Clima

Investir em empresas sustentáveis é mais seguro para o planeta e para os negócios

Foto: Twitter/ AXA
Foto: Twitter/ AXA

Por Pedro Z. Malavolta, especial de Paris para a Envolverde –

Executivos de grandes empresas financiadoras estiveram na COP em Paris, na tarde desta sexta-feira (4/12), para confirmar uma tendência: os negócios sustentáveis e a economia de baixo emissão de carbono vão receber cada vez mais recursos. Eles integram a Investor Platform for Climate Action (em português, algo como Plataforma dos Investidores de Ação pela proteção do Clima), uma iniciativa que foi lançada em maio deste ano, também em Paris, durante um seminário sobre mercado financeiro e mudanças climáticas.

Hoje a plataforma reúne mais de 400 empresas que administram fundos de mais de US$ 25 trilhões pelo mundo. Todas estão comprometidas em alterar as suas políticas para a escolha do destino de seus investimentos. Algumas delas contaram as suas experiências durante evento realizado na zona azul da COP, área destinada às delegações dos países e a imprensa.

Henry de Castries, CEO da segurada francesa AXA, explica porque dessa mudança de comportamento. “Dirijo esta empresa há 16 anos, e trabalho nela já faz 36, e percebo que os desastres climáticos são cada vez maiores e mais frequentes. Atuar para diminuir essa questão é uma questão de pensar o mercado no longo prazo”. Em maio desse ano, a empresa anunciou que irá reduzir em meio bilhão de euros sua participação em empresas da cadeia do carvão. E também prometeu triplicar a quantia investida em empresas da economia verde até 2020, chegando a 3 bilhões de euros.

“Nosso trabalho é garantir boas pensões para os nossos clientes. E acreditamos que negócios sustentáveis são mais seguros e podem dar um retorno melhor no longo prazo”, defendeu Heidi Sakaaret, COO da Storebrand, uma empresa do ramo financeiro da Noruega. Parte significativa da empresa está ligada aos fundos de pensão, por isso, Sakaaret afirma que precisa atender a uma demanda dos seus clientes. “Eles se preocupam com o mundo que vão encontrar quando se aposentarem em 10, 15, 20 ou 30 anos.”

A Storebrand também começou a medir suas emissões de carbono, seguindo a metodologia do Montreal Carbon Pledge, que tenta medir o impacto de todas as empresas que as grandes corporações têm participação.

Representando outro fundo de pensão, o CalPERS dos funcionários públicos do estado americano da Califórnia, Anne Simpson comentou sobre a estratégia da empresa em relação a algumas empresas fortemente ligadas à economia do carbono: “Em alguns casos a melhor ação não é sair da empresa e levar o dinheiro, mas negociar uma mudança na maneira como ela trabalha. Podemos usar o nosso peso como acionista até para fazer uma empresa mudar de ramo”. Segundo Simpson existem conversar com empresas do setor de carvão que tentam isso. “Temos que levar em conta muito fatores: o ambiental, o social e a garantia do bom rendimento dos nossos segurados. Sair da empresa pode levar a um aumento do desemprego e também ser um mau negócio financeiramente”, detalha.

Usar o peso como acionistas para provocar mudanças nas empresas é hoje uma das novidades no cenário da África do Sul, segundo Donna Oosthuyse, diretora de Mercado de Capitais da Bolsa de Valores de Joanesburgo, a maior bolsa do continente africano. “Os investidores estão agora exercendo seu poder para o impacto que as ações das empresas podem ter em termos de impactos ambientais, mas também em relação à imagem”.

Limitações das ações das empresas

As ações das empresas para o combate à mudança climática tem sido uma das questões que mais tem recebido destaque durante a COP 21. Na manha da mesma sexta-feira, Janos Pasztor, Assitente do Secretário-Geral para Mudanças Climáticas da ONU, apresentou um relatório sobre a somatória de esforços das empresas no período entre a COP no Peru agora em Paris, listando as muitas iniciativas que surgiram para engajar as empresas, como a própria Investor Platform for Climate Action e o Montreal Carbon Pledge.

Porém, logo que são abertas para as perguntas da plateia, algumas fragilidades dessa ação empresarial, ainda muito incipiente, transparecem. Algumas respostas são evasivas. Outras vezes dizem que “fazem o possível”.

Quando questionadas sobre assumir um compromisso de ação para evitar o aumento de 2º da temperatura média, as respostas foram sempre no mesmo sentido, “estamos começando agora”. Heidi Skaaret, da Storebrand, por exemplo, declarou “Esse foi nosso primeiro ano medindo a nossa produção de carbono. Ainda estamos tentando entender como vamos agir para reduzir essa emissão. Mas podemos pensar sobre essa meta no futuro”.

Outro questionamento frequente era sobre a qualidade dos dados da emissão de carbono, três pessoas fizeram questionamentos sobre isso. Ao que Castries, da Axa, respondeu “precisamos começar a medir, mesmo que não seja com a melhor qualidade. Mas sem medir não podemos gerenciar”.

Mariana

O desastre de Mariana também foi lembrado. Simpson, da CalPERS, questionou a BHP, empresa australiana e sócia da Vale na Samarco e que faz parte de iniciativas como a Montreal Carbon Pledge. “Como investidores não podemos escolher qual é a questão que nos importa. Veja o exemplo do Brasil, o BHP está entre as empresas comprometidas com a redução da emissão de carbono, mas ao mesmo tempo participou do desastre no Brasil. Não é fácil, mas, de maneira direta, como donos de negócio precisamos fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo”. (#Envolverde)

* Pedro Z. Malavolta é jornalista, trabalhou na Agência Brasil, no portal iG e no instituto Ethos.