Berlim, Alemanha, 7/6/2011 – A decisão do governo da Alemanha de eliminar a eletricidade gerada por centrais nucleares até 2022 promoverá um uso eficiente da energia, impulsionará o investimento, acelerará a melhoria de fontes renováveis e incentivará a cooperação. Estes elementos são indispensáveis para que a Alemanha possa substituir a energia nuclear, que representa 23% da matriz energética do país, e garantir um fornecimento constante, afirmaram especialistas.
O governo da Alemanha – principal potência industrial da Europa – anunciou na semana passada que todas as usinas nucleares que operam no país estarão fechadas até 2022. As sete centrais que se encontram fora de operação por causa de testes após a catástrofe no complexo japonês de Fukushima, e outra que não funciona há vários anos por problemas técnicos, permanecerão fechadas. As nove restantes serão fechadas até aquela data.
A produção elétrica de fontes renováveis duplicará, dos atuais 17% para mais de 35% em 2020 para compensar a eliminação da energia nuclear. Uma eficiência maior na calefação doméstica e melhor isolamento térmico nos edifícios diminuirão o consumo em 10%, prevê o governo. “Prevemos um crescimento formidável de novos sistemas mais eficientes de calefação e de isolamento térmico em geral”, disse à IPS o diretor da associação alemã de artesanato industrial, Holger Schwannecke.
A peça essencial do quebra-cabeças energético que substituirá a alternativa nuclear é o desenvolvimento de fontes renováveis, especialmente a instalação de mais turbinas eólicas mar adentro, ao Norte do Oceano Atlântico e no Mar Báltico. O governo alemão anunciou que facilitará os trâmites burocráticos para conceder novas permissões para instalações eólicas mar adentro e gerar 25 mil megawatts (MW) até 2030.
“Já é possível instalar torres com turbinas eólicas de alto rendimento com mais de 150 metros de altura e capacidade de 20 MW por unidade”, disse à IPS o professor Tim Fischer, da Universidade de Stuttgart. As turbinas que existem atualmente na Alemanha medem 90 metros de altura e possuem capacidade para dois MW. “Não há obstáculos técnicos que impeçam ter turbinas tão altas. Os engenheiros sabem como fazer e já estão disponíveis”, garantiu Fischer.
“Não é um problema de tecnologia”, concordou Frank Zimmermann, gerente da unidade marítima de Repower Systems, a principal fabricante de turbinas eólicas da Alemanha. “É fácil construir torres de 150 metros e capacidade de 20 MW. Mas é preciso resolver muitos obstáculos burocráticos para obter autorização de transportá-las e instalá-las”, acrescentou. Além disso, a Alemanha terá que resolver a questão de transportar a eletricidade e garantir um fornecimento suficiente, 75 gigawatts (GW) para um dia de inverno normal ou 35 GW para um dia de verão.
“Necessitamos redes inteligentes de fornecimento elétrico que permitam transportar a energia eólica que produzirmos no Norte do país aos possíveis consumidores no Sul”, disse Reinhard Christiansen, diretor de vários parques eólicos do Estado de Schleswig Holstein, perto da fronteira com a Dinamarca. Pelo menos 15% da eletricidade gerada em 2010 não chegou aos consumidores, disse Christiansen à IPS. “Tivemos que desligar as turbinas porque a rede não suportou”, lamentou. Perdeu-se cerca de 50 milhões de quilowatts/hora, acrescentou.
Uma rede elétrica inteligente usará tecnologia digital para supervisionar a eletricidade fornecida, controlar a demanda diretamente dos aparelhos domésticos, para poupar energia, reduzir custos e aumentar a confiabilidade do fornecimento. As redes inteligentes permitem armazenar energia quando o fornecimento é irregular, com ocorre com a alternativa solar e eólica, e oferecê-la no momento de maior demanda.
A necessidade de redes elétricas inteligentes supera o interesse nacional da Alemanha e elas devem ser promovidas em toda a Europa, afirmou Antonella Battaglini, diretora da European Renewables-Grid Initiative e pesquisadora do Instituto de Impacto Climático de Potsdam. “Agora é quase impossível transportar energia de um país a outro”, explicou. “A burocracia quase que impede e a oposição local às linhas elétricas transnacionais é enorme”, ressaltou. Sem uma rede internacional de fornecimento elétrico inteligente, a Europa “pode enterrar seus planos de ter energia procedente de fontes renováveis até 2050”, alertou Battaglini. Fornecedores de energia eólica da Dinamarca e de outros países europeus concordam com essa afirmação.
As redes inteligentes são um elemento essencial para criar um mercado internacional de energia renovável, especialmente a alternativa eólica, disse Dorthe Vinther, a vice-presidente da Energinet, empresa pública independente que possui a principal rede elétrica e de fornecimento de gás natural da Dinamarca.
“A integração em grande escala exige uma forte rede de transmissão internacional e de mercados de eletricidade eficientes para comercializar e equilibrar a energia eólica em uma extensa área geográfica”, disse Vinther à IPS. “Em um projeto dessa envergadura são necessários sistemas de energia coerentes para aumentar a flexibilidade e a eficiência econômica e reduzir o impacto ambiental”, acrescentou.
Uma das questões fundamentais da revolução energética da Alemanha ainda não tem resposta: o custo que terá. “Não sabemos quanto custará, nem nós e nem o Estado. Ninguém pode dizer com precisão”, disse o ministro do Meio Ambiente, Norbert Roettgen, à rede de televisão pública ARD. Envolverde/IPS