governamentais, para citar apenas alguns, e às suas respectivas escolhas e pontos de vista); propiciar o real diálogo e não apenas realizar um repasse de informações, pressupondo então Respostas da outra parte – e, não menos importante, que haja uma Regularidade deste diálogo.
Mas estes são os conceitos, o ponto de partida, mas e a prática? Para iniciar o processo, ter primeiramente a liderança comprometida na iniciativa é fundamental. Em um segundo momento, ter um mapeamento preciso dos stakeholders e dos seus temas de interesse, determinar representantes e lideranças representativas para tratar com eles os temas em comum é essencial. Além disso, possuir um plano de ação, metas e indicadores específicos para este diálogo e criar um painel de partes interessadas que acompanhe regularmente o desenvolvimento da empresa demonstrará a seriedade, transparência e abertura ao diálogo da organização, contribuindo para o fortalecimento da sua reputação. Como boa prática, a francesa Suez Environment, empresa de saneamento de água e resíduos de 160 anos de idade, além de possuir metas específicas para o diálogo e para o mapeamento de stakeholders em todas as suas unidades, também criou um painel de partes interessadas moderado por uma terceira parte independente que realiza o acompanhamento anual do desenvolvimento sustentável do grupo, das estratégias e do desempenho da sua Sustentabilidade e Responsabilidade Social Corporativa.
Considerando que toda organização é um conjunto dinâmico de relações e que a sua importância e sua perenidade são proporcionais ao valor que ela gera para a sociedade, o estabelecimento de parcerias com seus diversos stakeholders deve ser parte fundamental do trabalho de toda organização. Neste sentido, engajamento é trabalhar junto com vistas à um propósito comum, utilizando a inteligência coletiva e a diversidade de perfis e pontos de vista para atingir resultados ainda melhores.
O caminho não é simples, mas quem disse que qualquer relacionamento o é? (#Envolverde)