COP destaca protagonismo das mulheres no enfrentamento da crise climática
Mulheres da Amazônia também estão na linha de frente da bioeconomia da Amazônia, provando na prática como gerar desenvolvimento com a floresta em pé

Marina Silva, Patrícia Espinosa, Christiana Figueres, Laurence Tubiana, Izabella Teixeira, Greta Thunberg: a história das negociações climáticas está repleta de mulheres que fizeram a diferença em favor do enfrentamento do aquecimento global e tiveram contribuição decisiva para a conclusão do Acordo de Paris. Esta semana, mulheres indígenas provaram o protagonismo feminino na luta em defesa dos territórios indígenas, que estão entre os mais preservados do Brasil, segundo o MapBiomas. E nesta quinta e sexta-feira, 19 e 20 de novembro, quando a COP30 celebra o Dia de Gênero, centenas de mulheres comuns mostram como a força feminina está também na vanguarda da bioeconomia amazônica, modelo de desenvolvimento que gera renda e inclusão social com a floresta em pé.
Esse movimento silencioso, mas crucial para a preservação da Amazônia, ocorre a poucos quilômetros do centro de convenções de Belém. O Sebrae no Pará está usando a conferência como plataforma para demonstrar que o sucesso de milhares de pequenos negócios baseados na biodiversidade, e não apenas grandes acordos estatais, é fundamental para a preservação da maior floresta tropical do planeta – sem a qual a meta do Acordo de Paris não poderá ser cumprida. Nesse processo, as mulheres têm protagonismo, explorando novas potencialidades, indo além do cacau, dos cosméticos e das biojoias, interagindo mais com seus territórios e ajudando a transformá-los. Essas empreendedoras estão criando uma ampla gama de produtos que incluem brinquedos, vinhos, alimentos veganos e muito mais, sempre integrando saberes ancestrais a modelos de negócios modernos e sustentáveis.

Em todo o Brasil, mulheres lideram 52% dos pequenos negócios e possuem, em média, maior escolaridade do que os homens no empreendedorismo. Prova disso é o fato de que estão entre os micro e pequenos empreendedores que mais procuram o apoio do Sebrae no Pará. Desde 2019, o Sebrae Delas já capacitou mais de mil mulheres no Pará, fortalecendo os negócios da floresta. Além de apoiar seu desenvolvimento, o Sebrae no Pará criou um espaço de 17 mil metros quadrados paralelo à COP30. Denominado En-zone, ele é está sendo o palco onde várias mulheres empreendedoras do Pará estão mostrando como é possível aliar tradição e inovação.
Rubens Magno, diretor-superintendente do Sebrae no Pará, explicou que os empreendedores têm muitas oportunidades na COP 30. "Temos que aproveitar este momento em que os holofotes do mundo estão voltados para o nosso estado para alavancar ainda mais os pequenos negócios", destacou. “A COP 30 traz oportunidades de chegar a novos mercados no estado, no nosso país e fora dele", completou
Mas mesmo com o apoio, elas enfrentam barreiras estruturais, como acesso mais difícil a crédito e discriminação de gênero no mercado. Em função disso, o Sebrae no Pará tem ampliado parcerias, como a criação de polos de desenvolvimento e ações de apoio e acesso a financiamento, para consolidar a autonomia econômica de mulheres amazônidas. Outra iniciativa é
Negócios que fazem a diferença
A Fabrika de Bonecos, sob a liderança de Larissa Mena, é uma delas, Ela resgata lendas e encantarias da fauna amazônica, criando brinquedos artesanais únicos que promovem brincadeiras conscientes. Cada boneco é produzido sem aditivos químicos, valorizando a cultura local e a educação ambiental. Já a By Essence Cosméticos, fundada pela cientista Ana Cláudia de Souza Araújo, começou como uma pesquisa na Universidade Federal do Pará de controle de qualidade de óleos comestíveis.
"Tivemos um vasto estudo com a castanha do Pará, como aumento do rendimento, otimização do processo e as caracterizações. Logo, nos tornamos fornecedores cativos de óleos vegetais de uma marca de cosméticos. Após o segundo lockdown, a matéria-prima já não estava bem armazenada, sendo assim não estava apta para consumo em alimentos. Foi assim que buscamos aproveitar esse óleo fazendo inicialmente sabão. Foi aí que começamos a trabalhar com cosméticos. Com as matérias-primas acumuladas, ela entrou em consenso com o orientador para comercializar os óleos. “Iniciamos com uma barraca na Praça República com um pequeno mix de produtos. Foi só então que tivemos uma grande venda de óleo para fora do estado, o que nos obrigou a deixar de ser MEI para nos tornarmos ME", relembra. De acordo com ela, o apoio do Sebrae foi essencial porque “abriu portas para mostrarmos os produtos em feiras nacionais como Beautiful Fair e internacionais, a exemplo da Naturaltech".
Outra empreendedora de destaque é Maria Zélia Machado Damasceno, que lidera a Seringo Amazon Shoes, negócio que empodera famílias de seringueiros, especialmente as mulheres, para transformar o látex em artesanato e biojoias. A empresa compra o excedente para fabricar calçados ecológicos, garantindo renda e proteção social para a comunidade.
Acenet Andrade, da Flor do Igarapé, realiza um trabalho autoral e sustentável utilizando materiais naturais Ela se inspira na biodiversidade paraense, seguindo um processo "slow" que valoriza a cultura local. Yasmin Cantuária Moutinho prepara chocolates veganos com cacau nativo, adquirindo insumos de pequenos produtores e oferecendo produtos inclusivos e "clean label", sem leite ou glúten.
Nem mesmo as comunidades indígenas ficam de fora dessa força empreendedora. Wenatoa Parakana, responsável pela Kania Arte Indígena, por sua vez, produz peças autênticas de arte indígena, utilizando sementes, fibras e miçangas – o que ajuda a expressar a luta dos povos indígenas e gerar renda para a sua comunidade.
As mulheres da Amazônia estão redefinindo a bioeconomia, mostrando que é possível unir sustentabilidade, identidade e impacto social. Suas iniciativas são a prova de que, com apoio e reconhecimento, conseguem gerar renda, preservar a floresta e manter vivas histórias de resistência. Durante a COP 30, ao visitar a en-zone, é possível conhecer de perto essas empreendedoras inspiradoras, seus produtos e entender como as mulheres da floresta estão moldando o futuro sustentável da região.
Agência Sebrae/Envolverde





