Alvarado, Costa Rica, 28/2/2014 – José Alberto Chacón percorre o sinuoso caminho que cruza sua pequena propriedade nas ladeiras do vulcão Irazú, na Costa Rica. O avanço é lento porque o agricultor desenhou uma trilha que serpenteia o terreno, para evitar que a chuva leve os nutrientes do solo. Assim, ele assegura a produção de feijão, milho e cenoura em seu meio hectare que, como de muitos outros produtores da zona de Pacayas, fica em uma área escarpada e de fortes inclinações, o que facilita a perda das camadas férteis do solo.
Diante do desafio, Chacón disse à IPS que se reinventa constantemente com técnicas como a trilha, os degraus ou os muros de contenção com sobras de colheitas, e se sente um trapezista que salta de uma medida para outra, a fim de manter viva sua propriedade familiar. “Dá pena ver a terra sendo levada para o rio. Ficamos velhos e o terreno continua o mesmo, então é preciso ir buscando como deixá-lo plano com os degraus para poder trabalhar enquanto Deus quiser”, explicou Chacón, de 51 anos, casado e com três filhos.
Um deles o ajuda na venda do excedente de sua colheita. Sua mulher, Irma Rosa Loaiza, de 50 anos, compartilha dos trabalhos agrícolas. “Somos um modelo de agricultura familiar. Ela ajuda trabalhando no terreno”, contou o marido.
A comunidade de Pacayas, a uma hora de distância de São José, fica no extremo oriental do fértil vale central costarriquenho, entre os vulcões Irazú e Turrialba. Tem densidade populacional superior à média nacional, 2.300 milímetros de chuvas por ano e inclinações que chegam a 70%. Agora se soma a mudança climática, que aumentou as chuvas e o desgaste do solo. O Ministério de Meio Ambiente e Energia calcula que a erosão reduziu o produto interno bruto (PIB) agrícola em 7,7% entre 1970 e 1989.
O Censo Agrícola de 2014 poderá mostrar um agravamento nesse país centro-americano de 4,4 milhões de habitantes, cuja agricultura representou, em 2000, 10,7% do PIB total, mas em 2012 chegava a apenas 8,67%. Chacón, usando botas negras e chapéu branco para se proteger do Sol, avança entre as fileiras de cultivos. Seu terreno tem inclinação de 50%, e entre um degrau e outro de milho há até 20 centímetros, o suficiente para que a água não passe rápida para o rio Pacayas, ao fundo do cânion.
A sua é uma agricultura de subsistência, como a do resto da área, com terrenos de 2,5 hectares, em média, e raspam suas colheitas da montanha. Se cultivam pouco, não comem; se semeiam muito e o solo é lavado, tampouco conseguem sustento. “É preciso buscar um equilíbrio entre sustentabilidade e segurança alimentar. Não se pode dizer a eles: esse terreno não é apto para a agricultura, melhor plantarem na floresta, porque é só o que têm”, explicou à IPS a engenheira agrônoma Beatriz Solano, enviada para a região há 17 anos pelo Ministério de Agricultura e Pecuária.
Um estudo publicado em 2013 pela revista Environmental Science & Policy descreve como uma “combinação de chuvas extremas, topografia empinada e um questionável uso da terra levou a uma erosão forte e à deterioração dos serviços de regulação de solos”, na área. Inclusive as famílias com terrenos de inclinação suave precisam aplicar novas técnicas. A propriedade orgânica certificada Guisol é um exemplo. Suas proprietárias, María Solano, de 68 anos, e Marta Guillén, de 43, mostraram à IPS como aram em pequenas parcelas usando cercas vivas para conter a erosão.
Nem todos os produtores da área são conscientes da importância dessas ações. Uma pesquisa de 2010 feita por um especialista do interamericano Centro Agronômico Tropical de Pesquisa e Ensino (Catie), com sede nesse país, evidenciou que sete em cada dez agricultores de Pacayas não utilizavam técnicas de proteção de solos. Além disso, a fragmentação em pequenas parcelas impede que possam se beneficiar do pagamento por cobertura florestal, o sistema preferido pela Costa Rica para controlar a erosão.
Os especialistas afirmam que as novas práticas de conservação de solos para a agricultura familiar serão indispensáveis em Pacayas pelas mudanças no regime de chuvas. “Antes a chuva era igual de outubro a janeiro ou fevereiro, com forte neblina. Agora é mais instável, e sem água a batata não cresce e quem perde somos nós, porque cada vez estão mais caras as sementes e os adubos”, disse à IPS o agricultor Guillermo Quirós, de 68 anos, que há dois teve de refazer os canais de filtração de suas terras.
O pesquisador Carlos Hidalgo, do Instituto Nacional de Transferência Tecnológica em Agricultura, concluiu em 2011 um trabalho de pesquisa e acompanhamento da gestão de solos na área. “É um processo que tem de incorporar todos os atores, incluindo municípios, produtores e centros de pesquisa”, explicou Hidalgo à IPS em seu escritório em São José.
Esse esforço multidisciplinar avança. A cada dois meses se reúne na Municipalidade de Alvarado, cantão ao qual pertence Pacayas, um grupo integrado por diferentes atores, que forma o comitê de manejo de solos da bacia do rio Birrís. Ali planejam o trabalho do período seguinte. Este mês, o modesto palácio municipal de Alvarado recebeu a primeira reunião de 2014. Foi presidida pela gestora ambiental do cantão, Gabriela Gómez, e sete dos oito participantes eram mulheres.
Em Pacayas, os homens dominam a tarefa agrícola, enquanto as mulheres vão assumindo o planejamento e a conservação do cantão. “Vamos falar com o Instituto Tecnológico da Costa Rica (TEC) para fazer um estudo do escorrimento da água da chuva, para poder fazer melhor as trilhas, evitar que sejam inundadas partes baixas do cantão e reduzir a erosão”, pontuou Gómez à IPS. Ela liderou iniciativas ambientais reconhecidas no país.
A situação de Pacayas tem a ver com a bacia do rio Birrís, um complexo hidrográfico que nasce nas montanhas próximas ao povoado e que alimenta as hidrelétricas do Instituto Costarriquenho de Eletricidade (ICE). O Instituto gasta cerca de US$ 4 milhões anuais para limpar os sedimentos de suas represas, também afetadas pela erosão.
Chacón e outros pequenos agricultores continuam traçando curvas de nível em suas terras, para evitar que a água lave a terra. O impacto é facilmente visível. Do outro lado do rio que limita com sua área, a margem oposta mostra tons avermelhados de terra e apenas pedaços verdes ladeira abaixo. “Esse terreno já foi lavado”, garantiu a agrônoma Solano. Envolverde/IPS