No ano em que eleitores de todo o Brasil escolhem novas lideranças municipais, uma nota prática do WRI Brasil reúne alcances, obstáculos e resultados práticos de iniciativas de fomento a Soluções Baseadas na Natureza (SBN) em quatro das cinco regiões do país. A implementação das ações projetadas pelas cidades contempladas por este único programa de aceleração de SBNs em cidades poderia beneficiar três milhões de pessoas em todo o Brasil – o que indica o potencial desta abordagem para gerar maior resiliência climática e qualidade de vida às pessoas. Os resultados serão apresentados em webinar no dia 7 de agosto, aberto a todos os interessados.
O Acelerador de Soluções Baseadas na Natureza do WRI Brasil é o primeiro programa de aceleração para projetos urbanos de SBN no Brasil. Os projetos selecionados pelo programa – entre 84 inscritos – são, em sua maioria, de cidades médias, com população entre 100 e 500 mil habitantes: Camaçari (BA), Estrela (RS), Maringá (PR), Maranguape (CE), Raposos (MG), Santos (SP), São Carlos (SP) e Sobral (CE). Duas cidades de maior porte – São José dos Campos (SP) e Campo Grande (MS) também participaram. Esses municípios receberam capacitações, mentoria e apoio técnico a projetos verdes ao longo de 2023 e contará, com oportunidades de conexão com potenciais financiadores. Os projetos que mais avançaram na viabilidade técnica, de Campo Grande e Maranguape, receberam apoio adicional até junho de 2024.
SBN são infraestruturas verdes, que recompõem processos naturais como a drenagem das águas e a regulação da temperatura. É o caso de parques lineares, jardins de chuva e corredores ecológicos, entre outros. Estudos mostram que as SBN custam, em média, 50% menos do que a infraestrutura cinza tradicional e geram 28% a mais de valor agregado em termos de produtividade, benefícios socioambientais e geração de cadeias de trabalho resilientes. Apesar desse potencial, a adoção em grande escala das SBN como medida de infraestrutura urbana ainda não é uma realidade. Uma das principais barreiras é o financiamento. Em 2021, as SBN receberam apenas 0,3% do investimento total em infraestrutura urbana no mundo. Isso se deve, em grande parte, à escassez de projetos que conseguem conciliar a promoção da sustentabilidade com o atendimento a critérios financeiros, técnicos e legais necessários para serem aprovados por instituições financeiras e atrair investidores.
O Acelerador de Soluções Baseadas na Natureza comprovou que esse obstáculo pode ser superado mediante capacitação e apoio personalizado. O Parque Pirapora, em Maranguape (CE), por exemplo, foi contemplado com R$ 37 milhões do Novo PAC para implementar parte significativa do projeto. A iniciativa “Verde Urbano” em Estrela (RS) também foi contemplada pelo PAC e terá aporte de R$ 17 milhões para execução. O Sistema de Infraestrutura Verde e Azul, de Sobral (CE), deverá receber R$ 9 milhões. Outros projetos têm tido conversas frutíferas com instituições financeiras.
Entre as obras propostas pelas cidades selecionadas estão parques urbanos multifuncionais que combinam equipamentos públicos com soluções verdes para gerar resiliência climática, revitalização de rios urbanos, agricultura urbana, manejo sustentável de águas pluviais, unidades de conservação e corredores ecológicos. A maior parte dos projetos foi proposta por entidades do setor público, como prefeituras e secretarias municipais. Além de obras e melhorias, a iniciativa do WRI Brasil gerou aprendizados sobre como elaborar projetos mais robustos e qualificados para aumentar as possibilidades de acessar financiamento. Dado o perfil e localização das cidades participantes, são lições replicáveis em um grande número de munícipios brasileiros.
Em nove meses, entre dezembro de 2022 e agosto de 2023, o Acelerador levou três projetos do estágio de ideação (quando a ideia é apresentada) até a pré-viabilidade; quatro projetos foram levados à fase de estudos de viabilidade técnica, econômica e ambiental, e três para o nível de projeto básico.
Mais resiliência
Entre 2013 e 2023, mais de quatro milhões de pessoas no Brasil perderam suas casas ou foram deslocadas devido a eventos climáticos extremos. Nesse contexto, o Acelerador está ajudando a superar desafios técnicos, institucionais e financeiros, mostrando que programas de aceleração podem impulsionar inovações sustentáveis nas cidades brasileiras.
A estruturação financeira foi o maior desafio, inclusive pela falta de materiais de referência para estimativas de custos e a predominância da visão de infraestrutura cinza nos órgãos municipais. No entanto, o principal legado do programa foi o desenvolvimento técnico das equipes e a criação de uma comunidade de troca de experiências, além da disseminação de conhecimentos técnicos essenciais.
O Acelerador demonstrou seu potencial para ser um ponto de partida para projetos de SBN e inspirar novas ações no Brasil. A demanda por programas de aceleração no setor público é evidente, reforçando a importância de iniciativas que promovam a sustentabilidade e adaptação climática urbana. Todos os projetos participantes avançaram consideravelmente, mas atribuir valor econômico-financeiro e mobilizar os diferentes atores são desafios importantes.
O webinar terá debate com representantes do BNDES, do Governo Federal e dos dois projetos que foram selecionados para a próxima fase. A mediação será realizada por Magdala Satt Arioli, Coordenadora de Financiamento e Economia Urbana do WRI Brasil.
O Acelerador de Soluções Baseadas na Natureza em Cidades é uma realização do WRI Brasil com apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Conta com financiamento da Caterpillar Foundation e do Ministério do Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais do Reino Unido (Defra UK), e parceria da iniciativa Cities4Forests e da Aliança Bioconexão Urbana.
Sobre o WRI Brasil
O WRI Brasil é um instituto de pesquisa que trabalha em parceria para gerar transformação. Atua no desenvolvimento de estudos e implementação de soluções para que as pessoas tenham o essencial para viver, para proteger e restaurar a natureza, pelo equilíbrio do clima e por comunidades resilientes. Alia excelência técnica à articulação política e trabalha com governos, empresas, academia e sociedade civil. O WRI Brasil faz parte do World Resources Institute (WRI). Fundado em 1982, o WRI conta com cerca de 1,7 mil profissionais pelo mundo, com escritórios no Brasil, China, Colômbia, Índia, Indonésia, México e Estados Unidos, além de escritórios regionais na África e na Europa. Mais informações no site.
