por Samyra Crespo, especial para a ECO21 #midiasambientais –
Há poucos dias foi aniversário do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, 212 anos. Tive a honra de presidir esta importante instituição de pesquisa por três anos (2013-2016), sendo substituída por outro ambientalista, o economista Sergio Besserman, no Governo Temer, que lá permaneceu até o início deste ano.
O Jardim Botânico é um dos pontos recreacionais e turísticos preferidos dos cariocas, e brasileiros de um modo geral, só perdendo para o Cristo Redentor em número de visitantes quando saí – fato comprovado por pesquisas.
Está entre os top-ten dos jardins históricos do mundo e consta como um dos lugares mais interessantes a serem conhecidos em todos os guias turísticos do Brasil.
Mas à parte estes importantes atributos do Jardim – paisagístico, recreacional e turístico- a maioria de nós desconhece a magnitude da relevância científica da instituição.
O Jardim Botânico faz, principalmente, a coleta, descrição e classificação de espécies botânicas da flora brasileira. Tem uma escola conceituada na formação de novos botânicos e participa de um dos projetos mais prestigiados do planeta – o FLORAMUNDO – que junto com os mais importantes jardins científicos de outros países, disponibiliza o maior banco de dados on line sobre a flora existente na biota terrestre.
Além desse, o Jardim é responsável pela edição da Red List – o Livro Vermelho das Espécies Ameaçadas de Extinção – sob a coordenação do pesquisador mais antigo da Instituição – Gustavo Martinelli, botânico premiado (foi laureado com o prêmio Jabuti de 2015), respeitado no mundo inteiro. Ele criou e comanda o CNC-FLora com uma equipe que ele recrutou e treinou. Representa o Brasil em vários organismos cientificos internacionais.
O Centro, junto com a coleção botânica – a mais significativa em qualidade e quantidade do País – é o coração da pesquisa do Jardim.
A publicação da Red List brasileira serve de base para todo o trabalho da conservação botânica do Ministério do Meio Ambiente, dos Estados e Municípios. É um serviço que o Jardim presta à sociedade brasileira e à comunidade científica.
Por isso, fiquei bastante preocupada quando perguntei ao Martinelli, recentemente, sobre a atualização periódica do Livro Vermelho. Segundo o pesquisador, repito um dos mais importantes do nosso País, o MMA que era o receptor natural da Lista – para então lançar suas diretrizes de conservação, simplesmente criou um vácuo ao desmantelar a Secretaria Nacional de Biodiversidade e Florestas.
Com isto, o importante trabalho realizado no Jardim Botânico só não fica à deriva porque a comunidade científica é maior e mais orgânica que as instituições nacionais.
Bastante receoso com os rumos do Jardim, agora sob nova direção e sob a influência direta do demolidor da política ambiental – Ministro *sic Ricardo Salles – Martinelli se diz cansado, temeroso de que anos de pesquisa sejam desperdiçados.
As listas de espécies tanto botânicas quanto animais ameaçadas de extinção, são cruciais para os licenciamentos, e para os trabalhos regenerativos que os profissionais da conservação fazem. Sem elas, somos cegos em relação ao empobrecimento ou erosão genética dos nossos ecossistemas.
Dou aqui um alerta vermelho – sem trocadilho – para o que possa ocorrer com a pesquisa científica do Jardim.
Diante da perda dramática de vegetação – em todos os biomas, nos dias correntes, mais do que nunca precisamos de botânicos dedicados e de centros proficientes como o CNC-FLora.
Samyra Crespo é cientista social, ambientalista e pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins e coordenou durante 20 anos o estudo “O que os Brasileiros pensam do Meio Ambiente”. Foi vice-presidente do Conselho do Greenpeace de 2006-2008.
Este texto faz parte da série quinzenal que escrevo para a revista on line Eco-21.