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Caribenhos dão exemplo em energias limpas

Na estrada que leva ao Aeroporto Internacional VC Bird de Antiga foram instaladas luminárias alimentadas por energia solar. Foto: Desmond Brown/IPS
Na estrada que leva ao Aeroporto Internacional VC Bird de Antiga foram instaladas luminárias alimentadas por energia solar. Foto: Desmond Brown/IPS

 

Bridgetown, Barbados, 18/3/2014 – No Caribe há sol e vento em abundância, mas os países da região estão descobrindo que isso não basta para desenvolver as energias limpas se não houver mudanças nas políticas e, sobretudo, uma boa quantia de dinheiro. Entretanto, os países do Caribe não desistem. Barbados, que gasta US$ 400 milhões por ano importando combustíveis fósseis, anunciou um programa para desenvolver gás, energia eólica e solar, que exigem investimentos de quase US$ 1 bilhão.

“Os planos incluem uma unidade de conversão de dejetos em energia, no valor de US$ 680 milhões, uma unidade de tratamento de lixiviados, que custa cerca de US$ 32 milhões, um aterro sanitário para obter gás, ao custo de US$ 9,4 milhões, um projeto solar de US$ 120 milhões, e um parque eólico que custará US$ 24 milhões”, detalhou o ministro do Meio Ambiente, Denis Lowe.

O Banco de Desenvolvimento do Caribe, com sede em Barbados, considera uma prioridade estratégica promover as energias renováveis e a eficiência energética, ressaltou o assessor para mudança climática da principal instituição financeira da região, Selwin Hart. “O Banco está traçando uma estratégia e uma política para o setor energético, que estarão prontas este ano”, detalhou à IPS. “Mas, pela prioridade e urgência desses investimentos, não esperamos para fazer as intervenções necessárias nos países membros que solicitaram empréstimos”, afirmou.

“Apoiaremos as reformas políticas e regulatórias que forem necessárias para garantir a decolagem da energia renovável e de tecnologias para a eficiência energética”, acrescentou Hart. Como a região é muito vulnerável “aos efeitos negativos da mudança climática”, ele acredita que o Caribe deve estar em posição de garantir parte do financiamento necessário para enfrentá-los, adaptar-se e reduzir as debilidades. “Somos extremamente vulneráveis às consequências da mudança climática, e devemos fazer de tudo para conseguir a parte que nos cabe dos recursos disponíveis”, destacou.

Hart afirmou à IPS que os investimentos mundiais em energias renováveis e eficiência energética quadruplicaram na última década, e que agora representam US$ 244 bilhões ao ano. “O custo das energias renováveis, por exemplo, o da solar, caiu significativamente, e agora pode competir em grande parte com as fontes tradicionais”, enfatizou.

Estimativas conservadoras da Agência Internacional de Energia (AIE), contidas no relatório Perspectivas da Energia no Mundo, publicado no ano passado, as renováveis superarão o carvão como principal combustível para geração elétrica em 2035. Em 2012, outro país do Caribe, Belize, que atualmente gera 63% de sua eletricidade com fontes renováveis, anunciou uma Política Nacional de Energia e uma Estratégia Energética Sustentável.

“Temos objetivos ambiciosos. Estamos decididos a trocar os combustíveis fósseis pela energia renovável e, ao mesmo tempo, reduzir nossa intensidade energética”, declarou à IPS a ministra de Energia, Joy Grant. “Apostamos em todos os tipos de energia renovável: hídrica, bioenergia, solar, oceânica, térmica e eólica, além da conversão de dejetos em energia”, pontuou. Mas, como todos os pequenos Estados em desenvolvimento, Grant disse que os esforços de Belize estão limitados pelo alto custo das tecnologias necessárias, pela falta de capacidade interna, por marcos inadequados para incentivar investimentos privados e pela escassa população.

O ministro de energia de Dominica, Rayburn Blackmore, disse que 30% do consumo elétrico de seu país procedem da hidráulica, e no ano passado gastou US$ 51,6 milhões para importar combustíveis para a geração de energia. “O consumidor paga cerca de 30% desse custo na sobretaxa de combustível. É uma média de US$ 1,17 por quilowatt/hora. Em Dominica devemos fazer algo de uma vez por todas, como governo e como povo”, ressaltou o ministro à IPS.

Blackmore acrescentou que seu país desenvolve a produção geotérmica, com a esperança de reduzir em 40% o preço da eletricidade para o consumidor quando entrar em funcionamento uma central de 15 MW que está em construção. “Nosso objetivo principal em produção geotérmica é contribuir com o esforço mundial de combater a mudança climática”, afirmou.

O gerente de programa de energia na secretaria da Comunidade do Caribe (Caricom), Joseph Williams, concorda que o custo da energia é proibitivo para conseguir o crescimento econômico e a redução da pobreza que a região precisa. “Quando se olha os problemas que o Caribe enfrenta, é importante notar que o custo da eletricidade é entre duas e três vezes maior que o de outros países da América Latina e do Caribe”, afirmou Williams. Isto “representa uma tremenda carga, não só para as famílias, mas também para as atividades empresarial e comercial de nossa região”, acrescentou.

Antiga e Barbuda, por sua vez, tem o custo elétrico mais alto da Organização de Estados do Caribe Oriental (OECS), sem contar os impostos, embora use combustível pesado mais barato, explicou à IPS o legislador da oposição, Gaston Browne. “Também temos a pior relação entre combustíveis fósseis e renováveis da OECS”, acrescentou. Browne deseja uma diversificação com maior presença de fontes renováveis, “com o objetivo de chegar a 25%” de participação no prazo de cinco anos.

Se fosse governo, o Partido Trabalhista de Antiga, ao qual pertence Browne, converteria a Autoridade de Empresas Públicas “em um órgão mais eficiente, reduzindo a carga que o custo da energia impõe à indústria, ao comércio e aos consumidores residenciais”, afirmou o legislador. Em agosto de 2013, Antiga começou a instalar lâmpadas alimentadas por energia solar no leste da ilha. O governo disse que buscava demonstrar o uso dos recursos renováveis da nação.

Em abril de 2008, a Caricom criou o Programa de Energia dentro da Direção de Integração Comercial e Econômica para que o bloco se concentrasse mais no desenvolvimento energético. Williams acredita que o Caribe está no caminho certo, implantando uma Política Energética da Caricom e estabelecendo objetivos para as fontes renováveis na eletricidade, enquanto vários países avançam em políticas nacionais. “Demorou, mas estamos avançando”, enfatizou. Envolverde/IPS