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Trump ataca o multilateralismo, as energias limpas e exalta o cabono.

O presidente dos Estados Unidos foi o segundo a falar na Assembleia Geral da ONU esta manhã, em Nova York. Sua fala desperta angústia em setores ambientalistas e ligados à economia de baixo carbono ao redor do mundo.

Atualizado em 29/09/2025 às 15:09, por Dal Marcondes.

Homem de terno azul-escuro e gravata vermelha fala em púlpito com dois microfones, em frente a uma parede de mármore verde, durante um discurso oficial

Com ataques à energia limpa, em especial à produção de energia através dos ventos e de plantas solares, o presidente norte-americano fez a defesa da retomada dos combustíveis fósseis em um discurso autoindulgente em que se declarou o arauto da paz mundial e conclamou os países presentes a colocarem seus interesses acima de qualquer sentimento multilateralista. Nesta linha, fez críticas à ação ou inação da ONU e acusou a organização de financiar fluxo de imigrantes ao redor do mundo e, em especial, em direção aos Estados Unidos.

Um discurso alheio aos fatos

As agências de checagem ainda estão trabalhando, mas bastou ouvir a fala de Donald Trump causando expressões de espanto na plateia de chefes de estado e diplomatas, mas ver que ele estava forçando nas tintas para mostrar um governo altamente capaz e líder global da paz. Segundo ele, merecedor do Prêmio Nobel da Paz. Ninguém se safou de suas mal direcionadas flexas semânticas. Europa, China, Índia, Rússia e todos os que, de alguma forma, se recusam a ceder ao beija-mão impositivo. Esbanjou adjetivos a seus país e ignorou os estragos que suas políticas vêm causando à economia, à cultura, à saúde e a tudo o que possa ser denominado “woke”.

Para Donald Trump o que existe é o momento. O futuro parece não ter interesse algum. As mudanças climáticas são descritas como uma farsa e não existem. As emissões de carbono são apenas fruto do progresso e do desenvolvimento econômico e contê-las pode levar países e empresas à falência. Sua fala oscilou entre o autobajulatório e ataques a países que não seguem suas orientações, como a Europa, fazendo ressalvas a governos de direita que estejam sem duros com imigrantes. Admitiu que o amigo Putin não tem sido gentil com ele em relação à Ucrânia e não teve nenhuma condescendência com os mortos palestinos.

Um ataque à COP 30

Apesar de não fazer nenhuma referência direta à COP 30, que acontece em poucos dias em Belém, no Brasil, passou como um trator desgovernado sobre as pautas da conferência e atropelou todas as iniciativas correlatas, levando de roldão a ONU e todos os seus órgãos, que ele acusa de corruptos e incompetentes.

O Brasil mereceu também um minuto de esquizofrenia. Atacou as políticas comerciais brasileiras, o sistema de Justiça do País e apontou a economia brasileira como “muito mal”. Minutos depois disse que se encontrou com o presidente Lula de passagem nos bastidores e que “trocaram um abraço”. Declarou que o Lula é uma boa pessoa e que marcaram uma conversa para a próxima semana.

O que se pode esperar depois dos ataques ao multilateralismo e às pautas de sustentabilidade é um mistério a ser desvendado. No entanto, esse ataque é a senha para que grupos contrários ao ambientalismo, aos direitos humanos, às políticas climáticas, políticas de gênero, cultura e tudo o mais que pode ser considerado progressista, o que inclui combate à desigualdade, ao racismo, à misoginia e muito mais saiam às ruas empoderados e esgrimindo seus instintos mais selvagens.

Há ainda um outro setor que vai sentir de perto essa liberação de instintos, as empresas que, de alguma forma se sentem pressionadas pelas políticas climáticas, de ESG, e relacionadas à gênero e etnia. Essas sempre se sentiram incomodas com políticas de inclusão e o abandono de conceitos de mérito. Essas empresas vão, de forma velada ou não mudar seu comportamento social em função de se libertar de grilhões éticos.

A principal questão no momento é: como resistir?

Apesar de os Estados Unidos serem a maior economia do mundo, o mundo mudou muito desde a fundação da ONU, 80 anos atrás. O multilateralismo cresceu além do alcance da ONU, com o fortalecimento de blocos regionais e econômicos. Isso, além do surgimento de novas potências globais e regionais capazes de fazer frente aos anseios imperiais emanados de Washington.

O Brasil tem dado exemplo de resistência, assim como a Índia e a China, no campo político e multilateral. No campo ambiental, a COP 30 ganhou uma relevância ainda maior, porque não deverá ser apenas uma reunião sobre implementação de Políticas climáticas, mas deve, também, ser a instância de resistência aos ataques que as pautas sociais e ambientais estão sofrendo. Deverá ser a COP da resistência.

Belém vai se tornar o bastião da responsabilidade ambiental, da resistência cultural e climática frente a um tsunami de autoritarismo egocentrado que já está lançando tentáculos ao redor do mundo.

Quinze anos após o Acordo de Paris, a COP de Belém será lembrada como a COP da resistência (Envolverde)