Bonn, Alemanha, 15/6/2011 – Limpe o ar, esfrie o planeta e evite milhões de mortes eliminando a fuligem e o smog, pede urgentemente um informe apresentado nesta cidade alemã durante a conferência sobre mudança climática das Nações Unidas. Poluentes aéreos, como o carvão negro (fuligem) e o ozônio terrestre (smog), se desprendem da combustão completa de combustíveis fósseis e de biomassa como lenha e carvão vegetal.
As nações ou blocos regionais podem decidir pela adoção de medidas que melhorem rapidamente a qualidade de seu ar e reduzam as perdas de cultivos. E, quase como um benefício colateral, esses esforços podem ajudar muito a diminuir o ritmo do aquecimento global, diz um informe de avaliação científica divulgado nas negociações da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, que acontece até o dia 17, em Bonn.
“Um terço do aquecimento global atual se deve às emissões de carbono negro, metano e ozônio terrestre”, disse Joseph Alcamo, cientista-chefe do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). O informe “Integrated Assessment of Black Carbon and Tropospheric Ozone” (Avaliação Integrada de Carbono Negro e Ozônio Troposférico) mostra que reduzir as emissões desses contaminantes é um poderoso complemento dos esforços para diminuir as emissões de dióxido de carbono, afirmou Alcamo em entrevista coletiva.
Se a comunidade mundial adotar plenamente as medidas de limpeza, poderá reduzir em 0,5 grau a mudança climática futura, entre 2030 e 2040, conclui o informe. Este é um ingrediente primordial no extraordinário desafio de impedir que o aumento da temperatura mundial ultrapasse os dois graus, afirma o coautor do estudo, Johan Kuylenstierna, diretor do Instituto de Estocolmo para o Meio Ambiente, de York, na Grã-Bretanha.
Os cientistas que estão por trás do informe, coordenado pelo Pnuma e pela Organização Meteorológica Mundial, também apontam numerosas oportunidades em matéria de saúde pública e segurança alimentar. O ozônio terrestre e finas partículas, entre elas as de carbono negro, estão vinculadas a mortes prematuras, principalmente por doenças cardíacas e câncer de pulmão, junto com outros males como bronquite e baixo peso ao nascer. Tanto o ozônio terrestre quanto o carbono negro também podem reduzir substancialmente o crescimento de cultivos, árvores e outras plantas.
Colocar em prática as medidas contidas no informe pode evitar perdas anuais de até 50 milhões de toneladas nos rendimentos anuais, estimam os autores. As medidas de limpeza “para fazer isto existem e estão em uso em muitos lugares. É preciso que sejam adotadas mais largamente para conseguir o pleno benefício climático”, afirmou Kuylenstierna à IPS. O carbono negro, ou fuligem, se desprende da queima ineficiente de combustíveis fósseis e biomassa como lenha e carvão vegetal.
Para abordar essas emissões, o estudo recomenda o uso generalizado de filtros nos motores a diesel para reter estas partículas. O informe também recomenda eliminar os veículos e motores a diesel mais antigos, que hoje são contaminantes. Substituir os fogões a lenha por versões mais modernas e limpas melhorará drasticamente a qualidade do ar nos espaços fechados e abertos, ressaltou Kuylenstierna.
O ozônio troposférico, mais conhecido com smog, é consequência das emissões de metano, óxido de nitrogênio e outros produtos liberados durante a combustão. O resultado é um poderoso gás de efeito estufa, e, segundo o estudo, as principais medidas para reduzir sua formação incluem capturar o metano emitido por aterros sanitários, pela produção e transporte de carvão, petróleo e gás, e, em menor proporção, pelo gado.
Incentivar o uso de compostagem (adubo orgânico) é uma solução barata para reduzir as emissões dos aterros sanitários, embora esteja se generalizando a captura de metano para utilizá-lo como fonte de energia. “Em algumas cidades indianas, os ônibus a diesel foram transformados para utilizar gás natural”, disse Surya Sethi, negociador da delegação indiana. “A mudança para fogões mais limpos não acontece em um grau importante”, disse Sethi.
Os custos e a falta de programas efetivos para levar esta ação às áreas rurais, além da inércia institucional, são algumas das barreiras à sua disseminação, acrescentou o negociador indiano. Com o benefício significativo para a proteção do clima mundial documentado no relatório, Sethi afirmou que espera que estas medidas sejam consideradas prioritárias e tenham acesso a novo financiamento internacional.
Kuylenstierna não vê a realização de esforços para reduzir a fuligem e o smog como parte do processo da Convenção Marco. O carbono negro e o ozônio terrestre causam o aquecimento do planeta, mas seus efeitos são medidos em dias ou meses, enquanto o dióxido de carbono emitido hoje continuará esquentando a atmosfera durante séculos. Talvez o mais importante seja que a lentidão destas negociações climáticas internacionais as torne um fórum inadequado para os poluentes com “impactos que são locais, aqui e agora”, ressaltou.
Um enfoque regional funcionaria melhor, sugeriu Kuylenstierna. As nações do Sudeste asiático poderiam trabalhar juntas para implementar estas medidas, já que toda a região se beneficiaria. O carbono negro é conhecido por afetar o calendário das monções e acelerar o derretimento dos gelos do Himalaia, fonte crucial de água para a região, afirmou.
Nenhuma destas medidas é nova. De muitas delas se falou durante anos, mas ainda não há uma adição generalizada: dezenas de milhares de fogões se converteram em dezenas de milhões. Com a esperança de mudar isto, um relatório de acompanhamento será divulgado na 17ª Conferência das Partes (COP 17) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, que acontecerá no final do ano em Durban, na África do Sul.
“Este é um estudo científico muito convincente”, disse Emi Hijino, líder da delegação da Suécia em Bonn. “Gostaríamos de anunciar nosso apoio ao desenvolvimento de um plano de ação sobre como executar as medidas recomendadas”, afirmou. Esse esforço implicará uma evolução de políticas e fará “recomendações relevantes em matéria de políticas” para a implementação de uma base regional que ajude os governos a dar os passos seguintes para uma rápida ação contra estes poluentes aéreos, concluiu Hijino. Envolverde/IPS