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Mercado de carbono pisa no freio

Barcelona, Espanha, 6/6/2011 – O mercado de carbono, mecanismo comercial proposto pelo Protocolo de Kyoto para reduzir emissões de gases que provocam o aquecimento global, estagnou após cinco anos de crescimento. “A situação é obscura. Os projetos realizados dentro do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) diminuíram 46% até ficarem, no ano passado, em US$ 1,5 bilhão”, alertou o enviado especial do Banco Mundial de Mudança Climática, Andrew Steer, na oitava edição da Carbon Expo, que terminou no dia 3, na cidade espanhola de Barcelona.

O MDL é um dos instrumentos de flexibilidade incluídos no Protocolo de Kyoto, que permite aos países industrializados cumprirem parte de seus compromissos de redução de emissões mediante o financiamento de projetos em nações em desenvolvimento, com estas se beneficiando da transferência de tecnologias limpas. Com esses investimentos, as empresas dos países industrializados obtêm certificados de redução de emissões com os quais “compensam” a contaminação doméstica que deveriam reduzir.

Obrigadas pelo Protocolo de Kyoto, 35 nações industrializadas devem diminuir suas emissões de gases-estufa no período 2008-2012 em 5,2% em relação ao que emitiam em 1990. Contudo, nem essa meta está sendo cumprida nem os negócios do mercado de carbono decolaram com se esperava. O crescimento parou “em um momento especialmente inoportuno, já que 2010 foi o ano com temperaturas mais elevadas desde que começaram os registros, enquanto as emissões em nível global continuaram crescendo”, disse o especialista financeiro do Banco Mundial, Alexandre Kossoy, na apresentação, na Carbon Expo, do informe anual “Estado e Tendências do Mercado de Carbono 2011”, elaborado pelo Banco.

Segundo a Agência Internacional de Energia, as emissões de dióxido de carbono bateram todos os limites em 2010, alcançado cerca de 30,6 gigatoneladas, 5% superiores ao recorde anterior, de 2008, quando chegaram a 29,3 gigatoneladas. O estudo do Banco Mundial revela que o valor total do mercado de carbono caiu em relação a 2009, após cinco anos de crescimento, alcançando em 2010 US$ 142 bilhões. No ano anterior havia crescido 6% chegando a US$ 144 bilhões.

A ministra para a Mudança Climática da Espanha, Teresa Rivera, reconheceu que “estamos em um momento crítico”, há mais de dez anos do lançamento do mercado de carbono e quando falta um para expirar o primeiro período de compromissos do Protocolo de Kyoto. No final deste ano, será realizada na cidade sul-africana de Durban a 17ª Conferência das Partes (COP -17) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, na qual se decidirá o futuro do Protocolo de Kyoto. “Vimos êxitos, mas também desinteresse político, dificuldades técnicas e dúvidas”, disse Rivera, lamentando a perda de valor de “uma ferramenta criada para facilitar recursos financeiros para países em desenvolvimento”.

Entre as causas da falta de confiança no mercado de emissões, o presidente e conselheiro-delegado da Associação Internacional de Comércio de Emissões (Ieta), Henry Derwent, citou uma combinação de “recessão econômica, lento progresso nas negociações internacionais e pessimismo sobre o compromisso dos Estados Unidos com a política do clima”. Embora este país gere quase um quarto das emissões mundiais de gases-estufa, nega-se a aderir ao Protocolo de Kyoto.

A Ieta afirma que um futuro aumento no preço dos créditos de carbono não será suficiente para que a União Europeia cumpra seus objetivos de reduzir em 80% a emissão de gases-estufa até 2050, nem para limitar o aquecimento global em dois graus. É que, além dos incentivos de mercado, da rentabilidade e dos mecanismos de flexibilidade, o Protocolo de Kyoto estabelece que os países industrializados devem reduzir realmente sua contaminação que causa a mudança climática.

“Se queremos um mundo sem pobreza devemos nos preocupar com o clima, e o mercado do carbono é um elemento fantástico para conseguir êxitos nesse campo”, afirmou Kossoy em uma de suas intervenções na conferência. A secretária-executiva da Convenção, Christina Figueres, participou de uma mesa-redonda afirmando que “não podemos medir o progresso pelos números do mercado, mas pelo impacto conseguido na qualidade de vida e na taxa de sobrevivência dos que estão em piores condições”.

Teresa Palacios, representante do governo do Equador na Carbon Expo, viajou a Barcelona porque seu país tem em mãos projetos hidrelétricos, eólicos, geotérmicos e agroindustriais, que deseja “apresentar ao mundo para que possam ser financiados”, disse à IPS. No estande do Peru, Julia Justo, diretora da entidade sem fins lucrativos Fundo Nacional do Ambiente, disse à IPS que há uma aliança interessante com a empresa espanhola de energia Endesa para implementar projetos de redução de emissões de gases-estufa.

A Carbon Expo foi, sobretudo, um contexto para promover oportunidades de negócios. Seus organizadores, a Ieta e o Banco Mundial, asseguram que é a maior feira e conferência dedicadas ao comércio de emissões de carbono. Na edição deste ano, participaram três mil visitantes de mais de cem países e 280 expositores. Envolverde/IPS