Por Rebecca Tavares *
Turistas com consciência ambiental buscam limitar o impacto de sua presença nos ecossistemas das comunidades locais que visitam e evitar agravar as desigualdades sociais existentes. Muitos buscam até mesmo trabalhar com os povos originários em projetos diversos, ou ajudar a restaurar a biodiversidade natural por meio de plantio ou transmissão de conhecimentos técnicos. Todos têm em comum o desejo de minimizar impactos negativos.
Turismo Sustentável
Por outro lado, projetos de turismo sustentável criam oportunidades para jovens vulneráveis que buscam oportunidades alternativas de emprego local, especialmente em comunidades isoladas, como a Amazônia e outros biomas em risco. Tais iniciativas podem trazer recursos econômicos vitais para gerar empregos e infraestrutura, valorizando práticas tradicionais, respeitando o conhecimento local e as tradições que mantêm as comunidades locais, que são essenciais para o cuidado da biodiversidade regional.
O turismo feito com consciência ambiental e social traz infraestrutura, segurança, melhoria na governança local e novos empregos. Pequenas e médias empresas do setor que utilizam cadeias de abastecimento e recursos humanos locais ajudam a evitar o colapso econômico em regiões remotas. O G-20 reconheceu em sua declaração de Goa, na Índia, o “papel crucial do turismo e da cultura como meios de desenvolvimento socioeconômico sustentável e de prosperidade econômica”.
No Brasil, povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, agricultores familiares e povos “extrativistas” podem se beneficiar dos recursos criados pelo turismo.
Proteção às comunidades locais
A indústria do turismo sustentável pode fazer parte de uma solução global para os desafios ambientais ao combater a devastação de recursos naturais e a invasão de terras indígenas por grupos privados que devastam recursos ambientais – como agroindústria, mineração, indústrias de gado e madeira –, que tendem a destruir habitats humanos e a biodiversidade em comunidades tradicionais.
Além disso, o turismo sustentável pode combater algo que ocorre em grande parte da indústria de turismo comercial, como condições de trabalho injustas, comércio sexual e saneamento inadequado.
Muitas empresas de viagens já buscam lidar com questões do tipo por meio do turismo de aventura, mas os empreendimentos de desenvolvimento comunitário em parceria com pessoas nativas são ainda mais promissores.
Projetos de turismo sustentáveis
A Fundação para a Sustentabilidade da Amazônia (FAS), por exemplo, trabalha na região amazônica brasileira há mais de 15 anos, apoiando a sustentabilidade ambiental e econômica em parceria com as populações locais. A FAS demonstrou que pequenos negócios e soluções para energia verde, liderados pela população local, podem ser sustentáveis, inclusivos e economicamente viáveis.
Um desses empreendimentos é a Pousada do Garrido, localizada em Tumbira, a 60 quilômetros de Manaus, nas margens do Rio Negro, que oferece a viajantes brasileiros e estrangeiros serviços de hotel, passeios guiados no rio e na floresta tropical e refeições típicas com ingredientes locais. O empreendimento criou 18 vagas de emprego direto para jovens e mulheres locais. O artesanato local das mulheres gerou mais de R$ 55 mil em vendas em 2022.
Líderes da comunidade de Tumbira foram alguns dos primeiros graduados da incubadora de negócios da FAS. Eles estabeleceram a pousada para hospedar ecoturistas e trouxeram energia solar, serviço de internet via satélite, salas de aula virtuais desde o jardim de infância até o ensino médio e uma clínica de saúde para a localidade. Como resultado, a comunidade se tornou mais forte. A economia local também prosperou. A pousada sozinha gerou um lucro de mais de R$ 400 mil em 2022, um estímulo significativo para uma economia anteriormente em declínio.
A FAS relata que negócios comunitários amazônicos em sua rede geraram em torno de R$ 100 milhões em receitas brutas no ano passado para as populações locais, com R$ 15 milhões provenientes de negócios de turismo comunitário e R$ 85 milhões da produção e de cadeias de abastecimento da bioeconomia amazônica.
Projetos de turismo sustentável podem criar oportunidades viáveis de geração de renda, emprego e nova vitalidade econômica e cultural. Eles podem conectar comunidades isoladas ao resto do mundo por meio da inclusão digital e independência energética. Afinal, comunidades tradicionais compartilhando suas maiores forças com a indústria do turismo constituem-se como atores confiáveis para proteger seu ecossistema e seu povo.
* Rebecca Tavares é presidenta e CEO da BrazilFoundation.
* Este artigo foi publicado originalmente como resultado da análise apresentada por ela durante o Annual Meeting of the Global Future Councils, promovido entre 16 e 18 de outubro de 2023 pelo WEF – World Economic Forum.
