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70+ organizações na COP 30 pedem que governos em todo o mundo estabeleçam Zonas Livres de Combustíveis Fósseis

Novos mapas revelam que blocos de petróleo e gás se sobrepõem a 183 milhões de hectares de florestas tropicais na Amazônia, Bacia do Congo e Sudeste Asiático

Atualizado em 21/11/2025 às 14:11, por Redação Envolverde.

Mapa das zonas que devem ser livres de combustíveis fósseis

Mais de 70 organizações internacionais presentes na COP 30 divulgaram dia 17 de novembro uma carta aberta conclamando os governos de todo o mundo a estabelecer zonas de exclusão livres de combustíveis fósseis para proteger florestas de alta integridade e garantir os direitos dos Povos Indígenas e comunidades locais. O apelo ocorre enquanto novos mapas mostram a sobreposição de blocos de petróleo e gás em mais de 183 milhões de hectares de florestas tropicais na Amazônia, Região do Congo e Sudeste Asiático — uma ameaça que exige ação imediata nesta “COP das Florestas”. (Os mapas podem ser baixados aqui.)

Uma ampla diversidade de organizações assinou a carta, incluindo entidades dedicadas ao clima, natureza, direitos humanos e povos indígenas, como: Amazon Watch, Anistia Internacional, Center for International and Environmental Law (CIEL), ClimaInfo, Earth Insight, Fossil Fuel Treaty, Global Alliance of Territorial Communities (GATC), Global Witness, Greenpeace, LINGO, Parliamentarians for a Fossil Free Future, Oil Change International e Stand.Earth. A carta completa e a lista de signatários estão disponíveis aqui.

A COP 30, realizada no coração da Amazônia, em Belém, representa um momento crítico para a proteção das florestas. Como destacou o presidente Lula na abertura da conferência, “os olhos do mundo se voltam para Belém com imensa expectativa”. A carta das organizações responde ao chamado de Lula por roteiros que revertam o desmatamento e superem a dependência de combustíveis fósseis, oferecendo um primeiro passo concreto: impedir a expansão fóssil nos ecossistemas florestais mais importantes do planeta. Novas organizações continuam assinando a carta aberta.

“Há um passo inicial óbvio para implementar esse chamado: precisamos parar a expansão dos combustíveis fósseis em florestas de alta integridade para evitar estradas, oleodutos e infraestrutura que inevitavelmente acompanham a exploração, levando ao desmatamento e à violação dos direitos dos Povos Indígenas e comunidades locais que protegem esses ecossistemas há gerações”, destaca a carta.

A urgência é evidente. As florestas tropicais absorvem cerca de um quarto de todo o CO₂ emitido anualmente, armazenando enormes quantidades de carbono em árvores e solos. No entanto, a exploração de petróleo e gás ameaça 21% das florestas tropicais de alta integridade nas três regiões críticas (de acordo com a definição de Vancutsem et al., 2021). Declarar reservas comprovadas de petróleo, gás e carvão localizadas sob florestas tropicais e subtropicais como áreas proibidas poderia evitar a liberação de 317 bilhões de toneladas de CO₂1,3 vez maior que o orçamento de carbono restante para 1,5°C.

“Devemos pôr fim ao avanço da indústria fóssil sobre florestas de alta integridade, que atuam como barreiras contra o colapso climático, e garantir os direitos dos Povos Indígenas e comunidades locais, cujo conhecimento ancestral é a forma mais eficaz de conservação.”


O que está em jogo nas três maiores regiões de florestas tropicais

A análise publicada hoje mostra que blocos de petróleo e gás se sobrepõem a florestas de alta integridade em três regiões essenciais, colocando em risco alguns dos maiores sumidouros de carbono do planeta. A expansão fóssil costuma ser a porta de entrada para o desmatamento, pois estradas abertas em florestas intactas costumam ser o “primeiro corte”, desencadeando uma espiral de degradação que pode se estender por mais de 10 km. A exploração de petróleo e gás também prejudica a saúde de povos indígenas e comunidades locais, contaminando rios com derramamentos e o ar com a queima de gás.

Principais resultados por região (a partir dos novos mapas):Região Amazônica

  • A Amazônia se aproxima de um ponto de inflexão impulsionado pela expansão industrial.
     
  • 74 milhões de hectares (14%) de florestas de alta integridade e
    31 milhões de hectares (12%) de terras de povos indígenas e comunidades locais
    se sobrepõem a blocos de petróleo e gás.
     
  • A expansão de indústrias extrativas é especialmente preocupante para Povos Indígenas em isolamento voluntário e contato inicial (PIACI).
     
  • No Peru, blocos de petróleo e gás sobrepõem 21% das reservas PIACI existentes e propostas.
     

Região do Congo

  • A Bacia do Congo perde 3,9 milhões de hectares de floresta por ano.
     
  • Uma moção recente da IUCN pede que os governos mantenham pelo menos 74% das florestas intactas e proíbam indústrias extrativas nas áreas mais pristinas.
     
  • Ainda assim, 72,5 milhões de hectares (40%) das florestas de alta integridade e
    38% das florestas comunitárias já estão sobrepostos por blocos de petróleo e gás.
     

Sudeste Asiático

  • A expansão extrativa continua erodindo a biodiversidade.
     
  • 14% das Áreas-Chave de Biodiversidade (KBAs) e
    36,8 milhões de hectares (37%) das florestas de alta integridade
    estão sob concessões de petróleo e gás.
     

Cresce o movimento global por florestas livres de combustíveis fósseis

A carta se soma a um movimento global crescente. Plataformas lideradas por Povos Indígenas já pediram a exclusão de combustíveis fósseis de seus territórios, e organizações da sociedade civil pressionam para defender o Caribe, o Triângulo de Corais e Áreas Protegidas.

Recentemente, países participantes do Congresso Mundial de Conservação da IUCN 2025 ampliaram o apoio a uma Amazônia livre de combustíveis fósseis para incluir a Bacia do Congo e solicitaram à Comissão Mundial de Direito Ambiental que avalie um Tratado de Não-Proliferação de Combustíveis Fósseis.

Na Amazônia, projetos de lei coordenados foram apresentados no Brasil, Colômbia, Peru, Equador e Bolívia para proibir a expansão fóssil. A Colômbia declarou a Amazônia como Zona de Recursos Naturais Renováveis, proibindo novas extrações de petróleo e minerais — um exemplo que outros países podem seguir.


Uma transição justa exige ação rápida

A carta enfatiza que estabelecer zonas livres de combustíveis fósseis é fundamental para uma transição justa e pede que países desenvolvidos mobilizem os recursos necessários para compensar as nações em desenvolvimento e implementar essas zonas.

A conclusão reforça:

“O presidente Lula abriu a COP 30 lembrando que ‘os olhos do mundo se voltam para Belém com imensa expectativa’. Mas não haverá proteção florestal nem transição justa se não interrompermos o avanço da indústria fóssil sobre as florestas e seus guardiões. Frear essa expansão e garantir meios de implementação seria um primeiro passo ousado. O mundo observa. Povos Indígenas, comunidades locais e as futuras gerações contam com todos nós.”

Eco21/Envolverde