Diversos

As esperanças vãs

por Samyra Crespo* – 

São muitas hoje em dia, mas vou me ater a três, óbvias e de grande impacto.

A primeira diz respeito à suposta “renovação do Congresso” em 2018. Se houve, foi para pior: permitiu a ascensão de Arthur Lira e o centrão autista (porque descolado dos anseios da sociedade) e fisiológico (refém de lobbies e sedento de cargos/verbas). Atualmente reina despudorado. Saudades do Maia. Ontem aprovou – a toque de caixa – o PL da grilagem, que premia os grileiros, desmatadores e garimpeiros ilegais que invadiram terras públicas e áreas indígenas. Uma vergonha!!!

Para não falar da ‘reforma’ que está transformando os trabalhadores do País em subempregados, turbinando o fenômeno alcunhado de “uberização” da força de trabalho. E o que dizer do aumento do Fundo Partidário? Indecente. A esquerda, minoria, está bloqueada.

Regras novas aprovadas pelo Senhor Lira impedem a obstrução, um dos poucos mecanismos que impedia o tratoramento nas votações.

A segunda esperança vã: a saída de Salles, solicitada desde que ficou evidente sua aliança com as forças retrógradas do agrobusiness e madeireiros, não adiantou nada. Bulhufas. O ‘novo’ ministro é mais discreto, mas toca a banda do mesmo jeito. E o licenciamento ambiental está indo para o ralo, o CONAMA amputado e reduzido a ‘sim senhor, não senhor’; a fusão do Ibama com o ICMbio continua a ser ‘estudada’ por baixo dos panos.

Sem mencionar o fato de que a política florestal migrou para a cova do lobo, ou seja para o Ministério da Agricultura.
A terceira esperança residia na pressão de dentro para fora: organismos internacionais, celebridades, governos como o da Alemanha, França, Estados unidos pós Trump; não surtiu nenhum efeito até agora.

A politica internacional isolacionista do atual governo pouco se incomoda com a nossa imagem externa. Costuma enviar funcionários que leem nos fóruns internacionais mentiras, sacam falsos dados e fazem promessas que não irão cumprir.

Isso se aplica à Amazônia, por exemplo, quando Mourão, vice presidente, reconhece que o Brasil não cumprirá as metas de redução do desmatamento.

Assistiremos até o próximo ano, impotentes, este ritmo acelerado de destruição do patrimônio ambiental do País. E para que? Para quem? Fortunas estão sendo ilegalmente amealhadas. Riqueza fundiária ilegítima. Apropriação indébita de recursos públicos.

Com essas esperanças frustradas, só posso terminar este meu relato indignado com uma conclusão: é cada vez mais crucial afastar Bolsonaro e sua base do poder: pelo impeachment ou pelo voto.

Com ele, nenhuma esperança de melhora irá prosperar.

*Samyra Crespo é cientista social, ambientalista e pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins e coordenou durante 20 anos o estudo “O que os Brasileiros pensam do Meio Ambiente”. Foi vice-presidente do Conselho do Greenpeace de 2006-2008.
(#Envolverde)