“No momento que o país atravessa, queremos criar espaços de troca que inspirem soluções”, diz Jorge Abrahão, diretor-presidente do Ethos.
Com o tema “As empresas na prevenção e no combate à corrupção” foi aberta a Conferência Ethos 360° no WTC em São Paulo, nesta terça-feira (22), evento esse que reúne lideranças, gestores e empreendedores em torno de negócios inovadores e sustentáveis. Reunindo nomes de expressão nacional como o diretor presidente do Instituto Ethos, Jorge Abrahão, Andreas Pohlmann, jurista especializado em compliance, Fausto de Sanctis, desembargador do Tribunal Regional Federal e a Célia Carpi, presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos.
O Ethos, desde 1998, busca a essência da transformação das empresas, ao mesmo tempo em que a construção de ambientes favoráveis para influenciar boas políticas públicas. “Sempre procuramos estimular acordos, reunir atores intersetorialmente e estimular ações coletivas em torno de temas como o clima, a biodiversidade, tecnologias limpas, práticas responsáveis e integridade, entre outros”, seguiu o dirigente que destacou a importância de engajar as empresas na transformação necessária dos modos de produção.
Em seus 17 anos de existência, o instituto tem mostrado que sustentabilidade está ligada à gestão de risco, retenção de talentos, reputação, geração responsável de lucros e inúmeros impactos positivos tangíveis e intangíveis para as empresas. “Nossos associados mantêm uma agenda proativa; organizam-se em grupos de trabalhos e assumem compromissos. Essa atuação contribui para a formulação e atualização de leis, como a política anticorrupção em nosso país”. Para Abrahão, o Brasil está em um momento positivo, com muitas leis que permitem que se avance.
Andreas Pohlmann, jurista especializado em compliance – área empresarial responsável por garantir a atuação estritamente dentro da lei – abriu o debate inicial, lembrando que, como estrangeiro, sempre ouviu de brasileiros um conformismo com a corrupção. “Diziam: aqui todos fazem e quem não faz, é trouxa”.
Alguns afirmavam que ofereceram propina para fechar um negócio, não em benefício próprio; mas sim, pelo bem da empresa; sem tirar proveito algum. “Isso não existe. A pessoa o faz para ter uma promoção, um bônus”, analisou Pohlmann. O especialista relatou em seguida o caso da Siemens, uma das companhias pioneiras em combater práticas de corrupção internamente.
“Foi fundamental, para essa indústria, a exigência de seu CEO de determinar negócios limpos em todo o mundo. Essa decisão deve estar no topo”, falou, ao citar que é comum existir uma mensagem dúbia, contrapondo lucro a compliance, como se o primeiro fosse mais importante que a segunda.
Pohlmann pontuou que o momento de escândalos atravessado pelo Brasil não é exclusividade daqui e que é possível mudar. “É preciso levar fatos e atitudes ilegais aos superiores. Da mesma forma, garantir a não retaliação para quem falar”. As lideranças devem dar o exemplo, fazerem o que falam, estarem abertos para ouvir e lembrar que lidam com gente.
Para Fausto de Sanctis, desembargador do Tribunal Regional Federal, o ser humano traz em si, a mesma ânsia predatória que existe na natureza. “Nascemos antissociais e na educação obtemos valores; afastamo-nos de nossa individualidade e da vontade de exploração desmedida e egoísta”. Ele ressaltou a importância das leis nesse processo civilizatório e lembrou que a intolerância à corrupção está maior.
“Delação premiada sempre existiu no Brasil, mas é preciso dar uma resposta objetiva, com foco nas vítimas. O momento atual é muito interessante. O combate à corrupção melhorou. Contudo, há um movimento contrário para desconstruir as conquistas. Faz-se necessária permanente vigilância das estruturas que funcionam no Brasil”, finalizou o desembargador.
Já para Célia Carpi, presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos, complementou ao destacar que o Brasil mostra maturidade de nossas instituições para esse desafio. Instituições ainda em construção e que precisam do engajamento de cada um de nós. “Vamos atuar com tolerância zero à corrupção no trabalho e também no dia-a-dia, na família e em tudo que fazemos”, convidou.
“Vamos aprimorar nossa capacidade de abordar esse tema. Não há política sã, sem sociedade sã”, acrescentou, afirmando sua crença de que podemos sair dessa crise com uma sociedade mais robusta e ética. As formas para isso serão aprofundadas nas rodas de conversas, mesas e debates dos dias do encontro. “Queremos uma conferência de muita reflexão e também de criatividade”, concluiu a executiva. (Ethos/ #Envolverde)
* Por Neuza Árbocz da Envolverde, especial para o Instituto Ethos.