por Samyra Crespo –
Feliz, como todo ativista, claro, com o discurso do presidente eleito Lula na COP 2, a ser empossado proximamente. Ele cumpriu as expectativas: o Brasil está novamente no tabuleiro do xadrez das políticas climáticas globais.
O mundo espera a redução do desmatamento. Nós brasileiros esperamos mais do que isso. Esperamos que o novo governo pise no acelerador do desenvolvimento sustentável: neste front está uma revolução no agro responsável e um combate feroz à fome e à pobreza, com a chamada segurança alimentar. Neste front, está ainda o compromisso com a transição energética.
E se estamos falando de bem estar da população, não dá para ignorar a dívida histórica com a questão do saneamento (lixo, esgoto e água potável).
Um quarto ftont pode ser resumido na expressão “produção e consumo sustentável” – engajar consumidores e empresas em um plano realista de mudanças no modelo de produção e nos hábitos de consumo. Cada um desses fronts merece linhas e linhas de descrição, propostas, encaminhamentos.
Haverá dinheiro e disposição para todos estes enfrentamentos?
A PEC da transição, em tramitação, vai indicar se haverá fôlego financeiro para o governo decolar.
Bolsonaro atuou claramente violando o teto de gastos. Gastou em quatro anos mais de 400 bilhões extra-orçamento.
Agora bolsonaristas – na oposição ou no seu ‘Brasil paralelo’, se mostram escandalizados… são patéticos.
Haverá consenso político para arranjos institucionais que fortaleçam as políticas ambientais?
É só lembrarmos, e o governo Lula saber traduzir em nomeações e ações concretas – que não foi o PT nem os esquerdistas da ‘Frente’ que ganharam as eleições. Deverá ser um governo plural e pluralista.
Então, no que diz respeito à área ambiental, não é a volta da ‘tchurma’ dos marinistas ou deste ou daquela pessoas, coroada ou não.
Deverá prevalecer a sabedoria de entender que não estamos em 2003 e que há interesses a acomodar. Nesse novo contexto, onde tudo ainda depende de uma estabilidade, e uma viabilidade a serem criadas,
o discurso de um governador como Helder Barbalho, tem tanto valor quanto de um petista puro sangue.
Para um bom entendedor, o que estou sugerindo – ou escancarando, basta.
Neste momento, a euforia de ouvir na tribuna da COP 27 alguém como Lula, inebria.
Mas logo cairemos na real – e entre as duras tarefas à frente está não só combater o ressentimento dos perdedores, mas conter os arrulhos incômodos e previsíveis da nossa própria ‘patrulha ‘, da esquerda, sempre pronta para alfinetar e azedar as alianças necessárias.
Samyra Crespo é cientista social, ambientalista e pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins e coordenou durante 20 anos o estudo “O que os Brasileiros pensam do Meio Ambiente”. Foi vice-presidente do Conselho do Greenpeace de 2006-2008.