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Ação local, para mudar globalmente, articulação entrega Saúde na Amazônia

Rita Nardy [Atopos-USP) e  Rachel Añón (ponteAponte) - Enquanto continuam, nesta segunda semana, as intensas negociações na sede da COP 30, em Belém, na tentativa de consolidar meios, recursos e governança para implementar o Acordo de Paris, na Vila de Monsarás, localizada no município de Salvaterra, na ilha do Marajó (PA), mais uma UBS (Unidade Básica de Saúde) está sendo entregue como resultado da articulação entre comunidade local, sociedade civil organizada, financiadores e poder público.

Atualizado em 20/11/2025 às 14:11, por Redação Envolverde.

Pessoas na inauguração da UBS de Monsará

Por Rita Nardy [Atopos-USP) e  Rachel Añón (ponteAponte)

Especial para Envolverde

As conversas e interações entre os países e suas delegações observam a tríade dos temas essenciais para construir caminhos para combater as mudanças climáticas: mitigação, adaptação e meios de implementação. Capacidade de articular faz a diferença na Amazônia, ou “nas Amazônias”, como explica Caetano Scannavino, coordenador geral do projeto Saúde & Alegria. Nos territórios, pessoas, plantas, rios, atmosfera, animais, reunidos em redes interconectadas com os demais elementos ecológicos, seguem resistindo do lado de fora, ou apesar do ritmo das negociações, que agora será preciso acelerar, sob riscos e pressões dos eventos climáticos extremos e intensos, associados às mudanças do clima. Com apoio da Fundação Banco do Brasil e articulação da ONG Saúde e Alegria, em parceria com lideranças comunitárias, agentes de saúde e poder público local, a inauguração é também resultado de mais de três décadas de aprendizado e construção de conhecimentos compartilhados e do trabalho em campo, que a ONG mobiliza.

Marajó, recebe seis UBSs

No projeto serão entregues ao todo 24 UBSs, no estado que recebe a COP 30, sendo seis delas na ilha de Marajó.

Respeitando saberes e sensibilidades, a atuação da ONG se caracteriza por sua forma empática, mas consistente. Não é fácil se fazer presente nas distâncias, para entender a dificuldade de fazer valer direitos e a cidadania que se pretende praticar a partir de acordos multilaterais e nacionais. No calor intenso,  por estradas precárias, com acesso restrito a energia, conectividade e saneamento,vão se construindo formas de adaptação, propõe-se desenvolver localmente, mitigando emissões, e busca-se implementar o combate aos efeitos e riscos do aquecimento global, localmente. O objetivo é melhorar, por fim, a qualidade de vida e dos ecossistemas locais, numa visão de saúde integrada.

O médico Eugênio Scannavino, fundador do Projeto Saúde & Alegria, na inauguração de UBS no Marajó.

A UBS inaugurada veio com a energia solar, para garantir o funcionamento da geladeira de vacinas, equipamentos completos para o pré-natal, bolsas impermeáveis para os agentes de saúde, conectividade a rede e computador, dentre outros dispositivos para atendimento local de saúde.

As negociações globais seguem estratégicas e fundamentais para elaborar saídas para a crise em que nos encontramos, para definir modelos de financiar rotas possíveis e elaborar em conjunto como encaminhar questões críticas. Muitas perguntas permanecem pulsando dentro e fora das salas de negociação, tais como, formas de encontrar caminhos para eliminar o uso de combustíveis fósseis, em tempo para evitar uma catástrofe ainda maior, a revisão de um equilíbrio nas contas de carbono e de desenvolvimento entre sul e norte global, e o que de fato representaria uma transição justa numa economia que não reconhece, muitas vezes, por meio de seus mecanismos operativos, as vulnerabilidades e desigualdades. 

Por outro lado, muitos caminhos relevantes já vêm sendo traçados e percorridos localmente, por décadas. Na COP da implementação, reconhecer, mapear e cartografar as conexões que resistem no território em experiências de construção coletiva e participativa, é parte da elaboração de sentidos e de motivação para continuar caminhando.

O gap é enorme. As distâncias são cada vez maiores. O desafio continua passando por respeitar saberes, culturas e tempos ao mesmo tempo em que se incluem os direitos. Nem por isso deixa de ser fundamental fazê-lo. O desafio, no entanto, é fazer com e não por quem deles ainda necessita e merece ser reconhecido em um outro modelo de cidadania - mais ecológica e inclusiva.

Envolverde