ODS6

O desafio das águas na Bacia do Rio Doce

Por Redação Envolverde – 

Projetos para recuperar rios e nascentes, desafio ambicioso diante dos problemas acumulados pela poluição, falta de saneamento básico e a lama da barragem de Fundão 

Após o rompimento da Barragem do Fundão, em 5 de novembro de 2015, os cursos d’água na Bacia do Rio Doce, em um trecho de 670 quilômetros, foram atingidos pelos rejeitos, impactando mananciais que abastecem dezenas de cidades. O primeiro olhar é de perplexidade: como fazer para recuperar a qualidade ambiental e das águas dos rios e nascentes? Além de todo o impacto nas comunidades próximas ao local do rompimento, o rejeito avançou até o mar, causando danos ao longo do percurso.  A pergunta das populações de 24 localidades abastecidas pelo Rio Doce, passou a ser: e a minha água/o meu abastecimento de água, como fica?

Como exemplo das consequências desse impacto, os cerca de 280 mil habitantes da cidade de Governador Valadares, em Minas Gerais tiveram o abastecimento de água interrompido durante sete dias. Nesse período, a população recebeu água de carros-pipa e até mesmo água mineral. O rompimento da barragem de Fundão trouxe de volta um antigo problema das cidades da bacia do rio Doce: encontrar fontes alternativas de abastecimento de água. A interrupção da captação e o desabastecimento provocados pela passagem da lama chamaram atenção para as estruturas, algumas precárias, das Estações de Tratamento de Água (ETAs) dos principais municípios da região de Governador Valadares. Estudos de segurança hídrica apontaram os mananciais que poderiam ser utilizados para a captação alternativa nas cidades atingidas e se somaram ao diagnóstico das ETAs. “Mesmo antes de 2015, o Rio Doce já vivia uma ‘tragédia anunciada’, seja pelo assoreamento, as estiagens prolongadas, degradação do meio ambiente em área de nascente. A lama da barragem de Fundão agravou esse quadro”, afirma André Merlo, prefeito de Governador Valadares.

O trabalho de recuperação começou de imediato nos rios, cursos d’água e nascentes. O que se quer agora, segundo a Fundação Renova, é entregar os recursos hídricos da região na situação mais saudável possível e contribuir para que as cidades ofereçam água dentro de padrões internacionais de potabilidade.

O rejeito da Barragem do Fundão é composto essencialmente de ferro, manganês, alumínio e sílica (areia). Contudo, o poder de destruição da onda de rejeitos fez com que ela revolvesse o fundo dos rios atingidos (Gualaxo do Norte, Carmo e Doce), onde estavam sedimentados produtos de atividades mineradoras centenárias. Isso fez com que materiais como arsênio e mercúrio aparecessem nas amostragens de água e de solo, o que demanda atenção especial de monitoramento, mesmo que hoje os materiais estejam em níveis considerados baixos.

Estações de monitoramento da qualidade da água

Hoje o Rio Doce é o “mais monitorado do Brasil”. Nos últimos dois anos foram coletados mais de seis milhões de dados em 92 pontos de monitoramento ao longo do rio e de seus afluentes de Mariana até à foz, além dos estuários e litoral da costa do Espírito Santo.

A qualidade da água do Rio Doce já está em níveis semelhantes ao período anterior ao desastre. Essa conclusão é baseada na análise das informações levantadas e enviadas a órgãos ambientais que participam do Grupo Técnico de Acompanhamento, ligado ao Comitê Interfederativo (CIF), instância externa da Fundação Renova , com a função de orientar, acompanhar, monitorar e fiscalizar a execução das medidas de reparação. Participam desse trabalho a Agência Nacional de Águas (ANA), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) e Agência Estadual de Recursos Hídricos do Espírito Santo (Agerh). A água do Rio Doce pode ser consumida, contanto que receba o devido tratamento como ocorre em outros rios do país.

Técnicas de naturalização, que cria ambientes propícios para a recomposição biológica dos rios.

Inovação, Parcerias e Natureza

Para a recuperação ambiental dos rios e a volta da biodiversidade umas das técnicas aplicadas é chamada de renaturalização. Ela consiste na colocação de troncos ou feixes de troncos nos trechos de curvas dos rios e contribuem para diminuir a velocidade da água, reduzindo, assim, a possibilidade de erosão e facilitando a reprodução de peixes nesses locais, pois retêm matéria orgânica que serve como alimento e abrigo para várias espécies. Esse trabalho está sendo realizado pela empresa de serviços ambientais Aplysia, em dois trechos do rio Gualaxo do Norte.

“O principal objetivo do projeto de renaturalização é criar ambientes para o restabelecimento dos organismos aquáticos utilizando elementos naturais, iguais aos já encontrados nesse ecossistema”, explica Fernando Aquinoga, diretor técnico da Aplysia. Segundo os especialistas, os primeiros resultados são imediatos, mas o efetivo retorno da biodiversidade no trecho de 2 km em que foi realizado o trabalho se dará num prazo entre seis meses e um ano.

Em paralelo, outra ação importante: a instalação da Estação de Tratamento Natural (ETN) será realizada em parceria com uma startup de Mariana, a LiaMarinha. Essa estação é diferente das tradicionais que usam produtos químicos, pois utiliza barreiras semipermeáveis e ilhas de vegetação que ajudam a filtrar a água e absorver metais. Assim, a água que chega ao rio Doce terá mais qualidade. A estação será implantada após o licenciamento ambiental e os primeiros resultados são aguardados para fevereiro de 2021.

Também está em desenvolvimento o Programa de Recuperação das Nascentes , que é realizado em diversos locais da Bacia do Rio Doce.  O objetivo é restaurar cinco mil em 10 anos, sendo que no momento 1.554 nascentes estão em processo de recuperação. Para dar conta de atingir esse número expressivo a Fundação Renova conta com a parceria e colaboração de cerca de 450 produtores rurais.

Nova adutora de 35 quilômetros para levar água a Governado Vladares.

E falando em Governador Valadares…

Uma nova adutora com 35 quilômetros de extensão começou a ser construída captando água do Rio Corrente e servindo, assim, como alternativa à captação que é feita no Rio Doce. A previsão é de que essa nova captação e distribuição esteja operacional no primeiro trimestre de 2021. “Nosso compromisso é conseguir que essa adutora abasteça 60% do município e sirva de alternativa a hospitais, escolas e serviços básicos em caso de alguma nova interrupção [na captação do] Rio Doce”, diz o analista de programas socioambientais para a água da Renova, Thales Teixeira. Também foram modernizadas cinco estações de tratamento de água (ETAs) .

“Agora, caminhamos para que a nova adutora em paralelo com as ações para redução do desperdício da água tratada garanta o abastecimento total da cidade, deixando o Rio Doce descansar, ficando como reserva de segurança hídrica”, espera o prefeito Merlo, e completa, “uma cidade com 300 mil habitantes não pode ficar dependente apenas de uma fonte de abastecimento”, explica.

Saneamento Básico novo em folha

A realidade do saneamento básico na região antes do desastre era dramática e o rompimento da barragem só a fez agravar. O próprio o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (CBHDoce) já registrava que 80% de todo o esgoto gerado pelas cidades afetadas não recebiam qualquer tratamento e continuam sendo despejados in natura diretamente no rio. No entanto, como medida compensatória, a Fundação Renova disponibiliza R$ 500 milhões para projetos de coleta e tratamento de esgoto nos municípios impactados pelo rejeito. Está inclusa nessa ação a correta disposição de resíduos sólidos.

Rios saudáveis, água boa e de qualidade e um meio ambiente equilibrado é o que todos nós também esperamos! Vamos acompanhar!!

(#Envolverde)