ODS 17

Manifesto empresarial defende "pacto econômico com a natureza"

Um grupo de empresários lançou, no final de agosto, um manifesto ao poder público, à sociedade e ao setor privado, pedindo uma mobilização para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas. O texto sugere a criação de fóruns permanentes de discussão, com o objetivo de desenvolver soluções concretas para esses desafios.

Manifesto empresarial defende "pacto econômico com a natureza"

por Fundação Ellen MacArthur –

O manifesto já conta com a assinatura de pelo menos 50 empresários, com a expectativa de que mais aderências ocorram. Na carta, os empresários se dispõem a colaborar com os Três Poderes e pedem para que esses estejam alinhados no compromisso em torno de um programa que torne o Brasil uma potência de soluções sustentáveis. Eles vêm vantagens competitivas no Brasil, destacando seus enormes ativos naturais como oportunidades para avançar nessa agenda verde. Reconhecem que um pacto com a natureza pode alavancar o Brasil no cenário global e atentam para a necessidade de o país, sede da COP30 em 2025, ter um plano claro de descarbonização da economia nacional.

Os signatários também reconhecem que cabe à iniciativa privada acelerar a adaptação da nossa economia à nova realidade do clima e afirmam que podemos gerar renda e empregos ao mesmo tempo em que se preservam as áreas verdes e transformam os espaços urbanos. No entanto, deixam claro que não têm à mão fórmulas prontas ou soluções fáceis, o que exige um esforço conjunto e coordenado entre governo, setor privado e sociedade civil.

Análise: Luisa Santiago, diretora executiva para a América Latina na Fundação Ellen MacArthur

O manifesto que reuniu dezenas de empresários brasileiros em prol de uma transição da economia a modelos mais amigáveis à natureza e que faça frente à emergência climática é um sinal importante de que o país precisa acelerar ainda mais seus esforços rumo a mudanças claras de seu modelo econômico. Esses empresários afirmam que não têm fórmula pronta ou solução fácil, mas que estão dispostos a colaborar com essa agenda de mudança. A economia circular é uma resposta efetiva, contundente e valiosa para os anseios desses empresários e outros setores da sociedade.

Os desafios levantados na carta são oriundos do nosso atual modelo de economia linear, baseado na lógica de extrair recursos da natureza, transformá-los em bens e serviços que invariavelmente terminam em desperdício. Essa é a lógica predominante de funcionamento da economia desde a Revolução Industrial, quando se iniciaram os sintomas que, acumulados, geram hoje a tripla crise planetária que enfrentamos: crise climática, perda de biodiversidade e poluição.

Para fazer frente a essas crises, é, portanto, imperativo transitarmos a um modelo de economia circular, que oferece uma solução sistêmica para dar conta da causa raiz do problema, com um racional econômico. Isso porque a economia circular oferece oportunidades de ganhos para as empresas, crescimento econômico para os países e prosperidade duradoura.     

Baseada em três princípios – eliminar resíduos e poluição, circular produtos e materiais em seu mais alto valor e regenerar a natureza – a economia circularpode reduzir 9,3 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa, o equivalente a eliminar as emissões de todos as formas de transportes hoje existentes no mundo. Além disso, ela é uma forma efetiva de não só frear o problema da perda de biodiversidade, dado que 90% do problema é decorrente de uma economia linear, mas de reverter a situação, com modelos e práticas que regeneram a natureza desde o design de produtos, serviços e sistemas. E é também a única forma eficaz de acabar com a poluição plástica, que, como já comprovado, não será enfrentada apenas com mais reciclagem, mas sim mudando a forma como os plásticos circulam na economia, se mantendo fora do ambiente. Sabemos, também, que é preciso criar as condições para facilitar a transição para esse novo modelo. E isso requer uma atuação do poder público para criar incentivos e regulamentações que acelerem a adoção de modelos e práticas em uma economia circular e que desincentivem as práticas lineares. 

O Brasil lançou recentemente a sua Estratégia Nacional de Economia Circular e agora começa a detalhar os eixos dessa política. Esse é o momento mais favorável que o Brasil já teve para que as empresas se envolvam e se manifestem sobre o que é importante desobstruir para que elas também possam agir de maneira ambiciosa em favor do meio ambiente e da sociedade.

Envolverde