Por Liliane Rocha*
O que a arte expressa nem mil palavras podem significar comunicar ou refletir. Portando esse artigo é mais uma emoção exposta, latente, gritando, do que um pensamento linear. Estou falando do filme “A Garota Dinamarquesa”, Cinebiografia de Lili Elbe, Vejle, Dinamarca, 28 de dezembro de 1882, que nasceu Einar Mogens Wegener e foi uma das primeiras pessoas a se submeter a uma cirurgia de mudança de sexo. Em foco o seu relacionamento amoroso com a pintora dinamarquesa Gerda e sua descoberta como mulher quando sua esposa pede para que ele pose para retratos femininos quando uma modelo falta na década de 20. Sua esposa aceita a cirurgia, mas percebe que perdeu a pessoa com quem se casou.
A personagem nos faz refletir sobre a transexualidade que refere-se à condição do indivíduo que possui uma identidade de gênero diferente da designada ao nascimento e apresenta uma sensação de desconforto ou impropriedade em relação ao seu sexo anatômico, manifestando o desejo de viver e ser aceito como sendo do sexo oposto. E fala sobre a intervenção médica, terapia de reposição hormonal e cirurgia de redesignação sexual.
A história faz pensar no abismo de desconhecimento sobre está questão que há na sociedade e como desconhecemos as diversas faces do ser humano. De Lili Ebe até a atualidade já foram 132 anos e mesmo assim pouco ainda se entende ou debate a transexualidade. Para a massa da população o estranhamento em relação a este tema ainda é geral. E mesmo dentro do próprio ciclo LGBT pouco ainda se fala ou se debate o assunto.
O Brasil amarga o posto de ser o país que mais mata travestis e transexuais. Entre janeiro de 2008 e março de 2014, foram registradas 604 mortes no país, segundo pesquisa da organização não governamental (ONG) Transgender Europe (TGEU), rede europeia de organizações que apoiam os direitos da população transgênero. Isto entre os casos catalogados. Sabemos que estes números certamente são muito maiores.
Estudos também apontam que no Brasil 90% das travestis e transexuais estão na prostituição. Índice que mostra o preconceito fortíssimo no mercado de trabalho.
Para ajudar a entender melhor, vamos falamos um pouco deste vocabulário. A referência conceitual adotada aqui é a do movimento LGBT, presente no documento Princípios de Yogyakarta, define assim: Orientação sexual: refere-se à atração emocional, afetiva ou sexual que uma pessoa sente por outra de gênero diferente, do mesmo gênero ou de mais de um gênero. O tema e os conceitos na perspectiva histórica e política Identidade de gênero: é a experiência individual do gênero de cada pessoa, que pode ou não corresponder ao sexo atribuído no nascimento. Inclui o sentimento em relação ao seu corpo, que pode, por livre escolha, envolver a modificação da sua aparência ou função corporal por meios médicos ou cirúrgicos, por exemplo. Além disso, pode envolver outras expressões de gênero, como vestimenta, modo de falar e maneirismos.
A tabelinha abaixo pode ajudar:
A sociedade em geral tem neste tema um tabu, mas a verdade e que ele não só está batendo a porta, como já entrou na casa, sentou no sofá e demanda diálogo. Quando falarmos da transexualidadeos gargalos são infinitos. A cabeça das pessoas dá um nó com as perguntas mais simples. Usa-se o nome de registro ou o nome social? Esse(a) profissional vai no banheiro masculino ou feminino? Contrato a Maria, a profissional sai de férias, e volta o João? A temática que pode dar nó na cabeça dos profissionais de Recursos Humanos de uma empresa deve ser debatida e planejada. Adianto que a empresa deve utilizar o nome social e que o banheiro utilizado será referente a identidade de gênero adotado pelo(a) profissional em questão.
Neste sentido filmes como “A Garota Dinamarquesa”, Tomboy, “Meninos não choram”, a “Pele que hábito”, entre muitos outros, vão aos poucos mudando os paradigmas e colocando o tema cada vez mais na pauta. As redes sociais também contribuem nesse processo. Recentemente um esquema há muitos anos conhecido pela comunidade LGBT foi simplificado e começou a circular.
A vida segue seu fluxo de forma vertiginosa. Mudanças, sempre aconteceram, mas nunca de forma tão veloz. Para você e pra mim restam dois caminhos. Avançar, evoluir, ampliar o entendimento e a consciência. Ou ficar obsoletos, diante dos fatos da sociedade e das realidades que sempre existiram e sempre existirão. (#Envolverde)
* Liliane Rocha é diretora Executiva da empresa Gestão Kairós (www.gestaokairos.com.br), mestranda em Políticas Públicas pela Fundação Getúlio Vargas, MBA Executivo em Gestão da Sustentabilidade na FGV, Extensão de Gestão Responsável para Sustentabilidade pela Fundação Dom Cabral, graduada em Relações Públicas na Cásper Líbero. Gestora com 11 anos de experiência na área de Responsabilidade Social tendo trabalhado em empresas de grande porte – tais como Philips, Banco Real-Santander, Walmart e Grupo Votorantim. Escreve mensalmente para Envolverde sobre Diversidade e Sustentabilidade.