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Jornalista Cilene Victor comenta sobre medidas para frear a disseminação de fake news

Por Beatriz Mirelle, da Redação* – 

Esta matéria faz parte do PEPE (Programa Envolverde de Parcerias Estudantis)

Professora da Universidade Metodista de São Paulo debate sobre papel da imprensa brasileira em garantir a democracia

A Agência Envolverde proporcionou uma live extra, na última sexta-feira (28), com a jornalista Cilene Victor, professora da Universidade Metodista de São Paulo, sobre educação midiática. Com apoio da Unibes Cultural, Dal Marcondes e Reinaldo Canto intermediaram a conversa que abordou a relevância da apuração da mídia, as sequelas do período ditatorial no Brasil e a importância da corresponsabilidade diante da disseminação de fake news.

Cilene Victor atua como jornalista de ciência e meio ambiente há 29 anos. Foto: Divulgação/Envolverde

Cilene, que é mestre em Comunicação Científica e Tecnológica e doutora em Saúde Pública, observa que a internet permite a democratização do acesso à informação, mas por outro lado, as redes sociais podem ser prejudiciais durante discussões de temas importantes. “Nessas plataformas todo mundo começou a assumir um papel de especialista em determinada área e comentar sobre todos os assuntos. Acreditam que podem substituir o papel de um comunicador social, por exemplo”, ressalta a jornalista. Acompanhe os destaques da entrevista:

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Marcos regulatórios

Cilene aponta que alguns países elaboraram marcos regulatórios emergentes para evitar a propagação de notícias falsas ligadas à pandemia do novo coronavírus. Esse termo designa um conjunto de normas elaboradas para nortear o funcionamento de algum setor e fiscalizar o cumprimento dessas medidas.

A partir disso, ao analisar o histórico político brasileiro, a jornalista compreende que, por conta do curto período em uma democracia, a população teme qualquer medida que relembre um controle sobre o fluxo de informação. “Tudo que falamos desse ponto de vista remete à ideia de cerceamento. Pelo trauma da ditadura, a palavra ‘controlar’ é extremamente negativa”. Para ela, essa escolha enfraquece a sociedade e as instituições que deveriam se juntar para coibir a desinformação. “O Brasil caminha em outra direção por conta desse passado recente”.

Para exemplificar esse receio, Cilene comentou sobre a tentativa de alguns deputados em tipificar a onda de movimentos sociais pró-democracia, que ocorreram neste ano, com a Lei Antiterrorismo. “Esse é o grande risco em um país com uma fragilidade política como a nossa. Temos um elemento muito complexo que é o fato do Marco Legal ser usado depois contra formadores de opinião. O jornalismo brasileiro carrega em suas veias a sequela da censura”.

Educação no combate à desinformação

Por acreditar em uma sociedade que deve investir na conscientização, não na punição, Cilene crê que a corresponsabilidade é imprescindível diante da propagação de notícias falsas. “Não podemos ser omissos quando recebemos tais informações. Não é criar uma vigilância constante, mas é o entendimento de que todos estamos em uma aldeia global”.

Com o objetivo de barrar a disseminação de rumores, ela compreende ser necessária a ação de campanhas educacionais em conjunto com a criação de marcos legais para responsabilizar propagadores de fake news.

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O papel da imprensa

Um vídeo amador de uma mulher quebrando uma das peças de arte mais caras da galeria do pintor e escultor Romero Britto, em Miami, viralizou nas redes sociais no início de agosto. Diversos veículos jornalísticos também noticiaram o fato como algo recente, mas somente após alguns dias, um dos jornais publicou uma reportagem informando que a gravação era de 2017. “Mídias sociais são uma esfera pública onde qualquer pessoa tem voz. A imprensa não pode seguir isso. Mudou o modelo de negócio, mas não o jornalismo. Não podemos simplesmente errar e excluir a postagem”. Assim, Cilene nota que, ao tentar concorrer com o imediatismo da internet, o jornalismo profissional comete as mesmas falhas por falta de apuração.

Mesmo assim, a maioria das redações adaptaram suas produções para serem publicadas nas plataformas digitais. Isso é algo que também desperta a atenção da jornalista por conta da simplificação de linguagem e do conteúdo ao ser compactado em um story, por exemplo. “O jornalismo tem que experimentar. Foi assim com a transmídia, mas não podemos substituir a grande reportagem”.

Além disso, algumas movimentações para classificar certas práticas das redações como obsoletas são vistas pela especialista como uma tentativa de destruir o papel social da imprensa no Brasil. “Essa tragédia começou quando as emissoras abriram as portas para centenas de articulistas e comentaristas. Vemos muitas pessoas escrevendo para os jornais sobre diversos acontecimentos sem nunca ter estudado sobre aquele assunto”. Ao enaltecer essas pessoas há uma banalização do fazer jornalístico, criando um espaço propício para ser alvo de críticas e descrédito.

Cilene conclui que a imprensa deve garantir o estado democrático e ser um guardião dos direitos humanos. “Temos que trabalhar temáticas com relevâncias sociais e que possam colocar esse país novamente em uma direção que não siga rumo ao obscurantismo, barbárie e um fundamentalismo sem precedentes”, finaliza.

“>Assista: Crise Internacional

Diálogos Envolverde

Essa live complementar pode ser acessada na íntegra na página do YouTube da Agência Envolverde ou no ?__so__=channel_tab&__rv__=all_videos_card”>Facebook da Unibes Cultural nomeada como “Cocriando Fly Educação – Pensamento complexo, ações complexas e demandas para uma educação reinventada”.

Seguindo a programação, o Diálogos Envolverde acontece toda quinta-feira, às 11h, no YouTube e Facebook da Agência Envolverde, entrevistando pesquisadores e ativistas da área socioambiental.

*Conteúdo multimidiático produzido por estudantes de Jornalismo Presencial da Universidade Metodista de São Paulo, sob a supervisão dos professores Alexandra Gonsalez, Eloiza de Oliveira Frederico, Filomena Salemme e Wesley Elago.

Publicado em 01/09/2020 18h06

Última atualização em 01/09/2020 18h06

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