Seja que dimensão ocupar, planejamento é um método de trabalho por meio do qual você se prepara melhor para o que vier a acontecer, sem improvisações que tanto podem ser acertadas ou levar a naufrágios financeiros.
A validade do planejamento clássico já expirou. Planejar com referência no passado não nos ajuda em nada frente aos desafios dos novos tempos, marcados por mudanças tão rápidas, difíceis de acompanhar. O planejamento tradicional é pautado no que já é conhecido e no que já aconteceu.
O planejamento prospectivo, por sua vez, faz ampliar a visão sobre a realidade, levando indivíduos e organizações a olharem adiante, num futuro bem mais amplo. Apesar de ser um horizonte desconhecido, uma vez que chegamos nele através da imaginação, conseguimos visualizar caminhos novos e muito mais criativos.
Esse novo olhar é a essência da prospectiva estratégica, modelo de inovação que oferece um imenso repertório de ideias e possibilidades para mudar na direção mais adequada à era das organizações exponenciais. Bem além de responder aos desafios atuais, a prospectiva estratégica capacita o indivíduo a se preparar para as mudanças e também antecipar-se a elas.
A prospectiva estratégica, que desde o ano passado tenho definido como futurismo aplicado, representa a reinvenção do planejamento, voltado à gestão de negócios, desenvolvimento pessoal, inovação de produtos e serviços.
Tem sido adotada por organizações que operam mudanças disruptivas. Tem origem nos Estados Unidos (na década de 60) e na Europa nos anos 70 e hoje representa a vanguarda do pensamento estratégico.
É preciso planejar olhando para o que ainda não aconteceu
Nessa década de mudança exponencial, planejar com base no que você já viu acontecer, não basta. É preciso planejar olhando para o que ainda não aconteceu e nem foi visto. Essa é a nova linha de planejamento que tem utilidade para os novos modelos de negócios.
Há os que questionam o valor do planejamento na órbita dos modelos exponenciais. Que serventia tem planejar numa época em que as regras do jogo são cada vez mais mutantes? Se tudo muda a cada momento, então, de que adiante olhar para o amanhã infinito? Porque é na direção do infinito que caminhamos em busca de novos horizontes.
Outra fator que faz com que os novos negócios invalidem o planejamento é a necessidade de improvisar, de dançar no ritmo do momento. E essa dança não conversa bem com limites: é uma dança livre, sem muito ensaio. Nesse contexto, planejamento acaba impondo limites para a improvisação, que é o gingado estratégico desses novos modelos.
O planejamento clássico perdeu seu valor
Pivotagem, prototipagem, experimentação, improvisação são condições do atual ambiente de negócios tal qual estabelecem as cartilhas das startups. Nesse caso, sim, o planejamento perdeu seu valor, mas estou falando aqui do planejamento clássico, já explicado. Mas o planejamento prospectivo, aquele que abraça o futuro como princípio de inovação no presente, é fundamental para trazer robustez ao negócio, seja ele de qualquer natureza.
Olhar para o futuro, ver o que é possível, plausível, provável e preferível, fará toda a diferença para a vitalidade de um empreendimento. Segundo a Fundação Dom Cabral, 25% das startups morrem em menos de um ano, 50% fracassam em menos de quatro anos por falta de planejamento.
Seja qual for o desafio imposto pela mudança, não se deve confundir planejamento estratégico com planejamento prospectivo estratégico. O planejamento prospectivo atua como o nutriente básico para a criação de um negócio prospectivo. Em vez de projetar o passado ele te possibilita antecipar o futuro, e isso determina em grande parte o destino de um negócio.
É total contrassenso querer ser disuptivo sem olhar para o imaginário do futuro e sem entrar no território do desconhecido. Peter Drucker explicava como acertava quase sempre em suas apostas que o consagraram como o grande gênio da administração moderna: ele olhava pela janela, via o que era visível mas que ainda ninguém tinha visto. Esse é o desafio para quem deseja inovar: ver o que é visível mas que ainda ninguém viu. Para isso existe o futurismo aplicado: ensinar como captar os sinais da mudança.
Os empreendedores e executivos que não adotarem esse novo modelo de planejamento vão poder inovar por pouco tempo. Inovar não é fazer projeção do que já foi: é antecipar o que ainda está por vir. As empresas que não criarem ambientes propícios para o exercício do imaginário, irão perder o seu lugar no futuro que já chegou.
A prospectiva estratégica conecta o passado com o futuro fazendo o presente ficar mais longo e fértil para a inovação. Sem conexões complexas, profundas e amplas é bem possível que a inovação nasça atrofiada. Nesse caso vai precisar de um planejamento vitaminado: aquele que aplica o futurismo.
Rosa Alegria é vice-presidente e co-fundadora do NEF Núcleo de Estudos do Futuro da PUC-SP, diretora-fundadora da PERSPEKTIVA – consultoria especializada em pesquisa de tendências, desenvolvimento de cenários e criação de estratégias. Faz parte do comitê científico do Estudo Prospectivo Millennia 2015 – projeções, tendências e cenários sobre o futuro da mulher) do qual foi idealizadora e é coordenado pelo Instituto Destrée (Bélgica).