Por Leno F. Silva*
Assisti “Aquarius” no primeiro dia em que o filme de Kleber Mendonça Filho entrou em cartaz. Tinha visto o trailer apenas uma vez, e depois de toda a visibilidade que ele ganhou pela forma com que o elenco se posicionou contra o Golpe, em Cannes, minha curiosidade aumentou.
A especulação imobiliária é o principal ponto de tensão, mas a fita trata de histórias de vida: relacionamentos, conflitos, problema de saúde, desigualdade social, poder e de convicções, costuradas nos 35 anos de mudanças pelas quais passaram a personagem Clara, que nas partes 2 e 3 da obra são maravilhosamente interpretadas por Sonia Braga.
Fiquei com a impressão de que o papel foi escrito para ela: uma mulher independente, que já passou dos 60 anos, circula pelo bairro a pé, mora sozinha no apartamento que adora porque lá tem tudo o que precisa para viver bem.
Quase não percebi as mais de duas horas de projeção. Fui levado a percorrer situações diversas muito semelhantes as que vivemos todos os dias, e já me cativei logo no início com a escolha da música “Hoje”, cantada por Taiguara, que me fez relembrar dos anos 1980 e das lutas pela redemocratização do Brasil.
Deixei a sala de cinema agradecido pelo que acabara de ver: um roteiro primoroso, uma trama envolvente; diálogos maduros, uma trupe de atores muito competentes, e uma direção precisa. E para a minha alegria, a canção do começo é a mesma do encerramento. Faz sentido, porque o que precisamos enfrentar para a construção de um Estado verdadeiramente democrático ainda persiste. Por aqui, fico. Até a próxima.
Serviço:
Título: Aquarius
Direção: Kleber Mendonça Filho
Elenco: Sonia Braga, Maeve Jinkings, Irandhir Santos
Nacionalidades: Brasil, França
Duração: 2h25min
https://www.youtube.com/watch?v=mTnBvu1vZKk
(#Envolverde)
* Leno F. Silva escreve semanalmente para Envolverde. É sócio-diretor da LENOorb – Negócios para um mundo em transformação e conselheiro do Museu Afro Brasil. É diretor do IBD – Instituto Brasileiro da Diversidade, membro-fundador da Abraps – Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade, e da Kultafro – rede de empreendedores, artistas e produtores de cultura negra. Foi diretor executivo de sustentabilidade da ANEFAC – Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade. Editou 60 Impressões da Terça, 2003, Editora Porto Calendário e 93 Impressões da Terça, 2005, Editora Peirópolis, livros de crônicas.