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Triangulo de Coral atacado em várias frentes

A Grande Barreira de Coral da Austrália vista do espaço. Foto: Nasa/Domínio público

 

Cairns, Austrália, 10/7/2012 – Mais de 85% dos arrecifes de corais localizados em uma enorme região triangular que inclui Indonésia, Malásia, Papua Nova Guiné, Filipinas e ilhas menores do Oceano Pacífico, já estão deteriorados, alerta um informe sobre o estado do Triângulo de Coral. Os arrecifes do Triângulo de Coral são fundamentais para as comunidades costeiras, às quais proporcionam sustento e alimentos, além de protegerem contra as ondas durante as tempestades, explicou Lauretta Burke, do Instituto de Recursos Mundiais.

Com seis milhões de quilômetros quadrados, essa é a região mais rica do planeta em matéria de vida marinha. Burke também é a autora principal do State of the Coral Triangle Report (Informe sobre o estado do Triângulo de Coral), divulgado ontem no XII Simpósio Internacional sobre Arrecifes de Corais, que acontece em Cairns, na Austrália, e do qual participam mais de dois mil cientistas de 80 países. Este encontro acontece a cada quatro anos. Frequentemente, os arrecifes de corais são chamados de “selvas dos oceanos”, pela riqueza de biodiversidade que abrigam e que representam entre 25% e 30% de todas as espécies marinhas.

A sobrepesca, o uso de explosivos para captura entre os corais, a contaminação terrestre e o comércio de peixes vivos são as ameaças locais aos arrecifes e às milhares de espécies que habitam o Triângulo de Coral, disse Burke à IPS durante o simpósio. “Os explosivos são usados em arrecifes onde se pratica pesca excessiva para extrair as peças que restam. Substâncias químicas venenosas são usadas amplamente para aturdir os peixes, a fim de serem capturados para aquários e mercados de peixes vivos”, detalhou.

Porém, a principal ameaça mundial aos arrecifes é o uso de combustíveis fósseis, que aquecem os oceanos e os torna mais ácidos, prejudicando os corais e deixando-os mais vulneráveis a doenças e tempestades, afirmou. “Os benefícios que os arrecifes proporcionam estão em risco, por isso é tão importante uma ação concertada para mitigar as ameaças aos arrecifes da região do Triângulo de Coral”, acrescentou.

Embora o Triângulo de Coral cubra apenas 1,6% do oceano, contém quase 30% dos arrecifes do mundo e mais de três mil espécies de peixes, o dobro da quantidade encontrada em qualquer outra parte do planeta. Mais de 130 milhões de pessoas que vivem na região dependem do ecossistema de arrecifes para obter alimentos, emprego e ganhos com turismo, segundo o documento. Sem uma ação conjunta para abordar as ameaças, mais de 90% dos corais da região estarão dizimados até 2050, concluiu o informe.

Cerca de 16% dos arrecifes do Triângulo de Coral estão em áreas marinhas protegidas, mas o informe estima que menos de 1% dessas áreas é realmente efetivo na hora de reduzir ameaças como sobrepesca e pesca destrutiva. Isto é substancialmente menor do que a média mundial, de 28%. A falta de recursos dedicados ao manejo das áreas marinhas protegidas e a localização afastada de muitos arrecifes dificultam demais a proteção, alertou Burke.

Um estudo global sobre os arrecifes do resto do mundo concluiu que, em média, 60% estão sob ameaça. Inclusive a famosa Grande Barreira de Coral, na Austrália, que muitos consideram o sistema de arrecifes melhor protegido do mundo, está se deteriorando. “Ao longo da minha vida vi arrecifes desaparecerem diante dos meus olhos”, disse Terry Hughes, diretor do Centro de Excelência para os Estudos sobre Arrecifes de Coral na australiana Universidade James Cook.

Quase todos os corais do Mar do Caribe, onde Hughes iniciou sua carreira em ciências marinhas, foram destruídos por contaminação, sobrepesca, descoloração e doenças dos corais. Os corais desbotam quando as temperaturas da água marinha aumenta para 30 graus ou mais. A mudança climática já aumentou as temperaturas oceânicas em 0,7 graus, em média. “Vim à Austrália como uma espécie de refugiado de arrecifes caribenhos para trabalhar sobre a Grande Barreira de Coral”, contou Hughes, que também é organizador do simpósio que acontece em Cairns.

A Grande Barreira de Coral é o maior sistema de arrecifes do mundo. Ali, três mil arrecifes se espalham ao longo da costa leste da Austrália. Embora durante décadas tenha sido protegida como parque marinho, sua cobertura de corais diminuiu 50% desde os anos 1960, devido aos impactos humanos da contaminação terrestre, à descoloração e aos brotos de estrelas do mar da variedade coroa de espinhos, que se alimentam do coral.

“Os arrecifes de corais são cruciais para as sociedades costeiras e suas economias”, pontuou Hughes à IPS. A Grande Barreira de Coral gera quase US$ 6 bilhões em ganhos anuais por meio de turismo e pesca. Os arrecifes são os mais resistentes a ameaças mundiais como a mudança climática, o que confere grande importância ao bom manejo local, acrescentou.

Em 2009, os seis países do Triângulo de Coral lançaram uma iniciativa especial para promover a pesca sustentável, melhorar o manejo das áreas marinhas protegidas, fortalecer a adaptação à mudança climática e proteger espécies ameaçadas na região. Esta é uma grande iniciativa e a resposta correta às ameaças aos arrecifes na região, afirmou Burke. “Nossa esperança é que os líderes da Iniciativa do Triângulo de Coral usem os dados de nosso informe para adotar medidas mais fortes de proteção aos arrecifes”, acrescentou.

O público também tem um papel importante na hora de pressionar os políticos a tomarem as decisões corretas para proteger os interesses das futuras gerações. É chave a consciência pública sobre a importância dos corais. “Gostaria que as pessoas perguntassem de onde vem o pescado que come. E que os turistas ficassem apenas em hotéis que tivessem um impacto mínimo sobre o meio ambiente”, enfatizou Burke. Envolverde/IPS