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Norte-americanos apoiam Obama em sua intervenção militar no Iraque

Uma coluna de fumaça indica o local de um bombardeio contra o grupo armado Estados Islâmico do Iraque e o Levante (Isis), perto da cidade de Erbil, capital do Curdistão iraquiano, no dia 8 deste mês. Foto: Departamento de Defesa dos Estados Unidos
Uma coluna de fumaça indica o local de um bombardeio contra o grupo armado Estados Islâmico do Iraque e o Levante (Isis), perto da cidade de Erbil, capital do Curdistão iraquiano, no dia 8 deste mês. Foto: Departamento de Defesa dos Estados Unidos

 

Washington, Estados Unidos, 21/8/2014 – A decisão do governo de Barack Obama de empreender uma ofensiva aérea contra o grupo extremista Estado Islâmico do Iraque e o Levante (Isis) no norte o Iraque tem um forte apoio popular, apesar das críticas contra sua política externa, inclusive por sua ex-secretária de Estado, Hillary Clinton.

Mais da metade (54%) dos entrevistados em uma pesquisa publicada no dia 18 pelo Centro de Pesquisa Pew e pelo jornal USA Today disseram que aprovam os bombardeios, que aparentemente ajudaram a reverter alguns dos êxitos obtidos pelas forças do Isis contra os combatentes do Curdistão conhecidos como pesh merga, este mês.

Disseram desaprovar os ataques 31% dos entrevistados, enquanto os restantes 15% não opinaram. A pesquisa foi realizada entre os dias 14 e 17 deste mês com mil pessoas escolhidas ao acaso.

O estudo revela uma forte diferença segundo a inclinação política dos participantes. Os seguidores do opositor Partido Republicano foram mais favoráveis à ação militar do que os que votam no Partido Democrata ou os independentes, embora a maioria dos democratas apoie os ataques aéreos.

Para 57% dos republicanos a preocupação é que Obama não esteja preparado para avançar “o suficiente para deter” o Isis, enquanto 62% dos democratas e 56% dos independentes temem que avance muito com a reinserção dos Estados Unidos no Iraque, três anos depois da retirada das últimas forças de combate norte-americanas. No geral, 51% dos entrevistados expressaram este temor.

Essa preocupação é compartilhada especialmente pelos mais jovens, os integrantes da chamada “geração do milênio”, que tendem a desconfiar mais da eficácia da força militar como instrumento da política externa do que outros grupos geracionais, segundo várias pesquisas realizadas nos últimos dois anos.

Os entrevistados maiores de 65 anos se dividiram em duas partes, aproximadamente iguais, entre os que expressaram preocupação por Obama avançar demais ou pouco, porém, mais de dois terços da geração do milênio expressou sua preocupação sobre os Estados Unidos se envolverem demasiado no Iraque, e apenas 21% expressou ponto de vista contrário.

Washington expandiu a ofensiva aérea contra supostos objetivos do Isis no norte do Iraque e enviou armas e outros suprimentos às forças especiais iraquianas, treinadas pelos Estados Unidos, e os chamados pesh merga, os combatentes curdos que não conseguiram deter o Isis, cujos homens avançaram até um raio de 35 quilômetros de Erbil, a capital do Curdistão iraquiano.

No dia 7 deste mês, Obama anunciou nova intervenção dos Estados Unidos no Iraque para proteger do “genocídio” as minorias iraquianas, particularmente os milhares de yazidis sob assédio do Isis nas montanhas da localidade de Sinjar, ao norte. Outro objetivo era a proteção de Erbil, onde Washington tem um consulado e centenas de funcionários, entre eles dezenas de assessores militares que integram um contingente muito maior enviado ao Iraque em junho depois que o Isis conquistou Mosul, a segunda cidade do país.

Obama também anunciou que pretendia proteger “infraestrutura fundamental” na região. Em carta ao Congresso divulgada no dia 17, o presidente declarou que o fato de o Isis ter o controle da estratégica represa de Mosul, a maior do Iraque e que abastece grande parte do país de água e eletricidade, constituía uma ameaça para a embaixada dos Estados Unidos em Bagdá.

“Uma falha na represa de Mosul poderia ameaçar a vida de um grande número de civis, pôr em perigo o pessoal e as instalações dos Estados Unidos, incluída a embaixada em Bagdá, e evitar que o governo iraquiano forneça serviços essenciais à população”, afirma Obama na carta.

As aeronaves de guerra e os aviões não tripulados dos Estados Unidos, que operam em coordenação com os pesh merga e as forças especiais iraquianas, atacaram as posições do Isis na área nos últimos dias. Na noite do dia 18, os combatentes curdos e as forças oficiais iraquianas disseram ter retomado com êxito a represa.

O êxito inicial da ofensiva aérea, com 68 bombardeios até o dia 18, segundo o Comando Central dos Estados Unidos, aconteceu após a renúncia, no dia 14 deste mês, do primeiro-ministro Nouri al Maliki.

Sua demissão foi fundamental, segundo Washington, para estabelecer um governo menos sectário, capaz de estender a mão aos sunitas que colaboraram com o Isis ou a ele se incorporaram, sem compartilhar necessariamente a ideologia extremista e violenta do grupo. A pressão dos Estados Unidos ajudou a convencer Maliki a renunciar em favor de Haider al Abadi, outro xiita e dirigente do Partido Dawa. Washington espera que Abadi esteja mais disposto a compartilhar o poder com os sunitas e os curdos.

Mas os especialistas nos Estados Unidos também reconhecem a contribuição do Irã, junto ao papel fundamental do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (considerado grupo terrorista por Washington), no resgate dos yazidis e na ajuda aos pesh merga, no que foi o último exemplo de como a crescente ameaça que o Isis representa para os diferentes governos pisoteou o tabuleiro geopolítico da região.

É provável que o sucesso inicial da intervenção militar de Obama e seu papel na remoção de Maliki ajudem a enfrentar o coro de críticos, em sua maioria integrado por neoconservadores e republicanos, que ataca sua destreza em política externa.

Alguns de seus correligionários, incluindo que sua ex-secretária de Estado até fevereiro deste ano e possível candidata presidência democrata em 2016, Hillary Clinton, se queixaram de que Obama deveria ter dado mais apoio às facções “moderadas” da insurgência síria no começo da guerra civil na Síria e que reagiu muito tarde diante dos avanços do Isis na província de Al Anbar, no começo deste ano.

Mas a pesquisa divulgada no dia 18, como a maioria das realizadas este ano, sugere que a cautela de Obama reflete o ânimo do público e, sobretudo, o desejo dos eleitores mais jovens e das bases do Partido Democrata. A pesquisa também perguntou aos entrevistados se pensavam que “os Estados Unidos têm a responsabilidade de fazer alguma coisa a respeito da violência no Iraque”. Responderam afirmativamente 44%, 41% disseram que não e 15% afirmaram não saber. Envolverde/IPS