Por Philip Kaeding, da IPS –
Nações Unidas,1/7/2016 – Companhias, governos e atores sem fins lucrativos concordaram que o crescimento econômico e o desenvolvimento sustentável precisam seguir juntos para que nosso o mundo, cada vez mais globalizado, seja mais justo.Mas há muito a ser feito para que investidores e gerentes de empresas se convertam em verdadeiros sócios da sustentabilidade, segundo os participantes de uma reunião de diretores, autoridades e representantes governamentais, realizada na quarta semana de junho na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York.
“Sem o setor privado e sem políticas que favoreçam os investimentos privados, podemos esquecer os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)”, apontou a diretora executiva do Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (Unops), Grete Faremo, na Cúpula de Líderes do Pacto Mundial da ONU. Os ODS são os 17 objetivos em matéria econômica, social e ambiental, acordados em 2015 pelos 193 Estados membros da ONU e que deverão ser concretizados até 2030.
Como disse na Assembleia Geral da ONU o diretor-geral da companhia de eletricidade italiana Enel, Francesco Starace, muitas corporações ainda acreditam que devem escolher entre sustentabilidade e lucro. “Ainda nos domina o terror do ‘a ou o’”: economia de combustível ou rapidez, justo ou barato, sustentabilidade ou sucesso, observou. Esse é o contexto que ainda domina a tomada de decisões no mundo das finanças internacionais.
Se considerarmos que as centenas de empresários e empresárias que participaram de uma conferência sobre a criação das redes, em Nova York, foi uma celebração de seus próprios esforços, pode-se dizer que o status quo está mudando. O diretor-geral da Enel, altos representantes da fábrica de automóveis Volvo e inclusive da gigante petroleira Sinopec, entre outros, elogiaram os avanços realizados pelo setor privado na preservação do ambiente.
Lise Kingo, diretora do Pacto Mundial da ONU, afirmou que “está claro que as empresas estão prontas para responder ao chamado” dos ODS. O Pacto Mundial, braço empresarial das Nações Unidas, se tornou uma organização muito atraente desde sua criação, em 2000, com mais de 800 companhias signatárias e mais de 60 redes regionais. A pergunta feita a todas elas na cúpula de dois dias foi: onde estamos parados? E a resposta depende de como se mede o progresso.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, felicitou todos os integrantes do Pacto Mundial. Entretanto, muitos participantes tiveram opiniões ambíguas sobre os avanços obtidos. Dois assuntos foram fundamentais: responsabilidade e participação do setor financeiro. O Grupo de Trabalho sobre Transparência Financeira Relacionada com o Clima (TCFD) é uma das iniciativas para enfrentar a questão da responsabilidade.
Para que um negócio seja ambientalmente sustentável, é necessário impor a obrigatoriedade de fornecer informação a respeito. O grupo de trabalho não pode tomar decisões vinculantes, o que cria uma situação difícil. “Queremos ser ambiciosos, mas temos que ser práticos. Por isso criamos um conjunto de pautas voluntárias”, explicou à IPS Jaycee Pribulsky, do TCFD.
Cerca de 85% dos diretores executivos e gerentes participantes consideraram essencial a sustentabilidade, segundo um estudo realizado pelo Pacto Mundial. Em teoria, a maioria concorda, mas outra coisa é levar o conceito à prática e gerar uma cadeia de fornecimento sustentável.
Uma forma importante de garantir que realmente se concretize a sustentabilidade no terrenoé o setor privado investir em negócios sustentáveis. Entretanto, somente 10% dos consultados disseram que os investidores estão entre os três primeiros impulsionadores da sustentabilidade.
É pouco provável que somente a persuasão consiga concretizar investimentos mais sustentáveis no futuro. Por outro lado para que a injeção de capital resulte atraente deve ter um “impacto ambiental e social positivo, além de benefícios econômicos”, afirmou o diretor executivo da UBS, Michael Nelskaya, e não é um paradoxo.
Empresas como Arabesque Asset Management apresentaram seu enfoque na cúpula. Com uma vasta quantidade de dados, a firma de investimentos criou um grupo com um conjunto de companhias que são sustentáveis segundo várias definições e promissoras em termos econômicos. A iniciativa recebeu muitos elogios nos dois últimos anos e é uma das possíveis soluções para o dilema entre sucesso e sustentabilidade.
Apesar dos esforços realizados pelos países mais industrializados, o Sul em desenvolvimento ainda espera os benefícios de novos sócios para realizar investimentos que sejam inteligentes do ponto de vista econômico. Mas sem a possibilidade de conseguir fundos, muitas ideias de negócios sustentáveis nos países em desenvolvimento simplesmente não prosperam.
James Savage, especialista em dados da plataforma creditícia peer-to-peer (rede de pares) Lendable, apontou que há muitos obstáculos para as empresas ambiciosas nos países menos adiantados (PMA). “O custo de um único acordo comercial internacional (de empréstimo) pode ser proibitivo para uma empresa média em um PMA”, afirmou à IPS.
Segundo o especialista, isso se deve em parte à insegurança sobre a taxa de câmbio, aos altos custos do setor financeiro e a vazios no mercado financeiro. “A falta de bancos centrais verdadeiramente independentes que atendam a inflação faz com que haja uma grande incerteza sobre a taxa de câmbio”, acrescentou. Por isso, além de ideias de negócios sustentáveis, é preciso uma reforma do setor financeiro para que essas iniciativas possam ter acesso aos fundos que tanto necessitam.
Empresas locais ou nacionaise os governos têm diferentes condições no mundo. Os fundos do Unops, as inovações privadas e as reformas públicas são todos diferentes pontos de partida para atender a permanente desigualdade que caracteriza o mundo empresarial. Mas, no tocante às corporações multinacionais, os desafios são outros. Na medida em que aumentam seu tamanho e seu impacto, começam a sair do contexto da lei, alertou Faremo. Envolverde/IPS