Arquivo

O sonho verde das Ilhas Cook

[media-credit name=”Gentileza de Henry Puna” align=”alignright” width=”300″][/media-credit]
Henry Puna
Viena, Áustria, 15/7/2011 – “Cem por cento de energia renovável até 2020 é um objetivo ambicioso, mas não impossível”, disse o primeiro-ministro das Ilhas Cook, Henry Puna, em entrevista à IPS. Este arquipélago localizado no Pacífico Sul constitui um dos Estados insulares que serão cobertos pelas águas se não houver drásticas reduções nas emissões de carbono que aquecem o planeta e derretem as camadas de gelo do mundo. Com 14 mil habitantes, estas 15 ilhas se estendem por uma área do tamanho da Índia.

As emissões de carbono do país são praticamente as mesmas de uma localidade norte-americana ou canadense de três mil habitantes. Agora, mediante um plano de ação nascido do desespero, quer se converter no primeiro país com zero de emissão de carbono até 2020. Com pouca energia renovável atualmente e dependente da ajuda estrangeira, pretende gerar a metade de sua energia com fontes renováveis no prazo de apenas quatro anos, chegando a 100% em 2020. A IPS conversou com Puna em Viena.

IPS: As Ilhas Cook têm uma diminuta pegada de carbono, por que o senhor se compromete a chegar a 100% de fontes renováveis?

HENRY PUNA: Estatisticamente, nossas emissões de carbono não são registradas. Como povo, queremos fazer algo em relação à mudança climática. Quase toda a nossa energia procede do petróleo (diesel e gasolina), e gastamos metade de nosso orçamento nacional com petróleo. Isto implica que dezenas de milhões de dólares deixam nossas ilhas. Queremos que esses milhões fiquem em nossa economia local. Os habitantes das Ilhas Cook apoiam com intensidade nosso sonho de ser o destino mais limpo e mais verde do mundo. Algum dia o mundo vai querer saber como chegamos a 100%.

IPS: O senhor tem esperanças de que a comunidade internacional finalmente concorde em fazer as reduções necessárias nas emissões de carbono para manter o aquecimento global abaixo de dois graus?

HP: As coisas se movem muito lentamente no plano internacional. No fórum (de Energia de Viena, realizado em junho) pedi urgência à comunidade internacional para garantir que as emissões mundiais de carbono cheguem a um teto até 2015 e então comecem a baixar. Precisamos agir rapidamente. Esta é a década em que devemos pôr sob controle as emissões que causam a mudança climática. Nossas circunstâncias diferem, temos diferentes experiências de vida, mas todos somos parte da Mãe Terra e deveríamos compartilhar a responsabilidade de mantê-la habitável para todos nós e não apenas para alguns.

IPS: Os habitantes das Ilhas Cook estão preocupados com a mudança climática?

HP: Já estão sofrendo a elevação do nível do mar, a descoloração dos corais, ciclones mais frequentes e mais fortes, as mudanças nas precipitações e o aumento da erosão costeira. Vivemos do mar e da terra, isto é, dependemos da natureza para nosso sustento. Qualquer coisa que afeta a natureza causa alarme entre a população. A mudança climática ameaça nossa própria sobrevivência. Há uma sensação geral de apreensão quanto ao futuro.

IPS: O que o leva a crer que pode conseguir seu ambicioso objetivo?

HP: Ontem visitei Güssing (na Áustria), um povoado que na década de 1990 era pobre e que se refez convertendo para 100% a energia renovável. Livrou-se dos combustíveis fósseis e conseguiu a independência energética. Também atraiu muitos negócios limpos e verdes e se converteu em um centro turístico. Passei um tempo com o prefeito. Eles irão às Ilhas Cook para nos dar assessoria. Estão desejosos de compartilhar sua experiência. Estou absolutamente entusiasmado com a ideia.

IPS: Seu país tem poucos recursos financeiros. O senhor realmente acredita que poderá fazer igual Güssing?

HP: É uma localidade pequena, e nós somos um país pequeno. O que aprendi com Güssing é que, se há vontade política com apoio público, tudo pode acontecer. Já temos um plano para instalar uma usina solar de dois megawatts em uma de nossas ilhas. Contamos com o apoio de Japão, Nova Zelândia e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).

IPS: Quais são alguns dos obstáculos que devem ser superados.

HP: A tecnologia para gerar toda a nossa energia já existe, mas a chave é o armazenamento. Também precisamos garantir que as comunidades afastadas que não possuem habilidades técnicas possam usar e manter parte desta energia. Saber que estamos tomando medidas ajuda a nos sentirmos bem, embora o mundo não faça nada. Não fazemos isto apenas pelas Ilhas Cook. É nossa contribuição para melhorar o meio ambiente mundial. Envolverde/IPS