Recife, Brasil, 5/10/2011 – Silvio Leimig tinha 18 anos e há pouco tempo havia obtido a carteira de motorista quando, no começo da década de 1980, visitou Suape, a 40 quilômetros de sua residência, em Recife, capital do Estado brasileiro de Pernambuco. Pressentiu que esse lugar se desenvolveria e que ali estava seu futuro. O Porto de Suape era, então, pouco mais que um projeto ambicioso, projetado na década de 1970 para receber um conjunto de indústrias e concretizar o sonho de promover na região Nordeste do país um desenvolvimento econômico semelhante ao do sul do país.
Cerca de 30 anos depois, Leimig, já como engenheiro elétrico especializado em transportes, cumpriu sua previsão. Hoje é um dos diretores do Complexo Industrial Portuário de Suape, visto como a locomotiva do processo de súbita industrialização de Pernambuco, com reflexos em Estados vizinhos. O projeto demorou três décadas para decolar, desde que foi incluído nos planos do governo pernambucano, em 1975. Finalmente, aconteceu em ritmo fulminante.
Em poucos anos, instalaram-se na região mais de cem empresas e outras 30 estão construindo suas estruturas de produção, destacando-se uma refinaria acompanhada de três plantas petroquímicas. Por exemplo, já operam em Suape o maior moinho latino-americano de trigo, propriedade da transnacional Bunge, e um estaleiro ao qual se associaram três empresas brasileiras com a coreana Samsung, que emprega 7.400 pessoas e tem pedidos que cobrem entregas pelos “próximos dez anos”. Outros estabelecimentos semelhantes também decidiram instalar-se ali.
Diariamente chegam e saem de Suape “cerca de 80 mil trabalhadores”, disse Leimig, ao responder à IPS com certa pressa para poder voltar à sua casa antes das 16 horas, porque mais tarde as estradas “ficam infernais”, ocupadas por caminhões e ônibus em excesso nas pistas estreitas e deterioradas.
Há um mês chegavam até 70 mil empregados, em suas contas de diretor da Suape Global, o fórum do qual participam variados setores da sociedade para atrair investimentos, especialmente para fazer de Pernambuco um polo fornecedor de bens e serviços para as indústrias do petróleo, gás e naval. Entretanto, Felipe Chaves, gerente de Segmentos Econômicos no governo de Pernambuco, reconhece que a infraestrutura e a mão de obra qualificada para essa explosiva demanda ainda são insuficientes e são os problemas que afetam o processo de desenvolvimento.
A população local e seus governantes, após tanto esperarem pelas indústrias que o Porto atrairia, foram surpreendidos pela brusca transformação do sonho em realidade. Não houve tempo nem recursos para adaptar as estradas turísticas ao trafego diário de milhares de veículos pesados, nem para preparar a cidade para a chegada em avalanche de operários de todas as partes do país.
“Cerca de três mil ônibus transportam os trabalhadores, com uma circulação que triplicou”, conta Rubia Melo, coordenadora de Recursos Naturais do município de Cabo Santo Agostinho. Em três anos, “mudou tudo”, acrescentou. Hotéis e residências familiares se converteram em alojamentos de operários diante da insuficiência dos locais construídos pelas empresas para hospedar mais de dez mil empregados. O aluguel das casas mais simples passou de R$ 300 para R$ 800, lembrou Rubia com exemplo da consequente inflação causada pela explosão trabalhista.
Em Cabo Santo Agostinho vivem cerca de 20 mil trabalhadores de Suape, que emprega um pouco mais de residentes locais, segundo Abel dos Santos Neto, secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo. O município tinha 185.025 habitantes, segundo o censo do ano passado, mas sua população cresce diariamente. A consequente explosão de demanda exacerbou os preços e a urgência de investir em infraestrutura, educação e segurança pública, destacou Neto.
Por outro lado, os homicídios caíram, em média, de 12 para quatro ou cinco ao mês, comemorou Melo, que atribui isto ao bom desempenho da guarda municipal. Porém, “aumentaram as agressões, a gravidez precoce, as mães solteiras, a prostituição, o tráfico de drogas”, admitiu Neto, indicando que sua cidade sofre o impacto de ficar entre a capital, Recife, e Suape, localizado no município vizinho ao sul, Ipojuca.
Convertidos em “dormitórios de Suape”, esses municípios costeiros agora estão com o turismo prejudicado pelo acesso congestionado, especialmente Ipojuca, conhecido internacionalmente por suas praias e pela concentração hoteleira de Porto de Galinhas. São dores do progresso. Neto se diz orgulhoso de “participar de um governo que transforma a vida das pessoas”, na construção de “um grande futuro” para sua cidade. “Desde criança via a potencialidade de Suape e de Cabo de Santo Agostinho”, disse.
Ampliar as estradas, compondo um Arco Metropolitano, para tirar veículos de carga das cidades, e levar ferrovias a Suape são medidas em andamento para descongestionar a Região Metropolitana do Recife, que compreende 14 municípios e 3,7 milhões de habitantes, informou Roberto de Abreu e Lima, encarregado de Gestão na Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco.
Outro desafio é interiorizar o crescimento econômico, já que 80% do produto pernambucano fica hoje em um raio de 60 quilômetros em torno da capital, acrescentou Abreu e Lima. Para isso será vital a ferrovia Transnordestina, que deverá estar concluída em dois anos e cruzará todo o Estado de Leste a Oeste e chegará aos Estados vizinhos também.
Suape buscou inicialmente atrair todo tipo de empresa, tentando formar polos de desenvolvimento de alimentos, cerâmica, energias e autopeças. Agora começou a selecionar, aceitando apenas as que “necessitam instalar-se ali” perto do Porto, e as vinculadas à vocação escolhida, de centro petrolífero, gasífero, naval e offshore (atividades oceânicas), explicou Leimig.
A decisão da multinacional italiana Fiat, desistindo de construir sua nova fábrica em Suape para fazê-lo em Goiânia, cem quilômetros ao norte, contribui para a desconcentração desejada, disse Daniel Cabral, assessor de Leimig. A nova instalação, de 14 mil hectares, permitirá ampliar a produção anual para 300 mil veículos e instalar produtores de autopeças, justificou a montadora italiana. É mais do que toda a área de Suape, de 13.500 hectares, onde 59% são destinados à preservação ambiental.
O governo estadual estuda construir um novo porto e um aeroporto em Goiânia para atender o polo automobilístico, mas Suape, que foi decisivo para atrair a Fiat para Pernambuco, continuará sendo importante para sua operação. Eleito o melhor porto estatal brasileiro por duas diferentes instituições, Suape “recuperou o orgulho dos pernambucanos”, ao impulsionar a economia do Estado, disse Leimig. A população “vivia deprimida” pela paralisação e pelo fracasso em atrair grandes projetos, como uma fábrica que a Ford decidiu, em 1999, levar para a vizinha Bahia, conclui. Envolverde/IPS