Ambiente

O Monstro do Lago, a insensatez social e ambiental das marcas globais na Amazônia

por Patrícia Kalil, especial para a Envolverde – 

O lançamento para a imprensa da nova geração da SUV Discovery (Land Rover), foi na Amazônia, em Alter do Chão. A vila parou por uma semana. Era evento lá e acolá, com o clímax sendo fazer surgir o quatro por quatro flutuando, sozinho, dentro do Rio Tapajós, na hora do pôr-do-Sol, na ponta do Cururu, e o encerramento, agora mais ambientado, sendo um show na praia, ao vivo, com o mestre Chico Malta, num palco com equipamento profissional de luz e som, numa festa quase privada, não fosse o fato de praia ser área pública. E aí eu que não sou jornalista de automóvel e nem tenho entre minhas ambições gastar 400 mil num carro para me levar de ponto A para ponto B com meu cachorro, faço três perguntas:

1. LAND ROVER UK, LAND ROVER BR, agência de publicidade, produção e jornalistas convidados, com o crescente desmatamento na Amazônia, com a Noruega e a Alemanha pressionando o governo brasileiro para voltar a proteger o bioma, você faz o lançamento de um carro no meio da floresta e não faz nenhum comentário sobre a importância da Amazônia?

2. Se a ideia era mostrar o potencial do carro todo-terreno, não parece uma aberração fazer um carro surgir do rio que está ameaçado por grandes empreendimentos, numa profundidade que claramente o carro não pode andar? Ninguém pensou em cruzar com esses jornalistas aventureiros a TransAmazônica para mostrar todo o potencial do carro e ainda contar um pouco de história para que as reportagens tivessem abordagens diversas, sem ser somente uma cópia de release de automóvel?

3. Uma vila na Amazônia pode ser usada assim como cenário de uma empresa do porte da Land Rover sem que essa se responsabilize em pelo menos fazer algo de bom pela vila? Nem que fosse distribuir lixeiras Land Rover da última geração pela praia ou ainda, no mínimo, convidar a vila para tão agradável show na praia?

*Patrícia Kalil é jornalista, trabalhou em grandes veículos de comunicação no Brasil e no exterior e decidiu se dedicar à cobertura dos temas relevantes da preservação da floresta e das tradições das populações ribeirinhas. Atualmente seu trabalho pode ser acompanhado na página “Árvore, ser tecnológico”, no Facebook: https://www.facebook.com/arvoresertecnologico/