Uxbridge, Canadá, 23/10/2012 – Na República de Palau existe um refúgio seguro para tubarões, que é tão grande quanto o território da França e que se converteu em uma milionária fonte de renda por meio do turismo. Essa nação insular do Pacífico foi elogiada pela estratégia ambiental na 11ª Conferência das Partes (COP 11) do Convênio sobre a Diversidade Biológica, que terminou no dia 19, na cidade indiana de Hyderabad.
As autoridades palauanas receberam o Prêmio Política de Futuro. “Palau é um líder mundial na proteção de ecossistemas”, disse Alexandra Wandel, diretora do World Future Council, que concede este prêmio. “Outros países, como Honduras, Maldivas, Bahamas e Costa Rica seguem atrás, criando suas próprias reservas ou proibindo a pesca do tubarão”, contou à IPS durante a COP 11.
No mês passado, os quatro Estados Federados da Micronésia anunciaram o fim da pesca comercial de tubarões em suas águas e expressaram sua intenção de unirem-se a outras nações para criar um abrigo regional de cinco milhões de quilômetros quadrados. Especialistas independentes envolvidos na escolha de Palau para o prêmio ficaram impressionados com a Lei de Refúgios de Tubarões aprovada nesse país em 2009, e também com a Lei de Redes de Áreas Protegidas, de 2003.
“O objetivo do World Future Council é criar consciência sobre a importância de políticas exemplares e acelerar ações para criar sociedades justas, sustentáveis e pacíficas”, destacou Wandel. A população total de tubarões no mundo está em queda, e 30% de todas as espécies de esqualos estão ameaçadas. Mais de 73 milhões de tubarões são capturados anualmente, principalmente para retirada de suas barbatanas, usadas para preparar uma sopa considerada um manjar na Ásia.
Palau é habitado por 22 mil pessoas, distribuídas em 200 pequenas ilhas a cerca de 800 quilômetros das Filipinas. A zona econômica exclusiva de Palau contém cerca de 130 espécies raras de arraias venenosas e esqualos, incluindo grandes tubarões-martelo, de ponta branca e leopardo. Em setembro de 2009, Palau criou o primeiro refúgio mundial de tubarões, proibindo a pesca em todas suas águas territoriais. Os tubarões têm um papel crucial na saúde dos ecossistemas marinhos, incluindo os arrecifes de coral, destacou Anisha Grover, chefe de políticas sobre oceanos e costas do World Future Council, com sede na cidade alemã de Hamburgo.
Os tubarões são considerados uma espécie crucial na manutenção da rede alimentar marinha. Comem peixes doentes e fracos. Havendo menos tubarões, os arrecifes de coral e outras partes do oceano se degradam, alertam cientistas. A população de Palau reconhece a importância dos tubarões para a saúde de seus mares, e sabe muito bem que o turismo gera muito mais renda do que a pesca, afirmou Grover à IPS desde Hyderabad.
Pescar cem tubarões de arrecife renderia ao governo palauano US$ 10,8 mil de uma só vez, segundo demonstrou o estudo australiano Procurados Vivos ou Mortos? O Valor Relativo dos Tubarões de Arrecife como Recurso Pesqueiro e como Bem Ecoturístico de Palau. Estes mesmos cem tubarões de arrecifes visitados por turistas geram renda anual de US$ 18 milhões. Estes animais podem viver entre dez e 25 anos. Segundo Grover, “Palau está demonstrando que os tubarões valem muito mais vivos do que mortos”.
Contudo, patrulhar o vasto refúgio é um grande desafio para esse país, reconheceu Heather Ketebengang, uma palauana que participou da COP 11, integrante do Fórum Juvenil Internacional Go4BioDiv. “Temos apenas um barco-patrulha. O Japão acaba de nos dar outro. Não contamos com recursos. Seria grandioso ter a assistência de outros países”, disse à IPS. Um dos grandes problemas é a prática de pesca chamada finning.
Os pescadores interessados em comercializar as barbatanas, para economizar espaço em suas embarcações, muitas vezes cortam essas extremidades dos tubarões e os devolvem vivos ao mar para que morram sangrando ou asfixiados, já que, por não poderem nadar, não podem respirar por suas guelras. “Mesmo antes de existir o refúgio, quando detínhamos um barco ilegal cheio de barbatanas, as queimávamos e multávamos os pescadores ilegais”, contou Ketebengang.
Os palauanos não estavam conscientes do problema, mas agora entendem a importância dos tubarões para a rede de alimentação marinha e querem protegê-los, afirmou Ketebengang. Os próprios moradores estão encarregados de administrar e fazer respeitar as restrições nos 35 arrecifes e lagoas protegidas. Palau tem como meta proteger 30% do meio ambiente marinho próximo à costa e 20% do meio ambiente terrestre até 2020.
As comunidades e os Estados que formam o arquipélago administram essas áreas de maneira tradicional, com apoio financeiro, técnico e institucional do governo. “Restringir ou proibir a pesca era difícil no começo, mas as pessoas agora entendem que é pelo nosso próprio futuro. É a única maneira de manter os peixes ali. Nossas políticas serão boas para meus netos. Os peixes são muito importantes em Palau”, enfatizou Ketebengang. Envolverde/IPS