Paris, França, 9/6/2011 – Enquanto no Norte se reuniam os ministros do Grupo dos 20 para discutir sobre a segurança nuclear, em outro encontro, seis mil quilômetros ao Sul, era estudado o crescimento de empresas verdes. Ambientalistas, políticos e empresários inauguraram, no dia 7, em Brazzaville, o Segundo Fórum de Empresas Verdes na África, uma conferência de quatro dias para buscar oportunidades de desenvolvimento sustentável. As duas reuniões acontecem em um momento importante.
O Norte industrializado repassa suas políticas sobre energia nuclear após o desastre de março no complexo japonês de Fukushima. Por sua vez, muitos governantes africanos se deram conta de que o futuro do continente é verde. A conferência de Brazzaville responde a “preocupações atuais” e tem o objetivo de “sensibilizar” o público sobre a importância de empresas sustentáveis, de conservar as florestas na bacia do Rio Congo e de lutar pela segurança alimentar, segundo Sylvestre Didier Mavuenzela, presidente da Câmara de Comércio da cidade de Pointe-Noire.
“O Fórum oferece uma oportunidade a investidores da África central, Europa, Ásia e América de, por um lado, oferecer negócios ecológicos na região e, por outro, enfatizar a necessidade de desenvolver e melhorar as condições da população”, afirmou Mavuenzela. Os organizadores, entre os quais está o Ministério do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Congo, estão conscientes do auge dos negócios verdes, disse à imprensa em Paris antes da conferência.
“Se a África central não participa nem avança no setor, não pode se beneficiar das vantagens que acompanham os negócios verdes, como reduzir sua vulnerabilidade econômica”, afirmou Mavuenzela. “Os governos devem se voltar para a economia verde para encontrar novas fontes de crescimento e de emprego”, recomendou a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE), com sede na capital francesa. Os países devem “adotar políticas que aproveitem a inovação, o investimento e o movimento empresarial que encabeça a mudança”, acrescentou.
A OCDE elaborou um contexto prático para que os governos impulsionem o crescimento econômico e protejam o meio ambiente, que consta do informe “Towards Green Growth” (Para um Crescimento Verde), publicado em maio. “Muitos países africanos têm uma grande quantidade de riquezas naturais e precisam ter políticas específicas para desenvolvê-las de forma sustentável e organizada”, disse Nathalie Girouard, da equipe de Estratégia de Crescimento Verde, da OCDE. “O crescimento verde tem sentido econômico e ambiental”, segundo a especialista. “Somente no setor de recursos naturais, as oportunidades comerciais relacionadas com os investimentos sustentáveis podem chegar a trilhões de dólares até 2050”, ressaltou.
Com vistas à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, que acontecerá em 2012, vários países africanos e de outras regiões compreenderam a importância do desenvolvimento verde, realizaram novos investimentos e criaram associações, segundo especialistas. Na Estratégia de Redução da Pobreza e Desenvolvimento Econômico de Ruanda, por exemplo, “o meio ambiente figura como assunto transcendental”, disse Girouard à IPS.
“Em matéria de crescimento verde, Ruanda tem necessidades diferentes das da Alemanha ou do Canadá. A ideia é elaborar políticas para diferentes fases de desenvolvimento”, explicou a especialista. Esse país também identificou vários setores com forte “conteúdo de recursos naturais e ambientais” como importantes para conseguir seus objetivos de desenvolvimento, segundo a OCDE. As medidas adotadas por Ruanda para preservar o habitat dos gorilas de montanha promoveram o turismo, que agora representa a maior participação no produto interno bruto nacional, acrescentou Girouard.
Empresários africanos têm um papel cada vez mais ativo na indústria verde, alguns mediante associações com entidades de outros países em desenvolvimento ou europeus. Para muitos é uma oportunidade de melhorar as condições de vida do continente. A Associação Beninense para o Despertar e o Desenvolvimento instala paineis solares em aldeias do Benin e se dedica a “criar um modelo replicável para incentivar essa fonte de energia”, disse Christèle Adedjoumon, gerente de projeto.
“A iniciativa consiste na eletrificação solar de áreas rurais pelas próprias camponesas”, explicou Adedjoumon. As mulheres são treinadas durante seis meses nessa tecnologia fotovoltaica no Barefoot College, na Índia, para eletrificarem suas aldeias, disse à IPS. A intenção é “promover o desenvolvimento social sustentável” mediante efeitos sobre educação, saúde, vida familiar, emprego e proteção do meio ambiente, acrescentou.
Cerca de 1,4 bilhão de pessoas não tem eletricidade, a maioria se encontra na África subsaariana, onde o serviço chega a 30% da população e a 12% nas zonas rurais. Se não forem tomadas medidas específicas, a quantidade de pessoas sem eletricidade se manterá em 1,2 bilhão até 2030. A França, este ano na presidência do Grupo dos Oito países mais poderosos e também do G-20, destacou que o acesso a energia e o desenvolvimento na África são prioritários.
A ministra do Meio Ambiente da França, Nathalie Kosciusko-Morizet, e o primeiro-ministro do Quênia, Raila Odinga, lançaram em abril a Iniciativa Climática Paris-Nairóbi, que pretende contribuir para o acesso universal a energia limpa até 2030. “As pessoas mais pobres do mundo pagam a energia mais cara, menos efetiva e menos sustentável”, diz um informe franco-queniano.
A importância da iniciativa se refletiu na presença em Paris de 90 delegados africanos, de membros do G-20, da Europa, de agências das Nações Unidas, de instituições de desenvolvimento e de empresas do setor, incluídas a francesa EDF e a centro-africana Enerca. Na declaração final do encontro, os participantes concordam quanto à “urgência de conseguir acesso universal a energia, ao desenvolvimento econômico e à luta contra a mudança climática”, afirmou a ministra.
O Quênia será o anfitrião da próxima conferência da Iniciativa de Nairóbi, em fevereiro do ano que vem. Nessa ocasião serão avaliadas “ações tomadas para melhorar o clima de investimentos, criar novos mecanismos financeiros e lançar Projetos de Energia Limpa”, afirmaram os participantes. Envolverde/IPS