Por Benoit Riel, Kelly Lima, Manvela En Chieh Lui e Neil Smith* –
Ao fazer uma pesquisa rápida sobre as principais notícias nos últimos meses, a sigla ESG (que significa, em inglês, boas práticas ambientais, sociais e de governança corporativa) é um dos temas mais debatidos tanto na imprensa nacional quanto na internacional. E provavelmente o assunto será cada vez mais explorado, uma vez que sociedade civil e organizações têm se conscientizado cada vez mais sobre a importância do tema.
Porém, sempre que nos deparamos com uma notícia ou análise sobre ESG, ainda fica aquela sensação de que há uma abordagem de grandes proporções em tudo o que é veiculado pela imprensa ou publicado nas redes sociais; consequências catastróficas para as omissões de determinados setores; ou a necessidade de investimentos de larga escala considerados impraticáveis numa primeira análise.
E é justamente essa sensação de grandiosidade que gera um distanciamento dos principais interessados em implementar práticas nesta direção. A boa notícia é que todo processo começa pequeno. Com a jornada ESG não seria diferente. Neste sentido, as organizações podem começar seguindo alguns passos iniciais, que podem parecer pequenos à primeira vista, mas são fundamentais para o progresso constante.
Organizar dados e metas
Organizar dados da empresa é um deles. Pode parecer algo impensado, mas para entender quais serão as metas a serem alcançadas é necessário ter profundo entendimento sobre qual é o ponto de partida. Compartilhar informações entre as áreas também é uma boa forma de começar a jornada ESG. Neste ponto a colaboração entre equipes é fundamental para entender o que tem sido feito e não há visibilidade a respeito. Por fim, estimular o tipo de comportamento desejado é crucial para viabilizar o compromisso perene.
O caminho a ser percorrido pode começar com a sua própria equipe a partir dos comportamentos diários. Agora você, leitor, deve estar se perguntando por qual razão fala-se em comportamento quando o assunto é ESG. Porque estamos falando de uma forma de fazermos as coisas todos os dias. E uma empresa sustentável toma decisões rotineiras, como compartilhar conteúdo e informações por meio de uma plataforma online em vez de imprimir; optar por reuniões virtuais no lugar de longos deslocamentos ou realizar eventos em locais de fácil acesso ao transporte público; e implementar a gestão equitativa em termos de oportunidades para a equipe.
Por isso, o comportamento coletivo é decisivo para o sucesso de uma organização. E essa cadência diária sobre a forma como fazemos é uma poderosa habilitadora da estratégia do negócio, especialmente quando moldada pelas ações e decisões dos líderes. A visão, a missão, os valores e os comportamentos corporativos impulsionam em direção a tudo aquilo que queremos realizar. Por isso, não é à toa que as organizações criam redes de Agentes de Mudança ou Champions de Cultura – profissionais que atuam para mudar uma cultura organizacional –e estabelecer uma comunicação como via de mão dupla entre os profissionais das áreas.
Impactos dos eventos climáticos
Uma das formas de se estimular os comportamentos desejados é a inclusão de metas sustentáveis no plano de metas individuais dos executivos de cada organização. Aliás, este aspecto já alcança quase um terço das empresas ouvidas no estudo “CxO Sustainability Report 2023” da Deloitte, organização com o portfólio de serviços profissionais mais diversificado do mundo. Nele, 82% dos líderes reportaram que foram impactados por eventos climáticos no ano passado e 33% estão vinculando a remuneração dos líderes seniores ao desempenho de sustentabilidade ambiental.
Resumindo, a jornada ESG é uma construção de compromissos diários, em que as decisões tomadas rotineiramente moldam o futuro das organizações e, consequentemente, do planeta. Em vez de se sentir sobrecarregado pela magnitude do desafio, é fundamental que as lideranças empresariais vejam como oportunidade a possibilidade de começar com pequenos passos. Desde a organização de dados até a promoção de comportamentos alinhados com os valores ESG, cada ação conta. Ao adotar uma abordagem baseada em comportamentos diários sustentáveis, as organizações não apenas se posicionam como líderes responsáveis, mas também contribuem ativamente para um mundo mais equitativo e sustentável para todos.
*Benoit Riel é gerente na prática de Capital Humano da Deloitte Japão; Kelly Lima é gerente da prática de Capital Humano com foco em Transformação Organizacional na Deloitte Brasil; Manvela En Chieh Lui é consultora sênior na prática de Capital Humano da Deloitte China; e Neil Smith é consultor sênior na área de Capital Humano nos Estados Unidos