O Muriqui do Norte, o primata ameaçado

Pela primeira vez, uma rede de 8000 pesquisadores ligados à União Internacional de Conservação da Natureza, compilou uma lista das 100 espécies de animais, plantas e fungos mais ameaçados de extinção no mundo.

Da lista constam cinco espécies brasileiras: o soldadinho-do-Araripe, ave encontrada apenas numa área de 28 km2, na Chapada do Araripe, no Ceará. A Preá “Cavia intermedia”, considerada a espécie de mamífero mais rara do mundo, com uma população de cerca de 60 espécimes. Só existe nas Ilhas Moleques do Sul, arquipélago próximo a Florianópolis, em Santa Catarina. O Muriqui-do-Norte, ou Mono Carvoeiro “Brachyteles arachnoides” o maior primata das Américas, endêmico da Mata Atlântica. A borboleta “Actinote zikani”, espécie das áreas próximas à serra do mar, na Mata Atlântica. A borboleta “Parides burchellanus”, espécie do Cerrado.

Qual a importância de termos cinco espécies nesta lista? Primeiro, é uma indicação forte de como o desmatamento, as queimadas, a caça e a captura ilegais têm destruído nossas espécies. Segundo, a importância da biodiversidade brasileira. Nós temos a maior biodiversidade terrestre/florestal do mundo. A Indonésia tem a maior biodiversidade marinha. Nós temos o maior número de espécie de macacos (primatas) no mundo e o mais ameaçado é o maior deles, o maior das Américas, o Muriqui do Norte ou Mono Carvoeiro, espécie endêmica da Mata Atlântica.

Eu conheço bem essa espécie. Míriam Leitão e eu fizemos uma reportagem em co-autoria, publicada simultaneamente em O Globo e O Eco sobre uma população que vem sendo estudada pela primatologista Karen Strier, da universidade de Wisconsin, há 30 anos.

Por causa de seus estudos sobre os Muriquis Karen foi eleita para a Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos. Ela mudou os conceitos da primatologia tradicional sobre o comportamento social dos primatas, que era baseada nos primatas do velho mundo, da África, os primeiros a serem estudados. Seus estudos sobre a nutrição desses primatas, que são vegetarianos e muito exigentes – só comem determinadas folhas, sementes, raízes e flores da Mata Atlântica – pode ter muita importância para a nutrição humana e para a farmacologia, pois eles se tratam também com espécies da Mata Atlântica.

Meu comentário sobre o tema na CBN está aqui.

* Publicado originalmente no site Ecopolítica.