Atuar na gestão de operação de uma grande indústria sempre foi uma atividade desafiadora e que exige a capacidade de equilibrar diversos fatores para entregar os melhores produtos ao consumidor ao mesmo tempo em que se garante o sucesso dos negócios. No entanto, além de avaliar a saúde financeira das plantas, a capacidade produtiva, os processos de segurança e o engajamento e desempenho dos colaboradores, hoje, mais do que nunca, é preciso ter como pilares fundamentais a sustentabilidade e o cuidado com o meio ambiente.
É um fato que o consumidor se importa cada vez mais com os impactos ambientais gerados pelos produtos que consome e qualquer empresa que quer atender aos anseios dos seus clientes já entende a importância de colocar esse tema em pauta. Mas, além de trazer uma resposta ao consumidor, a indústria precisa ter um comprometimento genuíno com a sustentabilidade e entender que cuidar do ambiente em que está inserida também é fundamental para a sobrevivência das empresas a longo prazo.
Dentro desse cenário, identificar soluções mais responsáveis e que contribuam para preservar o meio ambiente é papel da liderança de operações e um tema que é pertinente em todos os segmentos da indústria é a destinação do excedente produtivo. Focar em uma meta de Aterro Zero já é um excelente passo rumo a um processo produtivo cada vez mais “limpo”. Em poucas palavras, é tornar 100% de todos os resíduos gerados na produção local reaproveitados de alguma forma, fazendo com que a operação não descarte mais nenhum excedente em aterros sanitários.
De acordo a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que disciplina sua destinação no país, os aterros sanitários devem ser utilizados para destinação final apenas quando todas as outras possibilidades de reaproveitamento forem esgotadas. Seguindo essa lógica, é preciso que o processo para a destinação sustentável passe por análise criteriosa buscando o potencial máximo de reaproveitamento, assim como um estudo de possíveis receptores e transportadores para os resíduos.
Quando se pensa em um uma indústria de bens de consumo e higiene pessoal, por exemplo, vemos que é sim possível encontrar uma solução viável e proveitosa para todo o excedente produtivo das fábricas. Contato com parceiros de peso e especializados em economia circular, vemos que a polpa de celulose que sobra no processo pode ser transformada em tapete para animais de estimação e o plástico remanescente passa a ter vida útil ao ser usado na fabricação de utensílios como vassouras, pás e cabides. O mesmo acontece com sobras de matérias primas de produtos como lenços umedecidos, que viram palmilha de sapato, enquanto o lenço seco se transforma em enchimentos, como pelúcia.
Vidro, sucata metálica, papel e papelão também são reciclados, assim como os resíduos da produção de produtos como fraldas, que podem virar desde madeira plástica até combustível. Todo material de entulho toma nova forma como material de construção, se transformando em areia e pedras, por exemplo.
Quando falamos de matéria orgânica gerada pela operação, que vai desde sobras do refeitório até os resíduos de jardinagem, um equipamento tem papel fundamental – a composteira, que, diariamente, tem potencial para transformar matéria orgânica em adubo. Já os excedentes não recicláveis, por sua vez, podem ser encaminhados para um coprocessamento, isto é, queima ambientalmente controlada e com aproveitamento da energia gerada.
Esses são alguns exemplos que mostram que é possível encontrar alternativas de destinação adequada para diversos tipos de resíduos e, em algumas indústrias, para 100% deles. Seguir esse caminho e se tornar um uma organização com a chancela de aterro zero significa reforçar o compromisso de estar próximo às novas demandas do mercado e dos próprios consumidores.
E, mais do que isso, pensar no meio ambiente é pensar em um futuro mais seguro e confortável para as pessoas e, consequentemente, em um ambiente de negócios saudável e promissor para as empresas. Ou, indo mais longe, pode significar pensar em um futuro possível ao fazermos o seguinte questionamento: como continuar explorando recursos naturais de maneira irresponsável quando eles funcionam como insumo fundamental para a produção do seu próprio produto?
É preciso pensar nisso de forma urgente e entender que se a sociedade ganha, as empresas ganham também. Comprometimento com a sustentabilidade é uma questão de estratégica competitiva e pode garantir a perenidade de um negócio.
*Sérgio Montanha iniciou sua carreira em 1997 na Kimberly-Clark como estagiário no departamento de Conversão da Usina Cruzeiro. Dois anos depois, tornou-se funcionário regular como Analista de Produção e após um período de quatro meses na Bahia, retornou a Usina Cruzeiro como Supervisor de Produção. Em 2006, foi promovido a Gerente da fábrica e um ano depois, assumiu o cargo de Gerente de Inovação para a categoria de produtos de cuidados para casa e família. Em 2009, passou a liderar as unidades fabris de Mogi das Cruzes e Suzano. E desde 2014 até o momento, Sérgio ocupa a posição de Diretor de Operações no Brasil. Sérgio Henrique Montanha é graduado em Engenharia Química com MBA em Gestão pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e formação em Advanced Certification Executive no MIT.