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Jornalismo, Consciência e Ação: o papel chave da imprensa na emergência climática

Atualizado em 21/11/2025 às 13:11, por Redação Envolverde.

Imagem de uma casa derrubada por conta da crise climática

Por Francisca Cortés Solari             
Empresária, filantropa e conservacionista chilena

Pela primeira vez na história das conferências climáticas das Nações Unidas, a COP30 incorporou um painel dedicado exclusivamente ao papel do jornalismo na ação climática. No Pavilhão Ciência para a Ação Climática, foi realizado o encontro “Moldando a Narrativa: Jornalismo, Ciência e Mudanças Climáticas”, que destacou o papel estratégico dos meios de comunicação na sensibilização perante a tríplice crise global (clima, biodiversidade e poluição). O painel sublinhou também a necessidade de transformar a maneira como nos comunicamos: reconhecer que os seres humanos fazem parte da natureza e que, portanto, toda ação de conservação deve ser abordada de forma integral, articulando dimensões científicas, comunitárias, econômicas e culturais.

O jornalismo tem um papel decisivo nesta transição. Um estudo do Reuters Institute da Universidade de Oxford (2023) demonstrou que uma cobertura rigorosa e contextualizada da mudança climática aumenta o apoio público às políticas ambientais, mesmo entre públicos tradicionalmente céticos.

Se os meios de comunicação influenciam diretamente o nível de conhecimento, a atitude e a consciência pública perante a crise climática, uma comunicação precisa e acessível pode transformar a percepção social do risco ambiental. Porque o que não é comunicado, não é compreendido; e o que não é compreendido, não é transformado.

Francisca Cortés Solari     

O desafio do jornalismo ambiental não consiste apenas em informar, mas em interpretar, contextualizar e traduzir a evidência científica em narrativas significativas. Uma análise realizada pela Universidade Nacional Autónoma do México (2022) mostrou que o uso responsável de redes sociais e a verificação de informação científica aumentam a consciência ambiental entre os jovens latino-americanos, evidenciando que a qualidade da mensagem é tão decisiva quanto o seu alcance.

A aliança entre ciência, educação e comunicação é fundamental para avançar na sustentabilidade. Primeiro, a ciência gera conhecimento rigoroso sobre a crise climática e seus impactos; sem essa base, não há diagnóstico nem soluções possíveis. Segundo a educação permite que esse conhecimento se torne compreensão social, formando uma cidadania capaz de ler a realidade, vinculá-la à sua vida cotidiana e desenvolver critério para exigir políticas e comportamentos diferentes. Terceiro, a imprensa tem a capacidade de amplificar e traduzir esse conhecimento e essa educação para o espaço público, especialmente num contexto de grande desconfiança. Para isso, a comunicação climática deve enraizar-se nos territórios e mostrar os efeitos concretos da mudança climática não só nos ecossistemas, mas também na economia familiar, na saúde, na habitação e na qualidade de vida das comunidades. Comunicar com sentido, contexto e esperança é essencial para mobilizar a ação, em vez de se limitar a gerar alarme.

O painel “Moldando a Narrativa” reafirmou que o jornalismo tem um dever fundamental na geração de notícias baseadas em evidências. Por isso, requer formação especializada, independência editorial e um compromisso ético com a verdade.

Como adverte a Royal Meteorological Society (Reino Unido), a qualidade da cobertura mediática sobre fenômenos climáticos determina em grande parte a resposta social e política perante eles.

Num contexto global marcado pela desinformação e pela fadiga informativa, o jornalismo de qualidade torna-se uma ferramenta de confiança pública.

O futuro da ação climática dependerá não só da capacidade tecnológica ou das decisões políticas, mas também da forma como construirmos os relatos coletivos sobre o planeta que habitamos. A imprensa, nesse sentido, não é um observador externo, mas sim um ator fundamental na configuração de uma cultura de conservação.

Porque a mudança climática não se enfrenta apenas com ciência e políticas públicas: também com palavras. E as palavras, quando são verdadeiras e mobilizadoras, podem mudar o curso da história.

Envolverde